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‘Viúvo’ de Lafond morreu sem herança e frustrado por desprezo ao ator

O artista que fazia o Brasil rir com a Vera Verão não recebeu as merecidas homenagens nos 20 anos de sua morte

13 jan 2023 - 10h35
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Ao morrer de ataque cardíaco, em fevereiro de 2020, Marcelo Padula se remoía em tristeza. 

O jornalista lutava na Justiça para conseguir o reconhecimento de união civil com Jorge Lafond. 

Ele e o ator famoso por interpretar a tresloucada Vera Verão no humorístico ‘A Praça é Nossa’ conviveram por mais de 20 anos. 

Publicamente, foram vistos sempre como amigos e, depois, assessor e assessorado. 

Padula cuidava da imagem do artista, agendava entrevistas e o acompanhava em gravações na TV. 

Anos depois da morte de Lafond, aos 50 anos, também por falha cardíaca, em 11 de janeiro de 2003, o jornalista contou a respeito do alegado relacionamento amoroso. “Ele era meu companheiro”, afirmou. 

Acionou advogados para conseguir ser declarado pela Justiça como marido do ator e herdeiro por direito. 

A decisão final sobre o status jurídico dos dois saiu apenas em 2022. Um tribunal de São Paulo negou o pedido. 

Os bens de Lafond, incluindo uma casa e apólices de seguro de vida, já haviam sido destinados a primos do comediante.

Marcelo Padula morreu magoado pela falta de reconhecimento a Jorge Lafond
Marcelo Padula morreu magoado pela falta de reconhecimento a Jorge Lafond
Foto: Reproduções

Marcelo Padula levou para o túmulo outro desencanto. Não conseguiu tirar do papel o projeto de uma cinebiografia. 

Entre amigos e colegas de jornalismo, ele relatava com entusiasmo as ideias para o roteiro e até cogitava atores para o papel de Lafond. 

Seria uma grande homenagem a um artista desbravador que enfrentou a pobreza, o racismo e a homofobia no caminho até o sucesso na televisão. 

Vários produtores de cinema disseram ‘não’ ao projeto. Desacreditaram o potencial da produção para atrair público e, consequentemente, gerar bilheteria lucrativa. 

Quem conheceu Padula testemunhou sua dedicação dia e noite a Jorge Lafond. Paixão ou amizade, foi uma relação sólida e duradoura, raridade no meio artístico. 

Por seu talento e simbolismo, o intérprete de Vera Verão — e outros personagens menos lembrados, como o Bob Bacall da novela ‘Sassaricando’ — merece filmes, documentários, peças, exposições... 

Não é todo dia que, em um País chafurdado em preconceitos, uma bicha preta afeminada se projeta como bailarino no exterior, cursa duas faculdades (Artes Cênicas e Educação Física), conquista espaço próprio na TV e se torna um dos artistas mais populares. 

Mas aqui é o Brasil, onde há memória curta, as novas gerações não têm interesse em história e os artistas negros e LGBTs, mesmo consagrados, ainda são vítimas de estigma. 

Vera Verão tinha razão em ‘rodar a baiana’.

Lafond em 'Sassaricando', de 1987, e em entrevista no SBT: esfuziante em público, reservado fora do ar
Lafond em 'Sassaricando', de 1987, e em entrevista no SBT: esfuziante em público, reservado fora do ar
Foto: Reproduções
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