Luis Fernando Verissimo deixa de escrever crônicas para o 'Estadão'
Escritor sofreu um AVC em janeiro de 2021, o que, desde então, tem dificultado sua produção de textos escritos
Era janeiro de 2021 - Luis Fernando Verissimo escrevia uma crônica sobre os Estados Unidos para o jornal O Globo, em sua casa, em Porto Alegre, quando decidiu terminar no dia seguinte. Não conseguiu, pois, na madrugada, sentiu-se mal e, depois de levado a um hospital, constatou-se que sofrera um AVC.
O momento já era delicado, pois o escritor se recuperava de um problema na mandíbula, que o levara a ser submetido a uma cirurgia em novembro do ano anterior. Uma parte cognitiva do cérebro foi afetada, o que dificultava a ordenação do pensamento, ainda que entendesse o que passava a seu redor.
Inglês
A recuperação tem sido lenta, mas gradual. Fatos curiosos aconteceram, como a facilidade para se comunicar melhor em inglês, língua na qual tem fluência por ter passado a infância nos Estados Unidos. E, se as palavras não vinham com rapidez, a interação era feita por desenhos, que traçou cuidando dos detalhes.
Alguns se revelaram significativos - como o desenho que mostra um corpo que, no lugar da cabeça, surge uma representação do que pode ser sua consciência da confusão mental em que está envolvido. Ou da ilustração de várias pessoas usando máscara, o que revela atenção à atualidade.
Impossibilitado de escrever, Verissimo encerra, assim, sua valorosa colaboração no Estadão, iniciada em 1988. Mas continua atento ao seu redor - todas as noites, assiste a um filme (de preferência, na língua inglesa). Também ouve boa música, especialmente MPB e, claro, jazz: tem gostado particularmente da cantora e trompetista catalã Andrea Motis. E, prova de que continua com o pensamento afiado, começou a reler o desafiante romance Ulysses, de Joyce.
Confira alguns momentos marcantes de Luis Fernando Verissimo no Estadão: