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Crítica: Documentário sobre Sidney Poitier mostra uma luta constante do ator

Produção traça panorama que vai das origens humildes ao Oscar

23 set 2022 - 18h11
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Não se esperava que Sidney Poitier sobrevivesse. Ele nasceu dois meses prematuro, filho de agricultores de tomate sem instrução no Caribe. Seu pai planejava usar uma caixa de sapatos como caixão improvisado.

A ascensão de Sidney Poitier daquela origem humilde para se tornar um vencedor do Oscar, sucesso de bilheteria, e figura dos direitos civis que transformou Hollywood parece quase roteirizada, quase boa demais para ser verdade, mas assim foi a história de Poitier, uma vida bem vivida.

O novo documentário Sidney traça respeitosamente essa vida, apresentando o retrato de um lutador que espera melhorar tudo o que faz todos os dias. "Eu realmente, realmente tento ser melhor amanhã do que fui hoje", ele diz para a câmera.

Escrito por Jesse James Miller e dirigido por Reginald Hudlin, Sidney tem produção executiva de Oprah Winfrey - que emprestou várias horas de suas próprias entrevistas com Poitier - e membros de sua família. O documentário brilha com respeito por um homem que o mereceu.

Poitier tornou-se o primeiro ator negro a ganhar um Oscar de melhor ator e o primeiro a ser um dos principais sucessos de bilheteria. Ele morreu este ano, aos 94 anos.

Durante grande parte do filme, um Poitier de cabelos grisalhos se dirige à câmera em um paletó cinza com um lenço de bolso e uma camisa branca - impecavelmente elegante, como sempre. Às vezes, entrevistas antigas trazem um Poitier mais jovem, fazendo parecer que ele está conversando consigo mesmo.

Os destaques incluem o confronto devastador com o racismo quando adolescente em Miami, a divertida história de sua primeira vez no metrô e como um anúncio à procura de atores mudou sua vida. "Posso ser muitas coisas aqui", pensou. Expulso do American Negro Theatre por ser péssimo, ele fez aulas de teatro e perdeu o sotaque caribenho ao comprar um rádio por US$ 14 e aprender a imitar um locutor que admirava.

Os cineastas têm um carismático agente de mudanças como foco, mas é mérito deles também explorarem a perda de seus altos padrões éticos, como quando Poitier teve um longo caso com Diahann Carroll, desencadeando um divórcio que dividiu a família.

A bússola moral de Poitier era mais forte do que a da maioria. No início de sua carreira, ele recusou um papel explorador, uma decisão inédita na época. E depois que ele chegou ao topo e abriu a porta para outros atores não representados, foi criticado.

Alguns o criticaram por ser muito complacente em Acorrentados, preso e ajudando um Tony Curtis branco, ou por amar uma mulher branca em Adivinhe quem vem para jantar? O pioneiro tornou-se ultrapassado à medida que a militância negra ganhava força. Assim, Poitier passou a dirigir e produzir, ainda ajudando outros a subirem na carreira.

O filme se beneficia das memórias sinceras dos filhos e da ex-mulher de Poitier, além de amigos como Morgan Freeman, Harry Belafonte, Quincy Jones, Andrew Young, Spike Lee, Denzel Washington, Louis Gosset Jr. e Robert Redford.

Outras vozes são menos eficazes, mostrando o lado celebridade, mas com pouca conexão com o homem. Barbra Streisand acrescenta pouco - "Ele era tipo, Uau!' As estrelas de cinema deveriam pensar, 'Uau!'" - e descobrimos que Halle Berry queria se casar com ele.

Até Oprah parece um pouco suspeita ao se entrevistar, mas ela faz valer a pena quando se lembra de conhecer Poitier em seu aniversário de 42 anos, uma época de sua vida em que estava sendo criticada pela comunidade negra por não fazer o suficiente, assim como Poitier havia sido.

"É difícil quando você carrega os sonhos de outras pessoas", ele disse a ela. "E então você tem que se apegar ao sonho que está dentro de você e saber que, se você for fiel a isso, é tudo o que importa."

Para aqueles que não estão familiarizados com alguns dos momentos mais famosos de Poitier, a notícia de um tapa essencial será uma surpresa. Cinquenta e cinco anos antes de Will Smith dar um tapa em Chris Rock no Oscar, o detetive Virgil Tibbs, de Poitier, deu um tapa em um ator que interpreta o dono branco de uma plantação no filme "No Calor da Noite". Foi eletrizante, sendo em 1967, quando o movimento pelos direitos civis estava atingindo seu auge. Ouvir como isso afetou profundamente as futuras estrelas negras é poderoso.

Outra veia rica se revela na relação entre Poitier e Belafonte, que um dos filhos do primeiro compara à dinâmica de um velho casal. Eles se uniram, lutaram, se reconciliaram, uma vez até escaparam da KKK. Parece quase haver outro filme aqui sobre esses dois homens carismáticos.

Mas vamos primeiro celebrar Poitier, um homem de dignidade e ética impossíveis, um homem que Lenny Kravitz diz no filme que "veio a esta Terra para movê-la". / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Estadão
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