40 anos que separam shows antológicos do Sepultura: eu estava lá
Grupo de heavy metal mais popular do Brasil encerra três noites sold-out em SP em turnê final
O Sepultura realizou um show histórico em São Paulo para encerrar sua turnê final, relembrando também sua primeira apresentação na cidade 38 anos atrás.
Antes de falar do show do Sepultura, o terceiro sold-out em São Paulo em 8 de setembro, no Espaço Unimed, da turnê final da banda, aos 40 anos desta, quero falar de uma apresentação que aconteceu há exatos 38 anos e 4 meses. Em 10 de maio de 1986, na casa de shows Heavy Metal, na Vila Carrão, a banda mineira se apresentou na cidade pela primeira vez. Faço a ponte entre os (talvez) dois shows mais importantes do conjunto na capital paulista porque fui em ambos.
Há um terceiro show lendário do Sepultura em São Paulo, na frente do estádio do Pacaembu, na Praça Charles Miller, gratuito, mas esse entrou para a história pela violência e por ter protagonizado morte de fã.
O primeiro show do grupo na cidade foi tão importante não porque a banda era gigante ou promissora, mas por mostrar para fãs de metal adolescentes que era possível. Nem o Andreas Kisser estava na banda – guitarrista-solo (como chamávamos) era o Jairo Guedes, que hoje comanda o Troops of Doom. O único remanescente nesses 40 anos de banda é o baixista Paulo Xisto, já que os irmãos Cavalera – Iggor, baterista, e Max, vocalista e guitarrista – saíram no decorrer dos anos.
O EP de estreia, "Bestial Devastation" (na verdade um álbum split com a banda Overdose) havia sido lançado no final de 1985. Quatro músicas e uma introdução ("The Curse") que montaram repertório curto e direto junto a dois covers, "Black Magic", do Slayer, e "Living in Fear", do Kreator (tudo menos a data exata são lembranças de cabeça, de tão marcante que foi o show). As quatro músicas eram "Antichrist", "Bestial Devastation", "Necromancer" e "Warriors of Death", explicitamente inspiradas em Destruction, Kreator e Hellhammer/Celtic Frost.
No pulo para a noite final no Espaço Unimed, a introdução não foi própria, mas com "War Pigs" (Black Sabbath) e "Polícia" (Titãs). Um set que começou demolidor – "Refuse/Resist" e "Territory" –, caminhou para um miolo de carreira mais para o morno, com inclusões de álbuns como "Roorback", "Against", apesar de algumas do "Roots", e um final apoteótico. De "Escape to the Void" para frente, com "Biotech is Godzilla", "Orgasmatron", "Arise" e a seminal "Troops of Doom", foi uma sapatada atrás da outra. Até a apoteose de "Roots Bloody Roots".
O Sepultura encerra sua história na forma merecida – a bordo de seu melhor álbum, "Quadra", de 2020 (veja que disse “melhor” técnica e sonoramente, não meu “preferido”) e nos ombros de massa de headbangers. “Under a pale gray sky / We shall arise.”