Um ano sem Paulo Gustavo: humorista se tornou ainda maior depois de sua morte
Despedida precoce de um dos maiores comediantes do Brasil comoveu milhares e reforçou o alerta para as consequências da Covid-19
Há exatamente um ano, o Brasil se despedia do ator e comediante Paulo Gustavo Amaral Monteiro de Barros, aos 42 anos, que se tornou um ícone na pele de Dona Hermínia, a mãe que quase todo mundo tem. Déa Lúcia, mãe do ator que inspirou a personagem, o marido Thales Bretas e todo o país choraram e se perguntaram o motivo de uma perda tão precoce.
A grande comoção e o impacto que a morte de Paulo Gustavo causou não foi por acaso.
"Ele era mais que um humorista, era o espelho de muitos brasileiros, que se encontravam em seus personagens", explica Junior Silva, psicanalista e autor de artigos sobre o impacto da morte de um artista sobre seus fãs.
Mas o Brasil não era apenas fã de Paulo Gustavo. Era mais que isso. A identificação que muitos sentiam com seus personagens fez dele membro de milhares de famílias nos quatro cantos do país. Junior Silva resume o sentimento coletivo: foi como se estivéssemos perdendo um ente querido.
De acordo com a psicóloga Michelle Cristine da Silva, especialista em luto, o vínculo criado entre Paulo Gustavo e o público deixou o processo de luto ainda mais difícil.
"Paulo Gustavo ajudou muitas pessoas a esquecer momentos difíceis da nossa realidade com o humor", acrescenta.
Ainda maior após a morte
Para o psicanalista Junior Silva, a morte prematura de Paulo Gustavo se tornou um símbolo na luta contra a Covid-19 no Brasil. Perder a oportunidade de rir com novas piadas e causos das personagens de Paulo Gustavo pode ter feito muitas pessoas repensar a forma com que tratava a crise sanitária.
Enquanto especialistas confirmavam que a tendência era que a doença estava restrita às pessoas mais velhas ou com comorbidades, a morte de um ator jovem e saudável chocou todo o país.
"Com a morte dele aos 42 anos, constatou-se que a pandemia poderia atingir pessoas em idade cada vez mais jovem. Essa imprevisibilidade da vida acendeu um alerta de que todos precisavam se cuidar mais e se vacinar", observa a psicóloga Michelle da Silva.
Fã de Paulo Gustavo, o cabeleireiro Flávio Costa lamenta que o brasileiro tenha demorado para acordar em relação à crise sanitária. Apesar da dor da perda, ele acredita que a morte do ídolo pode ter servido de lição.
"Ele, como grande artista, conseguiu consolidar na gente que existia muita coisa para fazer [a respeito da Saúde]", acrescenta.
Flávio viralizou nas redes sociais após usar sua experiência com caracterização drag queen para se transformar em Dona Hermínia para dar um recado à população: tomem a vacina. O artista foi apenas uma das dezenas de pessoas que se vestiram como as personagens icônicas de Paulo Gustavo para receber a dose do imunizante contra a doença que matou o ídolo.
Mesmo um ano após a morte do artista, o admirador sente que a ficha ainda não caiu. Por outro lado, Flávio também não sabe se repetirá a homenagem. Os amigos pedem, mas o peso de se caracterizar de Dona Hermínia pode ser difícil de carregar.
"Eu me emociono muito. Tem um amigo que nem consegue me ver assim e chora", lembra.
Ícone imortal
Foram muitas as homenagens ao longo dos mais de 50 dias em que Paulo Gustavo esteve internado e outras tantas após sua morte. Amigos e celebridades publicavam fotos e vídeos com Paulo rindo, fazendo piada, sendo gentil.
Paulo é tão querido que agora dá nome a uma rua em Niterói, ganhou uma estátua e virou até tema de escola de samba no Carnaval de 2022. A escola carioca São Clemente levou "Minha mãe é uma peça" ao sambódromo. Com referências à família do ator, a todas as formas de amor e também à imortalidade de Paulo Gustavo, a escola fixou ainda mais o humorista na memória do brasileiro.
Na ocasião, Déa Lúcia se disse feliz e agradecida pela homenagem ao filho.
"Coração bateu forte, mas ao mesmo tempo, feliz. Acredito que ele esteja feliz. Paulo Gustavo era uma pessoa alegre, deve estar adorando de onde ele está vendo essa homenagem", declarou, após o desfile.