Aos 87 anos, lenda do blues B.B. King faz show intimista em SP
De um canto escuro do palco, um homem de terno deixa ecoar pelo bar os acordes ácidos do piano. Apesar da luz baixa, é possível ver a decoração inspirada nos antigos cabarés norte-americanos de blues, além dos garçons que transportam, sem cessar, vinho e uísque ao público sedento por uma experiência que resgate a velha Mississipi. Às 22h30 deste domingo (8), finalmente subiram ao palco do Bourbon Street, na capital paulista, os veteranos músicos que compõem a banda da lenda viva do blues: B.B. King.
Após embalarem a plateia com seus virtuosos solos de guitarra, bateria e quarteto de sopro, B.B. King recebe uma apresentação calorosa de um dos saxofonistas do grupo. Ele, então, sai do backstage e se move em passos lentos e com um sorriso estampado no rosto, em direção a uma de suas famosas Gibson preta - que ele carinhosamente chama de Lucille há mais de cinco décadas - e à cadeira ao centro, em que permanece sentado durante toda a apresentação. Aos 87 anos, B.B. King exibe toda a intimidade que possui com o instrumento e com o palco, em performances carregadas de feeling e diálogos descontraídos com os fãs.
"Olá, senhoras e senhores. Estava pensando que já se passaram 19 anos desde que estive aqui pela primeira vez", diz ele, com seu sotaque quase cantado, acompanhado pelas batidas da bateria ao fundo - em dezembro de 1993, foi ele quem inaugurou a casa noturna. Sempre bem humorado, B.B. King ainda apresenta sua banda com carinho, pedindo aplausos do público para cada um deles. A primeira canção, I Need You So, ele oferece "a todos, a todos nós".
Nas mesas próximas ao palco, dois casais sortudos recebem as românticas Key to the Highway e I Love You So como homenagem. As intervenções nos versos tradicionais são constantes, mesmo com frases quase inaudíveis que ele chega a se desculpar aos risos: "meu inglês é muito ruim". Na sequência, os primeiros acordes da triste The Thrill is Gone são recebidos com ovações.
O "hino" da Louisiana, You Are My Sunshine - composto por Jimmie Davis em 1939 - é interpretado por B. B. King com a ajuda do público, que canta em coro com empolgação. Satisfeito com o desempenho da plateia, ele se diverte ao acompanhar as vozes do salão com palmas. Depois de alguns minutos de refrão repetido, o veterano volta a sua batida bluezística com a contagiante Rock Me Baby.
Apesar de os fãs chamarem a famosa Sweet Sixteen durante todo o show, o músico fecha a apresentação com Guess Who, em uma interpretação que soa como um quase flerte com a plateia. "Someone really loves you, guess who" ("alguém realmente te ama, adivinhe quem"), pergunta aos presentes. Com paciência e sem economizar nos sorrisos, se despede e recebe o público no palco, tirando fotos, dando autógrafos e distribuindo abraços.