Minha unha do pé tinha micose e caiu - e agora?
'Será que essa unha não vai voltar a ser normal nunca mais?'
No meio da pandemia, com tempo de sobra para investigar meu próprio corpo, descobri aterrorizada que minha unha do dedão do pé tinha micose. Descobri também que ela se desenvolvia lá, sem meu olhar, há pelo menos um ano. Envolvida que estava com a vida em altíssima velocidade, a esquecida unha do pé, que até já foi tema de crônica, certamente tentou chamar minha atenção sem sucesso, até aquela noite em que simplesmente desistiu e caiu ali no meio do quarto para pavor meu e, claro, do meu marido.
Constrangida, me culpei pela desatenção e percebi naquele momento que gostava muito das minhas unhas, que elas têm o formato igual às do meu pai - o incrível poder da genética nos menores detalhes. Procurei, então, uma dermatologista que se mostrou mais interessada em "curar" minhas rugas e flacidez, de que até então eu nunca tinha me dado conta, do que se preocupar em ajudar a minha agora querida unha do pé. Sem me dar por vencida, procurei uma determinada podóloga, que me garantiu dedicação e carinho à desatendida unha se eu fizesse a minha parte, aplicação semanal de remédios e óleos essenciais.
A cada semana, nosso encontro acontecia e a unha, que chamarei de "ela" a partir de agora, fazia magicamente sua parte. Caiu mais algumas vezes, deixando claro todo mal que eu lhe tinha infligido, depois voltou a crescer com cor e formato novos e incompatíveis com a minha expectativa. Trabalho com mídias sociais e deixá-la à mostra em sandálias foi um teste de fogo para minha autoestima.
Fui enfática ao defendê-la do julgamento de parte da audiência capaz de palavras duras quanto ao seu novo "shape", mas eu e minha agora amiga e confidente podóloga não nos abatemos por nenhum momento, sem proferir uma só palavra que pudesse colocar o esforço "dela" à prova, fotografamos e elogiamos os avanços e recuos da guerreira a cada semana.
Até que, depois de quase três anos, durante esta semana, frustrada depois de um dia difícil no trabalho, proferi palavras grosseiras a ela, sentindo-me constrangida por sua aparência. No encontro semanal, sem paciência, disse à podóloga: "Mas será que essa unha não vai voltar a ser normal nunca mais?". Silêncio.
A dedicada profissional continuou seu trabalho quieta, delicada e firme até acabar. Fotografou como a cada semana para seu arquivo de tratamento, me olhou e disse. "Alice, ela passou por coisas que outras unhas não passaram, negligência, doença, quedas repetidas. Com resiliência, conseguiu nascer novamente, um esforço brutal para estar aqui. Normal, você quer dizer igual às outras unhas do seu pé? Não, ela nunca vai ser nem normal, muito menos igual, ela se tornou com enorme esforço uma unha diferente para sobreviver."