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JK Rowling ataca atleta olímpica com fala transfóbica, achando que era "homem"

Escritora atacou mulher boxeadora da Argélia, país que criminaliza a homossexualidade

1 ago 2024 - 22h53
(atualizado em 2/8/2024 às 17h22)
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Foto: Instagram/J.K. Rowling / Pipoca Moderna

A escritora J.K. Rowling, que criou "Harry Potter" e hoje em dia é mais conhecida por suas declarações polêmicas, voltou a fazer comentários transfóbicos, desta vez atacando a boxeadora argelina Imane Khelif, que é cisgênero - isto é, nasceu mulher e se identifica como mulher.

O ataque preconceituoso

Rowling se manifestou após a desistência da boxeadora italiana Angela Carini de lutar contra Khelif nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. "Assista a isso (tópico inteiro), depois explique por que você está OK com um homem batendo em uma mulher em público para seu entretenimento. Isso não é esporte. Do trapaceiro intimidador de vermelho até os organizadores que permitiram que isso acontecesse, isso são homens se deleitando com seu poder sobre as mulheres", escreveu a autora britânica no X.

Ela ainda acrescentou, sobre uma foto de Khelif consolando Carini: "Pode alguma foto sintetizar melhor o novo movimento dos direitos dos homens? O sorriso de um homem que sabe que está protegido por um sistema esportivo misógino, desfrutando da angústia de uma mulher que ele acabou de socar na cabeça e cujas ambições ele acabou de destruir."

Imane Khelif é uma mulher que nunca passou por transição de gênero, e representa um país, a Argélia, onde ser homossexual dá cadeia. Influenciada pela religião muçulmana, a sociedade argelina reprime as pessoas LGBTQ+ com penas que variam de meses a anos de prisão. Elas sofrem discriminação e estigmatização tanto do governo quanto da sociedade. Essa situação força muitos a viverem de forma clandestina e impede que se exibam com segurança no país. A Argélia jamais admitiria uma atleta transexual.

Contexto e desinformação

J.K. Rowling tem um histórico de falas transfóbicas e foi notícia em várias ocasiões por fomentar o ódio e preconceito contra pessoas transgêneros, inclusive incentivando pânico contra transexuais em banheiros femininos.

A fake news da escritora, entretanto, ganhou o mundo como se fosse factual, alimentando postagens da extrema direita que realimentaram a fake news. Os suspeitos de sempre repercutiram até no Brasil, em tom indignado. "Colocar alguém que mudou de sexo para competir no boxe olímpico com uma mulher não é fair game", escreveu o ex-juiz Sergio Moro. Os protestos contra as Olimpíadas renderam textos tendenciosos até em sites conservadores supostamente não extremistas.

O que aconteceu no boxe em Paris

Angela Carini desistiu em 46 segundos da luta nas oitavas de final do boxe feminino até 66kg após sofrer um golpe no rosto de Khelif. Ela foi às lágrimas e fugiu da tentativa de aproximação da rival, caindo de joelhos no ringue. Segundos antes, a italiana já havia dito sobre o golpe da rival: "Não é justo, dói muito".

Em meio à polêmica das redes sociais, a italiana pediu desculpas a Khelif por não tê-la cumprimentado após a desistência. "Eu estava errada. Saí do ringue cheia de raiva. Nunca terminei uma partida sem cumprimentar minha adversária. Peço desculpas a Imane por não me despedir dela", disse Carini.

Mulher macho?

Uma jornalista conservadora do jornal britânico The Telegraph, Suzanne Moore, tentou embasar melhor os ataques contra Khelif com uma explicação científica, afirmando que ela "provavelmente" nasceu com o que é chamado de "Diferenças no Desenvolvimento Sexual" (DSD), com cromossomos XY, afirmando que mulheres assim "têm a força e o poder dos homens porque geneticamente é isso que elas são".

A atleta de 25 anos chegou a ser desclassificada anteriormente pela IBA (Associação Internacional de Boxe) por não atender aos critérios de saúde de elegibilidade. Entretanto, o COI (Comitê Olímpico Internacional) afirmou que todas as atletas que disputam os Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade de gênero. Khelif também disputou os Jogos Olímpicos de Tóquio sem causar a mesma polêmica e sem conquistar medalhas, caindo nas quartas de final.

Para o discurso transfóbico de Rowling, entretanto, a desculpa de DSD cria um ruído. Afinal, ela sempre afirmou que sexo era biológico e que homens não poderiam virar mulheres. Portanto, uma mulher cisgênero também não poderia virar um homem para se encaixar nessa cruzada transfóbica. O debate acaba trazendo à pauta a discussão sobre o que caracteriza o sexo feminino, abrindo-se, com Imane Khelif, para os argumentos que os transexuais usam desde sempre: "simplesmente nasci assim".

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