PUBLICIDADE

Livro de mulheres da ciência é retirado de escolas do interior: MP define prazo para explicação

Livro 'Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas' foi escrito por juíza do STF e denunciado por vereador do PL por suposta 'apologia ao aborto'; editora cita censura e MP dá prazo para que Prefeitura se explique

27 jun 2024 - 20h23
Compartilhar
Exibir comentários
Obra 'Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas' foi retirada das escolas pela prefeitura de São José dos Campos
Obra 'Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas' foi retirada das escolas pela prefeitura de São José dos Campos
Foto: Divulgação / Editora / Estadão

O Ministério Público de São Paulo deu o prazo até sexta, 28, para a Prefeitura de São José dos Campos prestar esclarecimentos acerca do episódio envolvendo a retirada do livro infantojuvenil Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas foi retirado das escolas municipais de São José dos Campos, em São Paulo.

Obra 'Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas' foi retirada das escolas pela prefeitura de São José dos Campos
Obra 'Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas' foi retirada das escolas pela prefeitura de São José dos Campos
Foto: Divulgação / Editora / Estadão

A informação foi confirmada pela Prefeitura do município ao Estadão por meio de nota. O Ministério Público de São Paulo explicou ao Estadão na sexta, 21, que o caso está sendo apurado. Segundo a nota, a Prefeitura tem até o dia 28 de junho, esta sexta-feira, para prestar esclarecimentos.

O que aconteceu

No dia 11 de junho, o vereador Thomaz Henrique (PL) criticou a obra nas redes sociais por considerar que ela fazia "apologia ao aborto" e por definir a antropóloga Débora Diniz e a vereadora Marielle Franco como inspiradoras. O parlamentar ainda pedia aos seguidores que pressionassem a Prefeitura do município a "recolher todas as unidades do livro".

Na mesma semana, a Prefeitura anunciou que recolheria os livros das salas de leitura para ser "reavaliado pela equipe técnica da Secretaria de Educação e Cidadania". Ao Estadão, reforçou que obra não chegou a circular nas salas de aula ou bibliotecas municipais, "apenas em salas de leitura das escolas".

Questionada se a obra foi recolhida após pedido do vereador, a Prefeitura não respondeu.

Pelas redes sociais, a professora Jéssica Marques, pré-candidata à vereadora do município pelo PSOL, afirmou que acionou o Ministério Público para avaliar o caso, que chamou de censura.

O que o livro aborda?

O obra infantojuvenil tem autoria de Flávia Martins de Carvalho, primeira juíza-ouvidora do STF. Composto por dois livros, divididos em linguagens/ciências humanas e ciências da natureza e matemática, o projeto retrata o trabalho de 20 mulheres influentes nesses campos, como Sueli Carneiro e Lélia Gonzalez, além das próprias Débora Diniz e Marielle Franco.

"Assim como [a autora] Flávia, a maioria das mulheres elencadas é negra e brasileira, mas há destaque também para mulheres indígenas, brancas e estrangeiras. Elas atuam em diversas áreas, mas todas unem suas atividades profissionais com ações afirmativas e sociais", diz o site da editora.

A obra é escrita em versos e conta com ilustrações de cada homenageada.

Polêmica nas redes

Em postagem nas redes sociais na terça, 14, o vereador Thomaz Henrique (PL) comemorou a decisão da Prefeitura de São José dos Campos, e atribuiu a decisão da Prefeitura à denúncia feita por ele.

"Após a minha denúncia na última terça-feira, a Prefeitura informou oficialmente que retirou de todas as escolas municipais o livro que define a maior defensora do aborto no Brasil, Débora Diniz, como mulher inspiradora. O livro defende os 'direitos reprodutivos' da mulher e o direito da mulher 'escolher ser mãe ou não', além de chamar os contrários ao aborto de 'gente chata'. O livro ainda trazia a ex-vereadora do PSOL, Marielle Franco, também como mulher inspiradora para alunas do 5º ano", lia-se na postagem.

Alegação de censura

A editora responsável pelo livro e as Entidades do setor de Livros condenaram a ação, que chamaram de censura.

A editora Mostarda disse ter recebido a decisão com "surpresa", em nota divulgada nas redes sociais no dia 14: "Acreditamos que criar pontes para o diálogo nos processos educativos é fundamental para a construção de uma sociedade mais consciente e tolerante. Assim, repudiamos qualquer tipo de censura e defendemos que obras que promovem o pensamento crítico e o exercício da cidadania devem permanecer nas escolas, sem quaisquer impedimentos de ordem autoritária".

Já as Entidades do setor de Livros apontam ataque à liberdade de expressão: "Censurar livros é atacar a democracia, a liberdade de expressão e a formação de cidadãos e cidadãs. O futuro do Brasil e o combate às desigualdades sociais dependem do crescimento intelectual de sua população, no qual o livro desempenha um papel imprescindível", diz, em nota oficial.

A nota ainda destaca a importância do livro Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas para "promover a igualdade de gênero e incentivar meninas a perseguirem carreiras na ciência. A censura desta obra impede que jovens leitoras tenham acesso a histórias inspiradoras que podem influenciar positivamente suas vidas e escolhas profissionais", diz o texto.

Nesta terça, 25, o vereador voltou a falar sobre o livro nas redes sociais.

O prazo para a Prefeitura se posicionar termina nesta sexta, 28.

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Seu Terra












Publicidade