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Museu a céu aberto: obras de arte nas ruas de São Paulo formam um rico acervo

Trabalhos são pensados para se integrar com o ambiente urbano, criando referências para moradores e turistas

19 jul 2020 - 05h08
(atualizado às 11h38)
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Andar por São Paulo e olhar para cima: uma prática comum entre turistas, mas talvez pouco valorizada pelos que caminham pelas mesmas ruas todos os dias. Mas, ao mesmo tempo e sob diversas perspectivas, a cidade construiu em si mesma ao longo dos últimos 60 anos uma oferta ampla de obras referenciais, projetos arquitetônicos únicos, murais - e, claro, sem se esquecer do grafite, processo efêmero que encontra na contínua renovação a força estética que hoje é parte integrante da cidade.

Uma das artistas com mais obras marcantes na cidade é Maria Bonomi, italiana radicada no Brasil, autora de murais e esculturas. Aos 85 anos recém-completados, a artista está em isolamento no interior, dedicando-se à arte e à leitura.

"O ambiente pede por obras de arte, principalmente em uma cidade tão estabanada quanto São Paulo, na qual não conseguimos manter uma urbanização organizada. É necessário um tratamento visual, até para consertar certas tragédias que vemos por aí. Uma empena (parede lateral de um edifício, sem abertura) enorme vazia, em que não se fez nada, é um desperdício", diz Bonomi, por telefone.

A artista explica que as obras em prédios, por exemplo, sempre são mais ricas quando planejadas de maneira conjunta com a construção. "Os custos são muito relativos. Cobrir uma grande empena com lajotas é tão ou mais caro do que fazer um painel", conta. O importante, para ela, é como a obra de arte vai se relacionar com o ambiente ao seu redor. "A obra é pensada e criada para o lugar. Estudamos a luz, o movimento das pessoas, o espírito da região, a cosmogonia local, e aí se pensa o DNA que o trabalho terá de ter para estar naquele lugar."

Ela conta que recentemente uma mulher entrou em contato perguntando se ela sabia das intervenções realizadas na fachada do edifício Jorge Rizkallah Jorge, na Rua Bela Cintra, um mural seu. "Eu havia sido consultada, mas achei um bom indicativo de como as pessoas se ligam nessas coisas, de como é importante para a cidade. Existe um convívio diário com a obra, o que cria uma percepção e até um alívio. As pessoas passam a criar referências com a arte, e não com shopping. Não temos em São Paulo ruínas históricas, mas temos milhares de obras."

O NaLata Festival Internacional de Arte Urbana, acontecendo agora em vários pontos da capital, pretende contribuir na discussão. Os grafites e as atividades ocorrem nos arredores do Largo da Batata. Entre os artistas convidados, estão Pri Barbosa, Alex Senna, Enivo e a colombiana Gleo.

Um bom guia para quem está buscando novas visões sobre as obras espalhadas pela cidade é o site Arte Fora do Museu, agora reformulado. Quando os jornalistas André Deak e Felipe Lavignatti criaram o projeto há cerca de 10 anos, a ideia era montar um catálogo com 100 obras na cidade de São Paulo. Com a pandemia e o fechamento temporário de museus e galerias, o site (arteforadomuseu.com.br) ganha mais uma camada ao permitir a visitação virtual de cerca de 2 mil obras em ruas, feitas por mais de 500 artistas.

Ali, o internauta vai encontrar diversos guias e roteiros, como alguns dos sugeridos abaixo, com murais, esculturas, projetos arquitetônicos, e claro, o grafite. Lavignatti conta que o que começou como uma catalogação foi ganhando outras funções, de maneira orgânica. "O nome é auto explicativo: existe arte fora do museu para ser acessada. É muito comum passar em frente a uma escultura e não saber o que ela representa. A gente traz essa camada de informação e a deixa visível no mundo digital. Imaginando que a cidade é um museu a céu aberto, o site é o guia desse acervo. São informações que apuramos e que também têm um esforço colaborativo," explica.

O curador percebeu que é "impossível" ir de um ponto a outro da cidade sem passar por uma obra de arte. "Uma cidade desse tamanho, montada em concreto, é cenário de iniciativas arquitetônicas e intervenções importantes de grandes nomes, como a própria Bonomi, mas também Artacho Jurado, Niemeyer, Rino Levi, Paulo Mendes da Rocha. Uma cidade em crescimento é bom terreno para se criar essas obras."

A discussão do momento nesse assunto, sobre as estátuas que ocupam o espaço público com homenagens a escravocratas, também pode se beneficiar do Arte Fora do Museu, que provê contexto para os monumentos. "Existe toda uma logística, mas acredito que hoje essas obras caberiam mais em um museu que em uma homenagem a céu aberto", diz Lavignatti.

ARTE PRODUZIDA NA QUARENTENA

[ENG bellow] Ontem estive na Escola Etelvina de Goes Marcucci, próxima a Paraisópolis, para colaborar na renovação dos muros. A escola está sendo adaptada para ser um posto de atendimento para pessoas com sintomas leves de Covid-19, que não tenham como se isolar em casa. Um belo trabalho de renovação foi feito em todo o prédio, com o apoio da comunidade local, para receber estas pessoas. Este ano completam-se 10 anos desde que coloquei os primeiros beijoqueiros na rua. Um trabalho que sempre esteve ligado, entre outras coisas, ao afeto e suas demonstrações. Estranho hoje não poder dar um simples abraço nas pessoas que a gente gosta. Mas, quando tudo isso passar a gente volta a se abraçar. Agradeço ao @gilson_rodrigues54 ao @lozano_andre pelo convite — parabéns por todo o trabalho. Valeu @marctawil pela conexão. Tipografia da fabulosa @grafica_fidalga The phrase says: "When it all ends, we will hug each other again" Yesterday I was in the School Etelvina Marcucci, near Paraisopolis (São Paulo) to collaborate in the renovation of the walls of the building, which is being adapted to receive people with light symptoms of Covid-19 that cannot be isolated in their homes. The school was completely renovated, with the support of the local community. This year I celebrate ten years since I pasted the first piece of Pelé the kisser in the streets. For me this is a work that talks about affection, among other things. Today it seems strange that we cannot hug the people we like. But when it all ends, we will hug each other again". Thanks and congratulations to @gilson_rodrigues54 and @lozano_andre . Typography by @grafica_fidalga #streetart #arteurbana #lambelambe #covid19 #coronavirus #paraisopolis #pelé #bobmarley

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  • 1. 'Quando tudo isso passar a gente volta a se abraçar': Nova imagem (foto) do artista Bueno fica na Escola Etelvina de Goes Marcucci, próxima a Paraisópolis, zona sul de SP.
  • 2. 'Plantas Tropicas 8': Trabalho de Gui Mancini fica na Rua Fernandes Moreira, 1.394, Chácara Santo Antônio.
  • 3. 'Ishtar e Nereidas': A artista Carola Trimano desenvolveu dois murais de arte de rua em Pinheiros, na altura da Rua Cônego Eugênio Leite, 1.045.
  • 4. NaLata Festival: Nos arredores do Largo da Batata, em Pinheiros, o evento promete montar o "maior museu a céu aberto" da América Latina, com o trabalho de mais de uma dezena de artistas, nos prédios.
  • 5. 'Como será o amanhã?': O questionamento do artista Walter Nomura, o Tinho, é ilustrado em parede na Vila Maria, zona norte da capital (foto).

MURAIS

  • 1. Fachada do edifício Jorge Rizkallah Jorge: Maria Bonomi criou nos anos 1970 esse painel que faz referência aos sulcos da gravura. Fica na Rua Bela Cintra, 1.149.
  • 2. Avenida Angélica, 2.016: Assinado por Claudio Tozzi, o painel de 36 metros de altura foi construído com 1,5 milhão de pastilhas vítreas em uma área de 600 m².
  • 3. Avenida Higienópolis, 375: Projetado pelos arquitetos Ermanno Siffredi e Maria Bardelli, o prédio possui painéis com grafismos criados por Bramante Buffoni, entusiasta da pop art nos anos 50.
  • 4. Epopeia Paulista: Outro mural de Bonomi, feito a partir de objetos encontrados na seção de achados e perdidos da Estação da Luz, onde está.
  • 5. Rua Cruzeiro, 851, Barra Funda: O mural (foto) do paulista Alex Senna, visível de longe, foi feito com tinta látex.

"Nas cidades vazias dominadas pelo azul-breu um flôr ajudará a não-pensar estes que não verão mais com os olhos mas através dos olhos Te saúdam" ( Marcelo Ariel ) Em janeiro produzi esse mural em São Paulo, foram 12 dias de pintura mais todos os outros da preparação. Teve de tudo, sol, chuva, vento, frio, alegria, dor, tristeza e gargalhadas. Não tenho a foto final, mas compartilho aqui, nesse momento de hiato que vivemos, um dos murais mais trabalhosos que tive. Foram muitas adversidades pra chegar no resultado final. Agradeço aqui a @smculturasp e a minha equipe que, sem eles, nada disso seria feito. Muito obrigado @claudiasalto @locones @arielzito e @caruxuxu. Obrigado também Miriam e @alya_adhara pela recepção e ajuda durante todo o processo. 100% látex. @pedrobayeux #alexsenna

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FORA DO TEMPO?

Largo da Memória, na Consolação. Um dos pontos mais movimentados de SP 
Largo da Memória, na Consolação. Um dos pontos mais movimentados de SP
Foto: DORNICKE/WIKIMEDIA COMMONS / Estadão
  • 1. Obelisco do Piques: O obelisco foi erguido ao lado de um mercado em que negros eram traficados. Na época, ele foi dedicado à "memória do zelo do bem público". No Largo da Memória, no centro.
  • 2. 'Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo': O monumento em homenagem à criação da cidade, no Pátio do Colégio, mostra indígenas em trabalho braçal, sob as ordens de um padre.
  • 3. 'Monumento ao Anhanguera': A estátua na Av. Paulista faz tributo ao bandeirante, o "espírito do mal", conhecido por escravizar índios.
  • 4. 'Monumento às Bandeiras': Victor Brecheret buscou inspirações europeias para apresentar o projeto na Semana de 1922, montado em 1953.
  • 5. 'Borba Gato': Com 12,5 metros de altura, a obra já foi objeto de protestos por glorificar período de violência histórica.
Estadão
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