Globo exibirá filme anti-armas na cola de atos pró-Bolsonaro
Difícil acreditar em coincidência a escolha de longa que critica o lobby para facilitar a comprar de armamento pela população
Dez dias após Jair Bolsonaro estimular a aquisição de fuzil e chamar de “idiota” quem diz preferir comprar feijão, a Globo programou o filme ‘Armas na Mesa’ (Miss Sloane) para o ‘Tela Quente’ desta segunda-feira (6), a partir das 23h15.
Será exibido menos de 12 horas antes do início das manifestações em apoio ao presidente da República e contra o Supremo Tribunal Federal, previstas para amanhã, dia 7. Coincidência, posicionamento político-ideológico do canal ou provocação ao bolsonarismo e aos CACs (Colecionadores, atiradores desportivos e caçadores)?
Lançado em 2016, o longa traz Jessica Chastain na pele da lobista Elizabeth Sloane. Influente nos bastidores do poder em Washington, ela recebe uma proposta milionária para mobilizar a opinião pública feminina a favor de um projeto de lei que será votado no Senado dos Estados Unidos para facilitar o acesso de cidadãos comuns a armas.
Surpreendentemente contrária à ideia, a famosa articuladora recusa a oferta. Pouco depois, aceita fazer lobby para o grupo contrário, que defende maior controle da venda de revólveres, pistolas, fuzis e outros itens do gênero à população. Passa a ser atacada por forças perigosas.
Sloane é apresentada como uma heroína imperfeita lutando contra a implacável bancada da bala no Congresso americano. Atenção, spoiler: a lobista consegue impedir a aprovação do projeto, mas paga caro por sua atuação contra o movimento pró-armas.
Em seus telejornais, a Globo já exibiu várias matérias a respeito dos riscos da flexibilização da compra e do porte de armas. A emissora também criticou todas as manifestações consideradas antidemocráticas, algumas com o apoio e a presença de Bolsonaro.
A escalação de ‘Armas na Mesa’ em momento no qual a imprensa classifica declarações do presidente como “golpistas” insere conotação política ao que seria entretenimento descartável no horário nobre da TV.
Tratada pelo presidente como seu maior inimigo na mídia, a Globo, assim como Elizabeth Sloane, não fica incólume. Repórteres do canal foram hostilizados em público por bolsonaristas. Alguns links (transmissões ao vivo) do jornalismo precisaram ser interrompidos devido aos gritos de anônimos anti-Globo. A emissora da família Marinho foi alvo de ‘avisos’ do presidente, inclusive de não ter a concessão renovada em 2022.
Nessa guerra de nervos entre o homem mais poderoso do Poder Executivo e a empresa de comunicação mais influente do País, as armas utilizadas não usam munição, porém, são potencialmente bombásticas.