'Hairspray': Tiago Abravanel reinventa sucesso da Broadway com referência à TV e ao avô
Musical em cartaz no Teatro Renault traz com pautas como gordofobia e racismo 'sem ser panfletário'. Neto de Silvio Santos interpreta personagem que foi de John Travolta em filme: 'Emprestei minha afetividade'
Apesar de ser neto do maior nome da TV brasileira, Silvio Santos, foi nos palcos que Tiago Abravanel começou a carreira e se descobriu como artista. Lá em seus tempos de estudante, no primeiro curso de musical que fez na vida, interpretou Edna Turnblad em uma montagem de Hairspray. Anos mais tarde, estreou em seu primeiro grande musical, Miss Saigon, no Teatro Renault.
Agora, o ator retorna ao palco do mesmo Teatro Renault em uma versão de Hairspray idealizada por ele, sua primeira produção de um grande sucesso da Broadway. Tiago se divide entre a direção e a atuação, de novo, como Edna Turnblad, personagem que ficou marcada pela performance de John Travolta em Hairspray - Em Busca da Fama, filme de 2007.
"Eu me emociono só de pensar que aquele menino de 17, 18 anos pisou naquele palco com o sonho de fazer teatro musical e ele volta a pisar de novo com a mesma garra, com a mesma força, mas com muita experiência e com uma vontade de realizar tão grande quanto quando tinha 17 anos", comenta o artista em entrevista ao Estadão.
Hairspray, que já foi apresentado no Rio de Janeiro e recebeu um público de mais de 35 mil pessoas, acaba de estrear em São Paulo sob a direção de Abravanel, Antônia Prado e Tinno Zani. Eles dividiram a idealização com Rafael Villar.
Sobre o que é 'Hairspray'
A trama acompanha a jovem Tracy Turnblad na Baltimore, nos EUA, dos anos 1960. Tracy sonha em dançar no The Corny Collins Show, programa de televisão local, mas enfrenta desafios por ser uma mulher gorda e fora dos padrões de beleza. Ao se tornar uma celebridade, passa a lutar contra a segregação racial.
Ao todo, são 30 atores em cena e 12 músicos na orquestra. Vânia Canto interpreta a protagonista, dividindo o palco com Tiago e outros nomes como Ivan Parente, Rodrigo Garcia, Aline Cunha, Pâmela Rossini, Thales Cesar, Verônica Goeldi, Liane Maya e Lindsay Paulino.
Versão brasileira
Coincidência ou não, Hairspray tem ao centro um espaço já bem conhecido de Tiago: a televisão. A versão original da Broadway já teve alterações para deixar o texto atual, mas a que está sendo feita por aqui ganhou um toque "abrasileirado". O ator conta que a TV brasileira e, consequentemente, o avô, Silvio Santos, inspiraram as referências do espetáculo.
"Nós temos a televisão como um elemento cultural muito grande da nossa formação social do Brasil. Conseguimos, com essa liberdade de direção, trazer para a nossa versão essas referências, essas pequenas 'pinceladas' que fazemos de piadas ou até de informações da televisão brasileira", diz. Segundo ele, houve um cuidado para incluir as referências de forma "sutil" e para que elas não fossem tiradas de contexto.
"Meu avô é referência para todos nós como algo da televisão, mas a televisão como um todo foi referência para nós trazermos essa brasilidade para o espetáculo", afirma. No dia da morte de Silvio Santos, o elenco do espetáculo, que ainda estava em cartaz no Rio, prestou uma homenagem ao apresentador e cantou o tema do Programa Silvio Santos. Naquele dia, Abravanel foi substituído nos palcos pelo ator Bernardo Berro.
O ator também precisou criar sua própria versão de Edna Turnblad. Segundo ele, a inspiração para a personagem veio muito mais da Edna de Divine (performer que atuou em Hairspray - E Éramos Todos Jovens, de 1988, filme de John Waters) do que da Edna de John Travolta. Para o ator, a personagem teve mais "toques de Travolta" com a interpretação de Edson Celulari na versão brasileira de 2009.
"Eu acho que a minha Edna é um pouco mais 'carrancuda', um pouco mais brava, mas com a sua sensibilidade, com as suas inseguranças e com um potencial de transformação muito grande quando chega no final do espetáculo", diz. E há muito de Tiago Abravanel em Edna Turnblad, tamanho "lugar de afeto e proximidade" com a personagem.
Questionado sobre o que emprestou do Tiago para a Edna, o ator responde: "Talvez a afetividade". "Esse lugar de olhar para o outro, mesmo com as inseguranças dela, mesmo com os traumas. Acho que a Edna tem essa preocupação com o outro", comenta.
Irreconhecível no palco, o artista tem um trabalho de caracterização extenso para se tornar a Edna. Ele conta que chegou a pensar em deixar de lado a atuação no espetáculo para se dedicar apenas à direção. "É um desafio muito grande e eu confesso que, antes, eu estava com muito medo. [...] Mas falei: 'Cara, não faz sentido'. Meu sonho era fazer essa personagem. Por que eu vou abrir mão disso?", diz.
Para além da ficção
Mesmo com a magia e a ficção de Hairspray, o musical ainda aborda temas atuais, como a gordofobia e o racismo. O tema da TV se une a esses assuntos ao tratar da segregação racial que ocorria nos EUA à época em que se passa o espetáculo.
"As escolhas que fizemos na direção contribuíram para retratarmos uma época sem que precisássemos ofender ou 'pegar pesado' em assuntos vividos de maneira muito cruel, principalmente a questão do racismo", comenta Abravanel. "Tentamos trazer isso estampado com consciência, mas de uma maneira leve, sem ser panfletária."
A trama e a mensagem da peça vão ganhando ainda mais força conforme o espetáculo se aproxima do fim: as personagens ficam mais potentes, a tonalidade mostra a televisão ganhando cor e os figurinos também vão ficando cada vez mais coloridos até, juntos, se tornarem um arco-íris. O ator afirma ter consciência do potencial de Hairspray em divertir ao mesmo tempo em que traz reflexões.
Para ele, o que faz Hairspray ainda ser um sucesso depois de tantas montagens é o fato de o musical "falar sobre os seres humanos". "Infelizmente, existem questões que, apesar de termos evoluído muito, nós ainda precisamos falar: sobre os espaços ocupados por pessoas pretas, por pessoas gordas. [...] É falar sobre o amor, a autoaceitação, sobre você acreditar no potencial de como você é", finaliza.
Serviço - Musical 'Hairspray'
- Local: Teatro Renault - Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista
- Estreia: Dia 05 de setembro (quinta-feira)
- Temporada: de quinta a domingo
- Horários: Quintas e Sextas, 20h; sábados, 16h e 20h; domingos, 15h e 20h
Preços:
- Plateia Vip | R$175 (meia) e R$350 (inteira)
- Plateia Premium | R$145 (meia) e R$290 (inteira)
- Plateia Gold | R$130 (meia) e R$260 (inteira)
- Plateia Silver | R$130 (meia) e R$260 (inteira)
- Camarote Superior | R$175 (meia) R$350 (inteira)
- Balcão Vip | R$19,80 (meia) e R$39,60 (inteira)
- Balcão Premium | R$19,80 (meia) e R$39,60 (inteira)
Vendas:
- Sem taxa de conveniência: Bilheteria do Teatro Renault
- Com taxa de conveniência: www.ticketsforfun.com.br