Uso minhas andanças pelo mundo em meus personagens, diz o ator Alexandre David
Com experiência de estudo e atuação no exterior, o artista de ‘Rio Connection’ e ‘Impuros’ comenta a experiências atrás das câmeras
O que o detetive corrupto e violento Batista de ‘Rio Connection’ (Globoplay) tem em comum com o humanizado delegado Álvaro de ‘Impuros’ (Star+)? Ambos são interpretados por Alexandre David, ator que se destaca pela versatilidade na carreira.
Sua forte presença cênica agrega dramaticidade aos personagens. Mineiro de Juiz de Fora, teve o potencial artístico despertado aos 15 anos, quando acompanhava a mãe, a cantora Raquel Silvestre, em shows. Quis sair dos bastidores para, assim como ela, ocupar os palcos.
Radicado no Rio, se graduou em Artes Cênicas e depois foi estudar no Conservatoire National Supérieur d’Art Dramatique, uma escola fundada em 1795 em Paris. Viveu também temporada na Inglaterra. Na volta ao Brasil, cursou pós-graduação em Direção.
No teatro, Alexandre David deu vida a obras de criadores icônicos, como Nelson Rodrigues e Pina Bausch. Foi visto na TV aberta em produções de destaque da Globo, como o remake de ‘Cabocla’, ‘Cheias de Charme’ e ‘Sob Pressão’.
O artista, de 55 anos, conversou com o blog por e-mail.
Você se projetou em produções do Globoplay e Star+. Qual a importância das plataformas de streaming para ampliar o mercado de trabalho dos atores, antes tão dependentes da TV?
A importância é grande! O mercado ficou mais plural e democrático! Sempre tivemos muitos talentos mal-aproveitados na TV aberta ou que não tinham nem espaço para mostrar o seu trabalho e que agora podem contar suas histórias no streaming! Falo não só de atores, mas de diretores, autores, técnicos, produtores. É uma cadeia gigante de produção! Quanto mais diversidade de olhares, melhor para o público e os artistas. E com as coproduções internacionais, também ficou mais fácil exportar os produtos brasileiros, que não devem nada aos estrangeiros no quesito inventividade, qualidade e talento. A produção de streaming brasileira já é reconhecida e premiada internacionalmente! Tenho muito orgulho e alegria de ser um artista brasileiro e de fazer parte disso!
A dramaturgia costuma estereotipar atores. Sua imagem o faz ser escalado para interpretar homens de poder, como policiais. Isso é limitante?
Nesse momento da minha vida, com a minha idade, comecei a ser chamado para fazer personagens com essas características, mas já fiz muita comédia e personagens menos poderosos. Mas, na verdade, tudo depende do ator, da mensagem que ele quer passar. Porque aí ele se prepara para mostrar uma determinada energia, passar um determinado discurso. Mas acho que sou capaz de fazer qualquer tipo de personagem porque acumulei muita experiência nas minhas andanças pelo mundo e também porque adoro atuar!
O que insere nos seus trabalhos atuais das experiências em Paris e Londres?
Da minha temporada profissional na Europa, eu trouxe a vivência com artistas das mais variadas origens (europeus, africanos, asiáticos), com as mais variadas abordagens sobre a arte de interpretar. Do lado pessoal também foi muito rico morar num país estrangeiro e perceber que todas as certezas que temos na vida são relativas, uma vez que a cultura de cada local é determinante para a formação da nossa visão de mundo. Toda essa convivência me ajudou a ver o mundo de uma maneira melhor, a ouvir mais e aprender com cada pessoa que passa na minha vida. Por isso, foi tão prazeroso participar de ‘Rio Connection’, já que a equipe era formada por artistas de várias partes do mundo e eu já tinha essa experiência de trabalhar com elencos internacionais, não só porque falo inglês e francês, mas porque entendo e respeito o tempo de cada profissional. E quando o trabalho é só com brasileiros, como em ‘Impuros’, a alegria do encontro e de contar as nossas histórias na nossa língua é imbatível!