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"Todo rapper é um contador de histórias", diz Mano Brown

Artista deu detalhes das entrevistas do 'Mano a Mano' e falou sobre a evolução do hip-hop no Brasil: 'O rap não espera'

25 ago 2021 - 13h10
(atualizado às 13h32)
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Considerado um dos maiores nomes do rap nacional, responsável por traduzir o cotidiano da quebrada há mais de 30 anos, Mano Brown experimenta novos meios de expandir sua mensagem. Para além das rimas dos Racionais MC's, o artista propõe diálogo. 

Desta vez, essa troca será em um novo formato: podcast. O cantor será o anfitrião do Mano a Mano, que estreia nesta quinta, 26 de agosto, no Spotify

Os 16 episódios que estarão disponíveis toda quinta-feira vão trazer Brown em um encontro com personalidades de diversos cenários: do esporte à política, da música à religião. Karol Conká, Drauzio Varella, pastor Henrique Vieira, Vanderlei Luxemburgo e Fernando Holiday são alguns dos nomes confirmados.

"Sou um contador de histórias nato, todo rapper é! Isso vem do compositor, de estar ali contando sua história e visão sobre o mundo. Sempre investi nesse lado meu, colocava no papel, em forma de batida e as pessoas falavam: 'Você está cheio de coisas pra falar, porque não potencializa isso? Então decidi falar", explica o cantor, em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 24.

Mano Brown irá apresentar 'Mano a Mano'
Mano Brown irá apresentar 'Mano a Mano'
Foto: Divulgação/Spotify

Depois de um tempo distante da mídia, Mano Brown compartilha que, nesta nova etapa da carreira, os fãs poderão conhecer um novo lado dele e descobrir que ele é "o cara mais comum do mundo". "Sou um brasileiro médio, de mentalidade mediana, mas aprendendo. Sou filho de uma mulher negra com um cara branco desconhecido, sou a cara da maioria, um produto tipicamente brasileiro, filho da escravidão", explica.

O artista ainda afirma que para este desafio foi preciso "sair da zona de conforto". Conhecido pelos seus posicionamentos firmes, ele compartilha que está aberto a novas conversas no Mano a Mano. "Há momentos que é preciso se posicionar, mas não preciso reafirmar o que for óbvio. É um diálogo, não vou ser neutro porque tem alguém com uma visão contrária à minha, mas não estou fechado para novas ideias e debates".

"Por mais que sejam diferentes, todos esses convidados estão dentro do meu universo", explica o rapper. Ainda sobre posicionamentos, ele menciona o entrevistado Fernando Holiday que, apesar de discordar do político, foi possível debater.

"Ele é um cara polêmico, porém na entrevista vocês vão ver que ele também mudou a forma de pensar conversando com a gente. Fernando é uma inteligência negra emergente, embora esteja errado o lado político dele, vou tomar o direito de falar isso, porque não concordo com o que ele pensa", explicou.

Já a experiência com Karol Conká, para ele foi um momento delicado. "As pessoas não queriam ouvi-la. Uma rejeição de 99% [no BBB 21] me interessa, talvez eu teria uma rejeição maior que a dela", disse.

"Ter uma mulher negra de frente pra mim, num momento de fragilidade, foi marcante (...) Uma mulher como minha mãe, de opinião forte. Em alguns momentos, eu comparava ela com a minha mae, esse olhar fez o diálogo fluir melhor", explicou.

Outro entrevistado que ocupou um lugar paternal para o anfitrião do podcast foi Dráuzio Varella. "A importância dele é ter um pai que nunca tive. Ele tem muito o que ensinar, não só na saúde. Eu ficaria horas falando com ele, coisas que eu perguntaria para um pai que nunca tive, porque hoje em dia eu sou sempre o mais velho onde estou. Não tive essas pessoas para desabafar e pegar a visão", afirmou.

Cultura hip-hop e juventude

O compositor também analisa a evolução do hip-hop no Brasil. Segundo ele, a possibilidade de músicos e produtores poderem sobreviver da própria arte é um movimento recente. Além disso, as reivindicações de artistas atuais do rap nacional não são as mesmas que antes.

"Imagina que você está no país do samba e também do agronegócio, que investe na música sertaneja e chega com uma cultura afroamericana. O negro sempre teve sua perspectiva abafada, como se fosse sem importância, dizem: 'não, negão, sua hora não é agora. Depois você fala'. O rap nao espera. Essa mulecada não espera nada, eles invadiram com talento, luta, música e views", disse.

"O que era relevante na minha época, nos anos 90, não é da mesma forma hoje. Aonde a juventude quer chegar hoje? Com certeza muito mais longe do que a minha geração queria. Porque a minha lutava por direitos básicos ainda, aprender ler e escrever, poder comer, ter uma roupa e pegar um ônibus. Isso não cabe para galera de hoje", completa.

Por fim, Brown reitera que o intuito do podcast é também falar sobre essa juventude. "Pretendo apresentar pessoas pra esse público que ouve o rap e, no futuro, vão falar por mim, essa é a ideia". Ouça o trailer de Mano a Mano:

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Estadão
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