Banda Pietá abraça poesia e política no álbum 'Santo Sossego'
Grupo de MPB apresenta Santo Sossego no Mundo Pensante, nesta quinta-feira
Quando o fogo lambeu as paredes do Museu Nacional do Rio de Janeiro e transformou em cinzas parte de seu acervo histórico e científico em setembro do ano passado, os músicos Juliana Linhares, Frederico Demarca e Rafael Lorga, sensibilizados com a tragédia, se reuniram para criar a música Oração pra Luzia. A letra da canção da banda Pietá traz luz sobre a história, simbolizada na presença de Luzia, o fóssil abrigado no museu que transformou as teorias sobre a ocupação das civilizações no continente americano.
"A cada dia, nós, da cultura, levamos uma porrada diferente. A gente precisa ter muita força interna para contagiar as pessoas com o que sentimos. Não podemos deixar, nesse momento, de realizar as coisas senão matamos a nossa fonte de inspiração", diz Juliana.
É graças ao elo quase umbilical com os braços variados da cultura que o trio tem tanto em comum. Juliana Linhares (vocalista), Frederico Demarca (violão) e Rafael Lorga (percussão) se conheceram nas aulas do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e se juntaram para formar o Pietá.
Bebendo das mais variadas vertentes da MPB, a banda tem show marcado em São Paulo para o dia 1º de agosto, no Mundo Pensante, para apresentar o álbum Santo Sossego, com sonoridade mais elétrica que Leve o Que Quiser, primeiro trabalho do trio.
Uma das influências na substituição dos violinos e clarinetes por guitarras e sintetizadores está na participação do produtor Jr. Tostoi, que ajudou a moldar a sonoridade do novo álbum.
"Foi muito feliz esse encontro no álbum por vários motivos, pela amizade e pelos trabalhos que ele já fez. A gente se aproximou dele já com o interesse de produzir alguma coisa nesse caminho. Contamos com a colaboração das distorções, das guitarras, que estão presentes no álbum", destaca Lorga.
Além da mudança na sonoridade - mais ruidoso, como diz Demarca-, o novo álbum conta com letras que abraçam tanto poesia e como política.
Além de Oração pra Luzia, outras letras permeiam os acontecimentos sociais e políticos no Brasil dos últimos anos. Em Pietá e também em Jabaculê, o grupo critica o falso moralismo na política, como no trecho "Ai de vocês, mestres da lei e hipócritas, sepulturas fraquejadas que, por fora, parecem tão elegantes e polidas, mas, por dentro, são uma massa de índice e corrupção".
"Essa situação (no país) de truculência e desumanidade não pode perdurar. O que eles querem é que a gente fique deprimido", explica Demarca.
Já em Suçuarana, o trio associa a força feminina com a ferocidade de uma onça nordestina, com o verso "Nenhuma filha terá mais nada a temer".
O próprio nome do álbum Santo Sossego é um questionamento do Pietá sobre como viver em paz em meio ao caos. Para Juliana, trata-se de um objetivo utópico.
"É uma grande ironia. (O santo sossego) passa por nós e vai embora. Vem e vai, como tudo na vida. Tem que tentar fazer aquilo que a gente acredita, com pessoas que você ama".
Além da apresentação em São Paulo, com participação da cantora Josyara, a banda ainda tem mais três shows marcados para este mês: dia 3, no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro; no dia 9 no Espaço do Ar, em Belo Horizonte; e no dia 22, no Agulha, em Porto Alegre.
"Quem for assistir ao show pode esperar uma apresentação toda pensada e desenhada com muito carinho. Para São Paulo, pensamos em algo muito especial. A gente quer fazer tremer", avisa Juliana.