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Geração Cerrado: conheça os autores do Centro-Oeste que levam região ao centro da literatura do País

Obras recentes mostram cultura, história e paisagem ainda raras na literatura brasileira, mesmo com população que mais cresce no País, nas palavras de Maria José Silveira, André de Leones, Fabiane Guimarães e Paulliny Tort

30 jun 2023 - 06h30
(atualizado às 16h43)
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Com o peito inchado de tristeza após a partida de um filho, Zé Minino, protagonista de Farejador de Águas, observa a Lua subir e cobrir de luz tudo o que os olhos enxergam na imensidão do chão e se pergunta: "Pra que sair daqui, gente?".

Na foto, Fabiane Guimarães, Maria José Silveira, Paulliny Tort e André de Leones
Na foto, Fabiane Guimarães, Maria José Silveira, Paulliny Tort e André de Leones
Foto: Alexia Fidalgo/Companhia das Letras; Divulgação; Divulgação; Roseli Vaz / Estadão

O romance da escritora goiana Maria José Silveira, publicado pela editora Instante em junho, divide o cenário do Cerrado do Centro-Oeste com os livros de André de Leones (Vento de Queimada, Record, 2023), Fabiane Guimarães (Como se Fosse um Monstro, Alfaguara, 2023) e Paulliny Tort (Erva Brava, Fósforo, 2021). São autores com tempo variado de produção anterior, mas todos com novos livros que exploram uma paisagem ainda rara na literatura brasileira.

A sincronia literária acompanha a maior representação do Centro-Oeste no cinema, como em Mato Seco em Chamas e Fogaréu, lançados no ano passado, e no mercado de artes plásticas, com a inauguração recente da Cerrado Galeria, em Goiânia. Na cultura pop, a região com a população que mais cresce no País é representada na novela da Globo Terra e Paixão e pelo fenômeno do "agronejo", em que se destaca Ana Castela, cantora mais ouvida no Brasil hoje.

Paisagem rara

O Cerrado do Centro-Oeste, no entanto, ainda é uma paisagem rara na literatura brasileira, mesmo entre o repertório de leitores da região. Foi assim na infância de Paulliny Tort, de Brasília. Além de Cora Coralina, ela não teve contato com outras narrativas baseadas em sua terra.

"Eu não fugi à regra", diz Maria José Silveira, que hoje vive em São Paulo. Embora tivesse autores goianos à disposição na biblioteca do pai, eles não despertavam seu interesse. "Os leitores preferem ler quem já foi aprovado pelo eixo Rio-São Paulo e os estrangeiros."

Fabiane Guimarães, nascida em Formosa (GO), também só descobriu referências locais depois de adulta, já vivendo no Distrito Federal. "Várias vezes me falaram que eu fui a primeira autora que eles leram que escreve sobre Brasília. Aí, eu começo a puxar outros", conta ela.

Já André de Leones leu mais autores do Centro-Oeste, como Yêda Schmaltz, Bernardo Élis e José J. Veiga, antes de se tornar escritor. Radicado em São Paulo, ele costuma doar exemplares de seus livros para a Biblioteca Pública Coronel Pirineus, de Silvânia (GO), onde cresceu.

Marcha para o Oeste

"Claro que isso tem a ver com a formação colonial do País, que começou ali pelas bordas, e o centro só foi ocupado há pouco tempo", diz Fabiane sobre a atenção diferente dada a obras do Centro-Oeste. A construção da capital federal, bem como a passagem da Coluna Prestes por Goiás, a Marcha para o Oeste, o movimento de Santa Dica e a Revolta de Trombas e Formoso, está presente no livro de Maria José.

Estadão
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