Fernando Meirelles não acredita na vitória de Cidade de Deus
Domingo, 12 de janeiro de 2003, 19h54
Fernando Meirelles prefere manter serenidade - e até mesmo pessimismo - diante da euforia em torno da indicação de Cidade de Deus ao Globo de Ouro e da possibilidade do filme entrar na briga pelo Oscar. O diretor paulista não acredita que seu longa, considerado um fenômeno do cinema nacional, consiga ganhar um Globo de Ouro e muito menos uma vaga para disputar o Oscar de melhor filme estrangeiro. Meirelles aposta na vitória de Fale com Ela, do diretor espanhol Pedro Almodovar. "Sem dúvidas, é Fale com Ela que vai ganhar o Globo. O fato de a Espanha não ter indicado o filme ao Oscar gerou uma revolta na Academia. Acredito que eles irão premiá-lo para dar o troco", diz Meirelles, em entrevista por telefone ao Portal Terra. Entre os outros concorrentes de Cidade de Deus para o Globo de Melhor Filme Estrangeiro, Meirelles destaca o chinês Hero e o francês Balzac. "Hero é o preferido da Academia. Já Balzac é o filme mais bonito que assisti nos últimos anos. Fiquei com esta impressão quando vi Fale com Ela, mas depois de Balzac, mudei de idéia". Apesar disso, o diretor garante que já está bastante contente com a indicação. "Só o fato de sermos concorrentes e de participarmos da festa já me deixa muito feliz". Os Globos de Ouro vão ser entregues em 19 de janeiro em uma cerimônia em Beverly Hills, na Califórnia. Esta é a 60ª edição do prêmio. Em relação ao Oscar, Meirelles é mais pessimista ainda. "Não seremos nem nomeados para a categoria", acredita. "O pessoal que escolhe os filmes é muito velho, na faixa dos 70 e 80 anos, e acredito que o choque que Cidade de Deus causa não agrada muito". A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciará os concorrentes no dia 11 de fevereiro. Novos projetos - Meirelles garante que não se sente pressionado a fazer mais um "fenômeno" por causa do sucesso de Cidade de Deus. "Tem gente querendo me pressionar sim, mas estou na minha", conta. O próximo projeto do diretor é um filme sobre a globalização, que começará a ser produzido em 2004. O diretor diz que já recebeu diversos convites para trabalhar com grandes estúdios internacionais, como Fox, Dreamworks e Universal. "Chegaram vários roteiros para mim, mas preferi não aceitar. Quero continuar fazendo meu trabalho aqui", garante, com toda a humildade que se é possível manter depois de levar mais de 3 milhões de pessoas aos cinemas.
Andréia Fernandes / Redação Terra
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