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Luto de Lya Luft é revivido por Denise Del Vecchio no monólogo 'O Lado Fatal'

Atriz protagoniza solo que traz à tona os sentimentos da polêmica relação da escritora com o psicanalista Hélio Pellegrino

10 ago 2023 - 14h41
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Aos 72 anos, a atriz Denise Del Vecchio atualiza o comportamento de uma mulher da década de 1980 que largou a estabilidade de um casamento e os três filhos para viver uma paixão. O monólogo O Lado Fatal, adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft (1938-2021), publicado em 1988, traz uma rara manifestação confessional da escritora gaúcha. A montagem, que estreia nesta quinta-feira, 10, no Sesc Belenzinho, ressignifica o desejo em uma sociedade machista que pouco mudou, mas pode ter avançado diante da aceitação de uma figura feminina madura que se permite um novo amor.

Denise Del Vecchio em monólogo "O Lado Fatal", adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft
Denise Del Vecchio em monólogo "O Lado Fatal", adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft
Foto: Divulgação/Danilo Apoena / Estadão

Casada com o professor e linguista Celso Pedro Luft (1921-1995), Lya rompeu a união de mais de duas décadas, deixou Porto Alegre e foi morar com o psicanalista mineiro Hélio Pellegrino (1924-1988) no Rio de Janeiro. A autora tinha 47 anos, o que hoje pode parecer corriqueiro para uma separação, mas, na época, causou certo escândalo na capital gaúcha. Pellegrino morreu três anos depois, derrotado por problemas cardíacos, e Lya, na tentativa de enfrentar o luto, lançou a obra repleta de poemas reflexivos que abrem frestas sobre sua intimidade e a tragédia do próprio destino.

Em meio às discussões sobre etarismo, Denise reconhece que sua idade amplia o sentido da dramaturgia. Afinal, o que está sendo contado é um fato recente, logo a personagem da peça teria vivido aquele turbilhão depois dos 60 anos - tal atitude continua transgressora mesmo nos dias atuais.

Mais do que isso, no entanto, a artista reforça o desabafo de uma pessoa destruída e inconformada com a perda do ser amado. "Lya se desvenda no texto, uma mulher de origem alemã, dona de um extremo autocontrole, que cria um distanciamento, olha a dor e a raiva pelo lado de fora", diz a atriz, que interpretou a intensa poeta portuguesa Florbela Espanca (1894-1930) em outro solo, em 1991, dirigida por Cibele Forjaz. "Sou uma apaixonada pela literatura e esse trabalho é meu reencontro com a palavra."

Sutileza ao retratar sensualidade e dor

Darson Ribeiro ressalta a entrega da protagonista e sua disponibilidade para ressaltar sutilmente uma possível sensualidade na personagem madura. "Em uma cena, Denise puxa o vestido, mostra as pernas e, em outra, estabelece um jogo com a plateia, solta uma palavra e faz o público imaginar que isso a colocaria na cama com o Hélio", afirma o diretor.

No palco, essa mulher está em uma sessão de terapia com um psicanalista invisível (representado pela voz em off do ator José Rubens Chachá) - o que seria uma homenagem a Pellegrino. Ribeiro teve a adaptação aprovada por Lya meses antes de sua morte, aos 83 anos, vítima de um câncer, em Porto Alegre. Ela voltou à cidade logo depois do luto e, inclusive, se reconciliou com o primeiro marido. "Lya só pediu para trocar uma palavra em todo o texto, amante por amado", diz.

Imersão na obra

A escritora e o diretor se conheceram durante um festival de teatro na capital gaúcha, em 2010. A simpatia foi mútua, houve uma troca de telefones e Ribeiro, que, até então, só conhecia Perdas e Ganhos, o grande sucesso editorial da autora, correu atrás da sua obra com crescente interesse. Encontrou O Lado Fatal em um sebo e se encantou com o potencial dramatúrgico daquele texto. O livro tinha sido levado aos palcos uma única vez, em 1996, interpretado por Beatriz Segall (1926-2018), e, por muito tempo, permaneceu esquecido, fora de circulação, sendo relançado pela Record em 2011.

Denise também correu atrás de outros títulos da obra de Lya. Tinha O Silêncio dos Amantes (2008) como um dos preferidos, mas, às vésperas da estreia, devorou um de seus primeiros romances, O Quarto Fechado (1984). "Não seria a mesma coisa fazer a peça sem lê-lo", observa. A temporada no Sesc Belenzinho reverbera sua infância e adolescência.

Denise foi criada na Zona Leste e morava na Rua Padre Adelino, onde fica a unidade do Sesc e, entre 1934 e 1980, funcionou a tecelagem Moinho Santista. "Passava todos dos dias na frente para ir à escola, mas é impressionante como tudo em São Paulo se torna irreconhecível", comenta.

Seu pai era ourives e sua mãe confeccionava sapatos em casa. "Venho de uma família idealista e levei isso ao teatro, por isso valorizo o que interpreto", afirma. "Só faria um texto que não me encantasse se precisasse de dinheiro para matar a fome."

Serviço

  • O Lado Fatal
  • Onde: Sesc Belenzinho. Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho.
  • Quando: Quinta a sábado, 20h; domingo, 17h. A partir de 10 de agosto até o dia 27.
  • Preço: R$ 30

Denise Del Vecchio em monólogo "O Lado Fatal", adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft
Denise Del Vecchio em monólogo "O Lado Fatal", adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft
Foto: Divulgação/Danilo Apoena / Estadão
Denise Del Vecchio em monólogo "O Lado Fatal", adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft
Denise Del Vecchio em monólogo "O Lado Fatal", adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft
Foto: Divulgação/Danilo Apoena / Estadão
Denise Del Vecchio em monólogo "O Lado Fatal", adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft
Denise Del Vecchio em monólogo "O Lado Fatal", adaptação e direção de Darson Ribeiro para o livro homônimo de Lya Luft
Foto: Divulgação/Danilo Apoena / Estadão
Estadão
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