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Chitãozinho e Xororó alertam para falta de conteúdo de nova geração

Dupla lança DVD ao vivo gravado em SP; em entrevista ao Terra, Xororó falou sobre influências e falta de qualidade de composições

3 dez 2013 - 15h58
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Foto: Cadu Fernandes / Divulgação

No lugar da foto posada na porteira da roça, um smartphone filmando o show. Logo na capa do DVD e CD e Do Tamanho do Nosso Amor, a dupla Chitãozinho e Xororó mostra o sertanejo definitivamente se modernizou em uma das épocas onde o gênero está tão em evidência. Em entrevista ao Terra, Xororó falou sobre o registro - feito ao vivo no Woods Bar, em São Paulo - e como a dupla, mesmo com 40 anos de estrada, ainda trabalha - e retrabalha - seu material na hora de um registro ao vivo como este.

O sertanejo falou inclusive sobre suas influências mais recentes, que vão do badalado grupo Mumford & Sons aos guitarristas John Mayer e Ben Harper. "O John Mayer eu já vi três vezes. Acabei de ver aqui em São Paulo e depois fui pra Nova York. Dois ou três dias depois ele estava em Nova York tocando no Central Park e vimos novamente. Eu sou fã. Toca muito, canta muito e as letras são maravilhosas", afirmou.

Embora a dupla comemore a alta exposição pela qual passa o sertanejo, Xororó não vê com bons olhos o momento com poucas composições relevantes. Em uma era onde o "tcherê" domina os refrões mais cantados das rádios, o sertanejo alerta que o apelo comercial nem sempre é o melhor caminho.

"A galera nova está muito preocupada com o momento. Eles têm que pensar lá na frente. Essas músicas mais comerciais e mais dançantes, o povo adora. Está certo. Precisa fazer, mas não pode esquecer a qualidade. O que fica é o conteúdo".

Foto: Divulgação

Confira a entrevista:

Terra - Recentemente, DVDs ao vivo têm um som muito polido, cheio de produção...

Xororó - Tava muito fake né?

Terra – Vocês foram atrás dessa sonoridade mais crua propositalmente?

Xororó - Foi planejado né. Começamos pelos arranjos. A gente sentiu viajando pelo País que a gente ouvia muita música nossa que o povo pede, mas a sonoridade estava antiquada. Começamos há tanto tempo e a sonoridade naquela época era inovação, mas aquele novo já está velho hoje. Estava na hora da gente trazer essas músicas para novas sonoridades. E aí nós pensamos no Fernando, da dupla com o Sorocaba. A gente se identifica muito com o trabalho deles e ele já estava produzindo muita coisa.Chamamos para fazer duas músicas e quando ele mandou as maquetes, a gente gostou muito. A gente achou o que queria. Aí falamos: “bicho, você vai fazer as outras também”. Ele topou e marcamos a Woods para fazer. Depois de três projetos especiais - o primeiro que foi o DVD com a nova geração com Luan Santana e Jorge & Matheus, a gente fez o Entre Amigos com Zezé, Leonardo, Daniel e a moçada que está com a gente mais tempo, e depois o sinfônico na Sala São Paulo com aquela sonoridade, maestro, Caetano, Djavan -, nós pensamos: “caramba, o que vamos fazer agora para superar esse DVD que nos deu todos esses prêmios no Brasil? Vamos fazer uma coisa pequeninha sem essa pretensão de ser um DVD, vamos fazer só um CD”.  Mas aí nós falamos pra nossa equipe registrar em vídeo para usar esse material para divulgação na internet. Aí chamei o menino que já cuida dos vídeos, o Bruno, e mostrei um trabalho que eu curto muito. Sou fã do John Mayer e mostrei um programa de TV que ele fez nos Estados Unidos com o Keith Urban para o canal CMT. Mostrei a ideia e disse que queria aquele corte, tinha que ser dinâmico. Público que vai assistir a isso é pela internet. Jovem não tem paciência de ficar perdendo tempo na internet. Ele entendeu tanto que a gente gostou do resultado e resolveu lançar um DVD também. Não podia ser só um CD. A gente conseguiu captar um bom público, que era um público pagante e não foi aquela coisa preparada para fazer um CD. Foi ingresso vendido com a galera da balada mesmo que estava ali cantando enlouquecida com a gente desde o começo. Foi fácil pra gente porque registrou uma verdade, um momento que a gente viveu ali sem a programação.

Foto: Cadu Fernandes / Divulgação
Terra – Como que funciona essa interação com outros gêneros?

Xororó - Esse é um dos motivos da gente estar há mais de 40 anos cantando a música sertaneja. A gente começou muito cedo, na infância. A gente aprendeu a ouvir de tudo e tem a cobrança do público jovem: “você tem que largar de cantar música caipira, você tem que cantar rock, MPB”. A molecada falava isso pra gente na época, mas a gente gostava de fazer o nosso som. Desde sempre a gente queria fazer música sertaneja pra jovem também, a gente nunca se esqueceu disso.  Mas também com a preocupação de não perder o público tradicional. Por isso sempre temos sanfona, viola e nas músicas que a gente fala da raiz, da terra, a gente procura falar de uma maneira poética. A preocupação com a letra e com o conteúdo da música. A gente nunca pensou em gravar música pelo refrão e pelo sucesso imediato. Música tem que ficar. Rancho Fundo, Terra Tombada e Fogão de Lenha são canções que o público não esquece e sempre pede.

Terra – Como foi esse processo de remexer em algumas músicas antigas e trabalhar em novos arranjos?

Xororó - Eu sempre fui muito ligado aos arranjos e composições. Cada disco tem uma ou duas músicas minhas, mas nunca me considerei um grande autor. Nos arranjos eu sempre me envolvi muito. Ouço muita coisa de fora e vou a muitos shows internacionais. Vendo lá fora você vai aprendendo e a gente sente o que cabe dentro da música. A gente sempre colocou banjo, gaita, rabeca e os elementos da música country no sertanejo. Quando começamos a fazer músicas, já tinha influência da música mexicana e paraguaia. Assim foi com a música country. Precisa sempre ter a cabeça aberta para ouvir. Por exemplo, A Majestade O Sabia, quando a autora nos trouxe, a gente começou a cantar e fez o arranjo. A introdução eu que criei na hora. Mas a gente sentiu que a música tinha mais a ver com o cantor de outra área. Na época a gente estava na gravadora Copacabana e estávamos ouvindo no outro estúdio o Jair Rodrigues e pensamos: “essa música vai ficar fantástica na voz dele”. Mostramos para e ele disse: “eu gravo essa música agora, mas com a participação de vocês”. Essa foi nossa primeira parceria com um cantor de nome e foi um hit. Vendeu mais de um milhão na época. Sempre que sentimos que a música precisa de uma parceria nós vamos atrás. Felizmente a gente sempre consegue porque tem esse carinho dos artistas. Procuramos inovar porque isso é importante para o segmento.

Terra – Você citou o John Mayer. Tem outro artista que admire desta geração?

Xororó - Gosto muito do Ben Harper. Ele é um craque. Tenho muita vontade de fazer alguma coisa com ele. Me identifico com aquele lap steel que ele toca. Fui ver um show dele em Nova York em um lugarzinho pequeno e marquei uma bobeira. Estava com a minha mulher e a Sandy e esperamos sentados no canto. Foi lotando o lugar e quando vimos não dava mais para assistir na frente e vimos do telão meio afastado. Aí já chegaram alguns brasileiros chegando e assediando. Acabei vendo pouquíssimo do show e fui embora (risos). O John Mayer eu já vi três vezes. Acabei de ver aqui em São Paulo e depois fui pra Nova York. Dois ou três dias depois ele estava em Nova York tocando no Central Park e vimos novamente. Coincidência. Quando dá eu sigo. Eu sou fã. Toca muito, canta muito e as letras são maravilhosas.

Terra – Vocês aparentam muito conforto no palco ao flertar com outros gêneros. Há uma canção que tem a participação do Cabal e da banda do Junior.

Xororó - Vida Marvada, quando a gente fez música, a gente ouviu uma dupla de Nashville que tinha a participação de um rapper. Um rapper com chapéu de cowboy e curtimos demais. Estávamos pensando em fazer uma versão dela quando chegou essa música.  Quando ouvi eu pensei que a levada poderia ter essa história do rapper. Levei para o Junior e ele gostou: “vai ficar ótimo”. Aí eu perguntei se ele conhecia alguém. “Cabal”. Liguei pra ele e na hora ele topou.  “Posso escrever a letra?”. Todas as vezes que a gente fez show em São Paulo e ele estava na área ele foi. Um grande parceiro. Essa música nos deu o primeiro Grammy Latino. A gente não tinha essa música em vídeo. Como ela as músicas estavam ganhando nova roupagem, aproveitamos o registro. Como o Junior sempre gostou de tocar essa nas canjas quando ele vai aos shows, disse pra ele ir com o Dexterz. Já põe todo mundo junto. E ficou muito bacana. Você assistiu ao vídeo?

Terra – Sim. Por isso falei desse conforto de transitar em estilos bem distantes, como o rap.

Xororó - A gente é meio cara de pau. Eu acho que a gente, com o tempo, aprende a ouvir o que a música está pedindo. É uma conversa. Cada canção fala se precisa de cordas ou qual arranjo. Vida Marvada pedia essa coisa do rapper e essa ligação do meu filho com a música eletrônica. Essa troca é muito legal. A gente ensina os filhos por um período, depois eles ensinam pra gente.

Terra – O que aprendeu com ele, por exemplo?

Xororó - Essa coisa de eu ter tantas músicas diferentes no meu iPhone veio dele.  Ele me mostrou o Ben Harper, por exemplo. Ele me mostrou um grupo que eu fiquei muito fã e comecei a seguir, que é o Mumford & Sons. Eu adoro. A música que eu fiz com o Victor Chaves, Nosso Amor É Assim, tem essa levada. Mostrei a música pro Lucas e pedi um arranjo. Ele falou: “você conhece um grupo ‘assim e assado’?”. Pera aí. Não só conheço como tenho todos os discos.  Isso que motiva a gente. Se você fica na mesmice você vai cansar e faz tudo no automático. Esse mesmo show que a gente tem feito com a pegada e cheio de guitarras, a gente fez ontem todo acústico e rolou muito legal. Isso dá um ânimo novo.

Terra – Gosta de retrabalhar as cações?

Xororó - Isso nos ajuda a exercitar. A gente experimenta e vê como cada música cresceu.

Terra – Você gosta do momento da música sertaneja?

Xororó - Tem pouco gente se destacando na área da composição. O Sorocaba é um cara que escreve muito bem. Ele mostrou quatro músicas e escolhemos Do Tamanho do Nosso Amor. Como o Fernando fez o arranjo, nós o convidamos para participar também. Mas são poucos que estão fazendo com essa qualidade e conteúdo. A galera nova está muito preocupada com o momento. Eles têm que pensar lá na frente. Essas músicas mais comerciais e mais dançantes, o povo adora. Está certo. Precisa fazer, mas não pode esquecer a qualidade. O que fica é o conteúdo. É um momento fantástico, tanto que a gente sempre apoiou desde o início. O público sabe eleger quem realmente tem talento. Tem uma galera grande fazendo, se ficar 50 dos que estão aí será excelente para a música brasileira.

Foto: Cadu Fernandes / Divulgação

Fonte: Terra
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