Lee Taylor faz vilão em sintonia com brutalidades do Brasil
Personagem Camilo, de A Dona do Pedaço, representa o machismo, a violência contra a mulher e o abuso de autoridade
“Paixão é uma obsessão positiva. Obsessão é uma paixão negativa”, disse o escritor belga Paul Carvel. Em A Dona do Pedaço, Camilo se revelou não apenas obcecado, mas também ignóbil e criminoso.
O policial obrigou a ex-noiva Vivi (Paolla Oliveira) – a quem desmascarou em pleno altar ao revelar sua infidelidade – a romper com o pistoleiro Chiclete (Sergio Guizé) e agora quer arrastá-la novamente até a igreja.
No capítulo de sexta-feira (20), o detetive ficou furioso quando a digital influencer recusou o anel de noivado. Colérico e armado, ele atropelou o rival. Em breve, ficará ainda mais agressivo ao ser rejeitado na cama.
A novela das 21h da Globo finalmente ganha um vilão à altura das víboras Fabiana (Nathália Dill) e Jô (Ágatha Moreira).
Em uma trama liderada por mulheres astutas, faltava um personagem masculino forte para contrapor os mocinhos passivos.
O ator goiano Lee Taylor, 35 anos, conduz Camilo com destreza. Insere maldade e cinismo na doce certa, sem flertar com a caricatura da vilania.
O personagem ganha relevância por estar em sintonia com alguns males sociais gritantes no Brasil de hoje: o recrudescimento do sexismo, a onda crescente de agressão às mulheres e a assustadora violência policial.
Há ainda outro fator importante suscitado na dramaturgia de Camilo. Crueldade à parte, ele sofre, evidentemente, de com algum transtorno emocional.
O País vive uma epidemia de doenças mentais – milhões de pessoas sofrem e até se tornam ameaçadoras em razão da falta de diagnóstico e tratamento.
O autor Walcyr Carrasco construiu um vilão crível, contemporâneo e necessário. Muitos telespectadores violentos certamente se reconhecem no personagem monstruoso, assim como incontáveis brasileiras se veem na pele da acuada Vivi.