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Ver Bourdain feliz na CNN gera a questão: por que se matou?

Programa com o chef-apresentador, morto em 2018, faz o telespectador viajar por incríveis lugares e sabores

22 dez 2020 - 12h51
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Na reprise do ‘Lugares Desconhecidos’ exibida na noite de segunda-feira (21), na CNN Brasil, Anthony Bourdain visitou templos da alta gastronomia na região de Lyon, na França. Após experimentar um prato tradicional, ele disse: “Quero morrer como esse frango, cercado de trufas, foie gras e bons vinhos”. O desejo se tornou profecia.

Bourdain nunca escondeu seus “demônios internos” e sempre lutou contra tendência autodestrutiva
Bourdain nunca escondeu seus “demônios internos” e sempre lutou contra tendência autodestrutiva
Foto: Reprodução

Aquele episódio do programa foi gravado em 2013. Cinco anos depois, o chef-apresentador decidiu dar fim à própria vida. Um amigo, o também chef Eric Ripert, encontrou seu corpo em um quarto do Hotel Le Chambard, em Kaysersberg, pequena cidade da Alsácia, região no nordeste da França onde nasceu o foie gras e famosa por sua rota de vinhos. Trufas negras fazem parte do menu de um dos restaurantes do hotel onde a tragédia ocorreu.

O suicídio de Bourdain, aos 61 anos, chocou o universo da boa comida. Ele era uma referência: trabalhou quase 30 anos em grandes cozinhas, escreveu livros importantes sobre gastronomia e se reinventou como apresentador de atrações sobre o prazer de comer, seja em um salão suntuoso ou em uma barraca de rua. Assisti-lo na TV sempre foi uma experiência agradável.

Com o ‘Lugares Desconhecidos’, Anthony viajou o planeta em busca de aventuras gastronômicas ao longo de seis anos. Carismático, atiçava o paladar do telespectador com sua curiosidade por novos ingredientes e sabores. Era um chef desglamourizado e apresentador sem firula. Sorria bastante diante das câmeras, parecia ser um homem feliz.

Mas nem sempre há felicidade atrás de uma gargalhada. Bourdain estava deprimido. Em sua última noite, durante o jantar com Ripert, ele demonstrou tristeza por problemas no relacionamento com a atriz italiana Asia Argento. Em seu livro de memórias, ‘Medium Raw’, lançado em 2010, comentara a respeito de recorrentes pensamentos suicidas por conta de frustrações amorosas anteriores.

Pouco antes de morrer, o chef-apresentador procurou ajuda médica a fim de melhorar a saúde mental. A necropsia revelou substância compatível com remédio antidepressivo em seu corpo. Não havia sinais de drogas. “Foi uma morte por ato impulsivo”, concluiu a polícia francesa. “Não existe ninguém com mais vontade de morrer do que eu”, teria dito Bourdain, de acordo com uma amiga, a atriz Rose McGowan.

Bourdain em uma refeição popular e durante degustação ao lado do lendário chef francês Paul Bocuse, morto cinco meses antes dele
Bourdain em uma refeição popular e durante degustação ao lado do lendário chef francês Paul Bocuse, morto cinco meses antes dele
Foto: Divulgação

Chris Bourdain, único irmão do âncora-gastrólogo, disse que as famílias em geral precisam conversar mais sobre problemas emocionais para evitar que uma pessoa sofra calada e tenha vergonha ou receio de pedir socorro.

Anualmente, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio. A maioria é de homens. No Brasil, eles representam 75% dos casos. A cultura machista é um veneno que desanda a receita para o bem-estar. O CVV (Centro de Valorização da Vida) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio. Atendimento gratuito pelo telefone 188.

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