Regina Duarte catando papelão nas ruas lembra uma de suas melhores personagens
Com telas em duas exposições, atriz mostra arte com ressignificação de elementos da natureza em nova carreira apoiada por fãs
Hostilizada pela maioria dos colegas da classe artística em razão de seu apoio a Jair Bolsonaro e às pautas da direita, Regina Duarte precisou se reinventar. A atriz se assumiu como artista plástica.
A dedicação às telas não é recente. Ela sempre pintou. Em 2013, algumas obras fizeram parte de um leilão beneficente no Memorial da América Latina, em São Paulo, em prol das Casas André Luiz, respeitada entidade que atende pessoas com diferentes deficiências.
Naquele evento foram leiloados também figurinos doados por Regina. Havia peças usadas por ela ao interpretar Maria do Carmo, a protagonista de ‘Rainha da Sucata’, novela de sucesso exibida na faixa das 21h da Globo em 1990.
A personagem permite fazer um paralelo com o momento vivido agora pela atriz. A certa altura da trama, a empresária perde tudo e se vê dirigindo um caminhão antigo nas ruas. “Sucateira! Fogão velho, geladeira, peça de motor, sucateira!”, gritava para atrair clientes.
Assim como Maria do Carmo precisou dar a cara a tapa para superar um golpe, Regina Duarte teve de encontrar um novo rumo nas artes por não receber convites da TV e ser rejeitada por autores de teatro ao tentar voltar aos palcos.
Uma das mais aclamadas atrizes do país sofre uma espécie de banimento desde que saiu da Globo, no início de 2020, para trabalhar como secretária de Cultura no governo Bolsonaro. A incursão na política durou menos de três meses.
Em seu ateliê, Regina produz telas com folhas secas, cascas de árvores e outros materiais orgânicos. Às vezes, ela usa como base o papelão. As fotos em que aparece recolhendo caixas nas ruas de São Paulo viralizaram após ganhar contexto equivocado.
Não, a atriz não ficou pobre. Apenas recolhe o que viraria lixo para transformar em arte com forte significado ecológico. Poderia enviar um assistente às ruas, mas, em gesto de desprendimento, vai ela mesma em busca da matéria-prima. E ainda brinca com a situação - aliás, a autoironia é uma virtude admirável.
Sua primeira exposição, intitulada ‘A Natureza e Eu: Novas Descobertas’, pode ser visitada na loja Aqua Arte, no bairro de Moema, zona sul de São Paulo.
Telas da atriz estão também na ‘Mostra de Arte Contemporânea Alegria’ no Centro Brasileiro Britânico, em Pinheiros, na zona oeste da capital, até 10 de dezembro.
Em sinal de prestígio, Regina Duarte foi escalada com nomes consagrados das artes plásticas brasileiras, como Antonio Peticov, Alina Fonteneau e Cássio Lázaro. Apoiada por fãs e amigos, ela parece feliz na nova carreira.
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