Como era trabalhar com "controladores" no Kiss, segundo Ace Frehley
Guitarrista notou em dado momento que funcionaria melhor se desenvolvesse suas composições sozinho
Ace Frehley não tem nenhum problema em expor as situações ruins que viveu com o Kiss. O guitarrista, que deixou o já encerrado grupo no início dos anos 2000, alega que os líderes Paul Stanley e Gene Simmons eram controladores em estúdio.
As gravações de um álbum clássico representam o ponto alto desse problema. Em especial, a chegada de um famoso produtor catalisou a situação.
O músico conversou com a revista Goldmine sobre a experiência trazida por seu álbum solo, homônimo, de 1978. A partir daquele momento, Frehley percebeu que trabalhar sozinho poderia funcionar melhor do que com os colegas.
Ele relembra:
Depois do sucesso do meu álbum solo, ficou claro para mim. Percebi que era mais criativo longe daqueles caras porque eles são controladores e gostam das coisas do jeito que eles querem. Não gosto de gravar da maneira que eles gravam. Às vezes eles faziam 20, 25 takes da mesma música e eu dizia: 'estamos chutando cachorro morto aqui'."
A prática se tornou ainda mais recorrente quando a banda trabalhou pela primeira vez com Bob Ezrin — notório por comandar as gravações de discos de Alice Cooper e Pink Floyd e outros — no álbum Destroyer (1976). O produtor se dava melhor com o método de Stanley e Simmons.
Frehley comenta:
Isso aconteceu com Bob Ezrin trabalhando em Destroyer. Se estou trabalhando com um baterista, sou apenas eu e o baterista. Se eu não puder acertar em 3, 4, no máximo 5 takes, eu vou dizer: 'vamos tentar outra coisa'. Depois de 5, 6, 7 takes, você começa a perder espontaneidade e a ficar entediado. Fazer 25 takes de uma música é completamente absurdo."
O guitarrista garante ter provado seu ponto em uma das músicas do próprio Destroyer. Na ocasião, em vez de insistir em várias tentativas, a banda optou por engavetar a ideia e começar de novo no dia seguinte. Deu certo, segundo Ace.
Não me lembro em qual música foi, mas foi em uma das canções de Destroyer. Eu disse para Paul e Gene: 'Ouçam, por que não deixamos isso de lado agora e tentamos outra coisa? Podemos vir ao estúdio amanhã e tentar de novo'. E eis que fomos ao estúdio no dia seguinte e fizemos em 2 ou 3 takes porque conhecíamos a música, sabíamos quais eram os obstáculos e o erros que cometemos. Terminamos com espontaneidade."
Kiss, Destroyer e Bob Ezrin
Quarto álbum de estúdio do Kiss, Destroyer foi o responsável por colocar a banda em um patamar acima. Depois de três discos pouco vendidos, o sucesso veio com o ao vivo Alive! (1975). Bob Ezrin foi trazido para garantir que o grupo continuasse em um movimento ascendente na carreira.
Paul Stanley e Gene Simmons descreveriam depois a experiência de gravar com Ezrin como um "acampamento militar musical", com direito a apito pendurado no pescoço do produtor e aulas de teoria musical. A situação deixou Ace Frehley e o baterista Peter Criss incomodados, já que ambos preferiam trabalhar de forma mais relaxada.
Fato é que Destroyer se tornou um dos maiores sucessos do Kiss, com singles como "Detroit Rock City", "Shout it Out Loud" e a balada "Beth". Ezrin voltou a produzir o grupo em dois outros momentos bem distintos: o polêmico Music from 'The Elder' (1981), que marcou a primeira despedida de Frehley, e o pesado Revenge(1992), discos muito diferentes entre si.
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Colaborou: André Luiz Fernandes.