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Londrinos temem que gentrificação descaracterize carnaval de Notting Hill

24 ago 2018 - 12h07
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Por Adela Suliman

Carnaval de Notting Hill, em Londres 28/08/2017 REUTERS/Eddie Keogh
Carnaval de Notting Hill, em Londres 28/08/2017 REUTERS/Eddie Keogh
Foto: Reuters

LONDRES (Thomson Reuters Foundation) - Com lantejoulas, temperos e música soca, Londres celebrará sua herança afro-caribenha durante o carnaval de Notting Hill neste final de semana, mas moradores temem que o terceiro maior festival de rua da Europa tenha perdido sua essência para a gentrificação.

Mais de um milhão de pessoas deve ir ao badalado bairro do oeste londrino durante o feriado prolongado, quando carros alegóricos desfilarão pelas ruas como parte do show composto por trajes chamativos, música vibrante e dança.

Organizadores dizem que a festa só perde em dimensão para o carnaval do Rio de Janeiro, mas alguns britânicos temem que Notting Hill e seu desfile anual tenham perdido sua essência.

"É importante mantermos coisas como o carnaval de Notting Hill e os aspectos culturais fortes dele, porque é quase como se existisse uma última coisinha à qual estamos nos agarrando nesta área que é caribenha", disse Sonya Dyer, de origem jamaicana, que desenha roupas para o carnaval.

A festa foi criada para celebrar a cultura afro-caribenha, que floresceu com a imigração após a Segunda Guerra Mundial. Confrontos com a extrema-direita vieram em seguida e conflitos raciais irromperam no que era um enclave imigrante precário em 1958.

Agora, a área é uma das mais ricas de Londres, com casas elegantes habitadas por banqueiros, oligarcas e celebridades.

"(O carnaval) ainda é muito o coração da comunidade. Fala-se muito da gentrificação de Notting Hill como área, mas ainda existe uma comunidade aqui, resistindo", disse o organizador do festival, Matthew Phillip, à Thomson Reuters Foundation.

Entretanto, uma casa típica na área custa mais de um milhão de libras (1,28 milhão de dólares), de acordo com a imobiliária Foxtons, frente a cerca de 392 mil libras (500 mil dólares) duas décadas atrás.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a desigualdade de renda entre adultos cresceu mais rápido no Reino Unido do que em qualquer outro país desenvolvido desde 1975 e, em Londres, as diferenças são ainda mais pronunciadas.

Essas mudanças se refletem no carnaval, disse Bilal Ibn Fahim, que sente os perfumes e escuta os barulhos da festa de sua casa.

"Com certeza se gentrificou, você vê muito mais gente branca de classe média vindo".

Além de atrair milhões de pessoas e fazer da área um destino turístico, o carnaval contribui com cerca de 93 milhões de libras (118 milhões de dólares) para a economia londrina, segundo a prefeitura.

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