Mario Pontes sugere ética aos jornalistas 
Sexta, 31 de agosto de 2001, 17h21
Divulgação/Terra |
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Com vasta experiência jornalÃstica e literária, Mario Pontes, Prêmio Jabuti 2001 na categoria romance, participou das discussões da mesa-redonda "Formação do Leitor: para o livro ou para o e-book" e "Intercâmbio de Registros: literatura, cinema e teatro", no dia 30 de agosto. Em entrevista, sugeriu ética aos jornalistas. "Seja fiel com você mesmo", disse. Nascido no Ceará em 1932, Pontes começou a atividade jornalÃstica com apenas 16 anos. Durante meio século trabalhou em revistas culturais e suplementos literários de jornais, como o Jornal do Brasil, que editou por muitos anos. Mario conversou com os jornalistas da UPF sobre as mudanças no jornalismo. O seu maior êxito ocorreu com os livros, gostarÃamos de saber um pouco mais sobre o Mario Pontes jornalista, seu sucesso, frustrações e angústias. Muito mais frustrações...isso qualquer jornalista moderno no Brasil vai te dar essa mesma resposta. Tenho 50 anos de jornal e uma particularidade, praticamente todo esse perÃodo eu trabalhei em cozinha de jornal e basicamente fazendo jornalismo cultural, jornalismo sobre cultura em suas diversas áreas. Eu nunca fui um repórter a não ser os seis primeiros meses que fui repórter de prisão, de delegacia como todo mundo. Depois fiz uma ou outra reportagem e entrevista , mas me dediquei mesmo durante todos esses 50 anos foi à edição, ao trabalho interno, e 95% no campo cultural . Existe um diferencial entre o jornalismo engajado das décadas anteriores para o jornalismo atual? O problema é que não existe nenhuma realidade , toda realidade é um zigue-zague, toda realidade tem seus altos e baixos, então, o que se pode dizer é que há uma tendência em não haver jornalismo engajado, por que isso? Quem manda no mundo atualmente? Você tem um capitalismo todo poderoso chamado neo-capitalismo que domina todas as posições, praticamente todas as instituições, organizações jornalÃsticas. Todas elas servem aos sistema capitalista e ele não quer um jornalismo engajado no sentido de você perceber o direito do cidadão, e você se propor a bancar silêncio para construir um futuro, depois de todas as frustrações do século XX nós sabemos que o mundo melhor é esse, há um mundo possÃvel . Qual a sua preferência entre o jornalismo impresso e o jornalismo on-line? Não é simplesmente uma preferência , mas é mais fácil pegar uma folhinha de papel e o jornal, e ver a quem você o entrega. Por melhor que você escreva na Internet, do ponto de vista do conteúdo, quem lê na Internet é uma minoria. Por isso, é claro que eu prefiro ter em mãos um pequeno jornal , jornalzinho de 4 páginas, que diga as coisas . Dizem que a Internet tem milhões de leitores, mas são potenciais, nem todos nós temos Internet. A sensação de você estar diante de uma tela de jornal é completamente diferente de estar na frente da tela do computador, o jornal fica na sua frente, amassado, te instigando a ler, a tela do computador não se amassa. A experiência jornalÃstica influenciou na literária? Esse é um dos temas que vem se discutindo desde a metade do século XIX. Balzac já dizia que a imprensa tinha influência. É preciso considerar a época. Quando Balzac vivia, o jornal tinha um espaço pequeno, era preciso escrever sinteticamente. Naquele jornalismo que Balzac praticou e uma série de outros grandes escritores, já depois da 1° Guerra Mundial, era visÃvel sua influência. O jornalismo de hoje não ajuda o escritor, o jornalismo hoje é seco, é a notÃcia pura e simples, sem espinha dorsal. Estas mudança prejudicam as novas gerações de jornalistas? O jornalismo precisava mesmo ser mais conciso, mais direto, não que tivesse que levar as últimas conseqüências. Eu concordo que deva existir o lead, nas primeiras linhas de um texto, mas não precisava chegar a isso como um dogma, aliás, não há razão para se fazer de nada um dogma. O senhor teria alguma mensagem a dizer aos novos jornalistas formados na Academia, diferentemente dos jornalistas que aprendiam a escrever dentro das redações dos jornais? Olha, eu não vou usar palavras minhas não, vou tirar lá do Hamlet, de Sheakespeare, que diz: Seja fiel com você mesmo, nunca traia você, nunca traia sua ética, nunca traia sua moral, e o dia que você morrer, você morre tranqüilo.
Redação Terra
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