Morto há 10 anos, imagem de Michael Jackson segue em disputa
Astro não terminou de ser julgado pela História, e processo ainda levará anos; símbolo vai de herói do pop a acusado de pedofilia
Amar ou odiar Michael Jackson parece ter se tornado uma questão de escolha entre duas narrativas que conseguiram polarizar o maior caso de idolatria do século 20. Aos que o amam: Michael Jackson colocou sozinho a música pop em patamares numéricos nunca atingidos; ergueu, com Quincy Jones, Thriller, o álbum artisticamente mais vitorioso da história; e, flutuando no palco, se tornou o artista mais completo de sua era. Aos que o odeiam: denúncias de dois homens feitas no documentário Leaving Neverland apontam para prática de pedofilia nos anos 90. Jackson teria seduzido os então garotos Wade Robson e James Safechuck com todo o seu poder magnético de superastro e enganando inclusive suas mães para poder dormir com eles. Tudo na base dos depoimentos de memória e sem direito à defesa, mas com combustão suficiente para incendiar a Terra do Nunca.
E então? O que a história faz com esse homem? Apaga Michael do mapa pelo terror que pode ter provocado àquelas vidas ou deixa seu passado decidir sobre o seu futuro?
O tempo, por enquanto, observa. Michael Jackson, neste dia em que completam-se dez anos de sua partida, em dia 25 de junho de 2009, abreviada por doses desmedidas de propofol, benzodiazepina e distúrbios psíquicos que o acompanharam desde a infância em Gary, Indiana, se tornou uma incógnita que terá um veredicto mais preciso apenas por volta de 2029, quando mais dez anos devem garantir o distanciamento histórico necessário para se avaliar os prejuízos das denúncias. Afinal, Michael Jackson, o homem, teria força para derrubar Michael Jackson, o mito?
Ao mesmo tempo em que os números caminham bem, com lucros na casa dos US$ 2,5 bilhões desde sua morte, algumas homenagens pisam no freio. A mais sentida deve ser a paralisação de um documentário que vinha sendo produzido para comemorar os 50 anos do Jackson Five, o grupo seminal formado por Jackson e seus irmãos."O aniversário de 50 anos foi planejado e toda a família participou. Seria uma celebração daquilo que deu início à marca Jackson. E agora, tudo foi perdido nessa confusão", disse Jodi Gomes à agência de notícias Associated Press. Jodi trabalhou na reality serie The Jacksons: A Family Dynasty, de 2009, e na minissérie de 1992, The Jacksons: A American Dream.
Algumas emissoras de rádio também se posicionaram apagando Jackson da programação logo depois da exibição do documentário na HBO. Na Nova Zelândia, foram duas, uma do grupo MediaWorks e a outra sua concorrente, a NZME. Outras três companhias do Canadá fizeram o mesmo. O presidente da MediaWorks, Leon Wratt, declarou: "Michael Jackson não está atualmente em nenhuma playlist das estações de rádio da MediaWorks. Isso é um reflexo do nosso público e de suas preferências — é nosso trabalho garantir que nossas estações de rádio estejam tocando a música que as pessoas queiram ouvir."
As pessoas, contudo, podem querer seguir ouvindo Michael Jackson. Seu sobrinho, Siggy Jackson, que não acredita nas denúncias, disse o seguinte à AP: "Nenhuma mentira destruirá o que nos foi dado como uma bênção de Deus, que era meu tio. Você jamais destruirá o legado dele com uma mentira mesquinha. Ele estará aqui, e mesmo depois que Deus nos chamar para sua casa, esse legado viverá e nunca será destroçado". Eis o enigma Jackson: se sua obra sobreviver a uma acusação que não parece admitir o benefício da dúvida, quanto menos a discussão "crime ou patologia?", nada mais será capaz de destruí-la.
Relembre as principais músicas de Michael Jackson
Michael Jackson era uma presença que se destacava no mundo da música pop - um gigante que ficava ombro a ombro com artistas como Elvis, Beatles e Frank Sinatra. Suas habilidades como cantor, compositor e arranjador foram, por vezes, ofuscadas por sua excentricidade, mas seu legado sem dúvida serão as canções que ele gravou. Abaixo, uma seleção de suas canções mais memoráveis:
I Want You Back (1969)
Billie Jean (1982)
Beat it (1983)
Thriller (1984)
Man in the mirror (1988)
Black or White (1991)