Marcelo Rubens Paiva: Estado mínimo e mortes
'Homens negros morrem mais por covid-19 do que homens brancos independentemente da ocupação, tanto no topo quanto na base do mercado de trabalho'
No tempo dos meus avós, ser de direita era ser nazista, fascista e seus derivados, como integralista. No Brasil, como defender uma raça pura numa ocupação de europeus em terras indígenas, que traficaram negros para trabalhar?
Antes de 2013, ninguém dizia de boca cheia "sou de direita". Tinha malufistas, ou "filhotes da ditadura", diria Brizola. Depois, a polarização se consolidou entre petistas e tucanos.
Um episódio hediondo foi o do grupo de skinheads conhecidos como Carecas do ABC, que, em fevereiro de 2000, espancou até a morte o adestrador de cães Edson Néris da Silva na Praça da República. Ele passeava de mãos dadas com seu companheiro. Ao se vangloriarem com grupos neonazistas do feito, receberam como resposta que skinheads brasileiros não eram bem-vindos.
A extrema direita cresce no mundo. Neonazistas brasileiros estão por aí. Criminosos aparecem de suásticas ou fazendo gestos nazistas, o que é ilegal. Mas enquanto a direita mundial finca pé na luta contra a imigração, a daqui mata gays.
Tornou-se comum um cidadão se definir como de direita, o que é parte do jogo. Antipetismo, anticomunismo, família tradicional conservadora (apesar de não existir no Direito de família diferença entre famílias de pais héteros e gays), costumes religiosos e o Estado mínimo se tornaram bandeira da direita brasileira.
A corrente cultivada por Margareth Thatcher e Reagan revive o laissez-faire, liberalismo econômico em que o mercado deve ser livre, sem subsídios. O indivíduo é a unidade básica da sociedade, tem o direito natural da liberdade. A ordem da natureza é um sistema harmonioso e autorregulado.
Homens negros morrem mais por covid-19 do que homens brancos independentemente da ocupação, tanto no topo quanto na base do mercado de trabalho. Mulheres negras morrem mais do que todos os outros grupos.
Trabalhadores agrícolas, autônomos do comércio e trabalhadores dos transportes foram os que apresentaram o maior volume absoluto de mortes por covid.
Líderes religiosos, trabalhadores da segurança, da saúde e das artes e cultura são os profissionais que apresentaram as maiores taxas relativas de mortes por covid-19 em 2020, afirma boletim da Rede de Políticas Públicas & Sociedade. Me pergunto como um Estado mínimo diminuiria essas mortes.
Cortar impostos não é diminuir salário de policiais, agentes de saúde, educação, fiscalização? E vacinação, subnutrição, incentivo à cultura, programas de moradia e farmácia popular, e de distribuição de renda?
Os defensores do Estado mínimo creem que o mercado fará justiça social, estradas, aeroportos, túneis. Na privatização, empresas pagaram para operar estradas públicas já existentes. Nenhuma privada foi construída.