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Diretora de Luiz Melodia – No Coração do Brasil, vencedor do In Edit, fala com exclusividade

O documentário sobre o artista carioca, morto em 2017, é exibido em SP

24 jun 2024 - 16h57
(atualizado às 16h58)
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Cantor e compositor Luiz Melodia
Cantor e compositor Luiz Melodia
Foto: Divulgação

Luiz Melodia – No Coração do Brasil foi o grande vencedor do In Edit 2024, festival de documentários de música, que terminou neste domingo. E, nesta quarta feira, 26 de junho, às 18h30, tem a última sessão no Cinesesc, na mostra dos vencedores do festival.

No documentário de Alessandra Dorgan, Luiz Melodia se mostra alguém avesso às imposições do mercado fonográfico e à fama a qualquer preço. Fala sobre a influência de seu pai, o sambista Oswaldo Melodia, de quem herdou o nome artístico. Apesar da grande influência, não se sentiu obrigado a estrear cantando samba, como desejava sua gravadora. Em outro momento, o artista conta da perplexidade que sentiu com a enorme repercussão de “Juventude Transviada”, música de sua autoria que virou tema da novela Pecado Capital da TV Globo em 1975 e alçou seu nome definitivamente para o Brasil. Ele diz sobre o sucesso: “quando você não está bem estruturado, leva um susto”. E assim, sem chance de se manter anônimo, mudou-se para Itaparica (Bahia) e esperou “a coisa acalmar”. Assim foi Luiz Melodia, que esteve envolvido com  Waly Salomão, Gal Costa, Maria Bethânia, Elis Regina, Elza Soares, Caetano Veloso, Torquato Neto, Zezé Motta, Jards Macalé e Sérgio Sampaio - deste dois últimos, Melodia ressalta com maior ênfase. 

No documentário estão imagens raras, pinçadas em diferentes acervos, museus, canais e arquivos pessoais. São registros históricos, alguns inéditos, trechos de show, além da voz do próprio Luiz em depoimentos dados, ao longo de toda a sua carreira, incluindo uma longa entrevista em 2002 à jornalista Patrícia Palumbo que, além da direção musical, assina o roteiro com Alessandra Dorgan. A montagem é de Joaquim Castro e a produção é da bigBonsai. A diretora Alessandra Dorgan fala sobre o filme com exclusividade.

Como você recebeu a notícia do prêmio?

Alessandra Dorgan: Fiquei muito feliz e emocionada com o prêmio, é tão bom ver um projeto longo, depois de tanto tempo de trabalho e dedicação ser reconhecido e receber tanto carinho como tem sido esses últimos dias.

Quanto tempo você ficou imersa na obra dele? Como foi o processo da ideia de fazer o doc, pesquisa, montagem?

Alessandra Dorgan: Foram mais de 6 anos desde as primeiras conversas com a Patrícia Palumbo jornalista e pesquisadora musical, que sabia tudo de Luiz Melodia e que queria vê-lo retratado no cinema e o nosso produtor executivo Daniel Gaggini. Depois disso passamos por muitas fases. Na um pouco antes da pandemia conseguimos um primeiro dinheiro do proac para pesquisa, aí entramos numa fase de desenvolver as ideias e ver os primeiros materiais, a Pat tbm tinha uma entrevista em áudio com o Luiz de 2001 que foi nosso ponto de partida e que resultou tbm nessa escolha do Luiz contar sua própria história em primeira pessoa. Depois disso a produtora bigBonsai através da Débora Osbourne entrou no projeto o que viabilizou a chegada do Arte 1 o que nos deu mais um fôlego para continuar e iniciar a montagem. 

Em 2022 entrei na ilha de edição com o Joaquim Castro, e foi um processo muito legal de costura, de mergulhar nos materiais e estruturar a história que queríamos contar através do Luiz e das músicas dele. Joaquim também assina o roteiro comigo e com a Pat. Aí felizmente conseguimos também um proac de finalização, sem isso provavelmente não teríamos conseguido pagar essa quantidade de materiais de arquivo incríveis que encontramos e usamos no filme. Muito tempo de restauro de som, de imagens, finalização… pra chegarmos até aqui

Um dos pilares do filme é de que Luiz Melodia fazia o que queria, que isso dava um caráter político, anti racista, anti sistema no trabalho dele, mas de uma forma muito natural, intuitiva.

Alessandra Dorgan: Ele era um cara muito íntegro ao que queria. Não se enquadrava a essa demanda de por ser um homem preto que descia do morro tinha que fazer necessariamente samba. Ele gostava de soul, jazz, reggae, não só de samba. Ele criou uma música muito particular, só dele. E muitas vezes, por conta disso, o mercado fonográfico, as gravadoras e a própria imprensa o silenciaram, o pressionaram. Isso prejudicou demais a carreira dele. Foi um desafio muito grande continuar, persistir, resistir. Até o final ele foi muito íntegro, verdadeiro e fiel ao que acreditava artisticamente. 

Em tempos de “tudo pela fama”, o que você tem a dizer sobre o posicionamento de Melodia sobre esse tema? 

Alessandra Dorgan: Acho que é uma particularidade infeliz do mercado brasileiro. Essa prisão que viraram as redes sociais, em que o artista precisa ser um gerador de conteúdo. E isso não acontece só na música, no audiovisual, a escolha de um ator, por exemplo, é muito baseada na quantidade de seguidores que ele tem. Isso é de uma ignorância profunda, é de um bairrismo, de um empobrecimento artístico que é uma tristeza, se você parar para pensar num país tão criativo e musical quanto o Brasil. Acho que o Luiz em qualquer época não iria se enquadrar a esse tipo de sistema. Mas vejo que se o Luiz tivesse nascido em qualquer outro país, que valoriza sua música e cultura, teria chegado a uma notoriedade tão maior, tão à altura da obra dele. Infelizmente no Brasil não é suficiente a sua obra, não é suficiente aquilo que você entrega, não é suficiente o seu talento. É muito mais baseado nas relações, nas conexões, na quantidade de likes, no quanto você está exposto, em evidência. E isso é de um empobrecimento que a gente se auto impôs enquanto país, enquanto sociedade. A gente só perde. O Brasil é um dos países mais talentosos culturalmente. A nossa música é valorizada por todo mundo. E a gente se coloca nesse lugar, a gente joga esse jogo e não precisaria. Porque acho que isso não acontece em outros países - desenvolvidos ou não desenvolvidos. 

Não tenho dúvidas de que ele não se enquadra nesses moldes de hoje em dia. Acho maravilhosas algumas falas dele no filme, quando ele diz que Sérgio Sampaio é a grande panelinha dele, se ele teve uma panelinha foi com o Sérgio Sampaio. Isso é de uma franqueza, de uma verdade. Ele não precisava mostrar que tinha conexões com a zona sul do Rio, com os baianos, ele não tinha essa necessidade de mostrar nada. E quando ele fala também que na Tropicália a grande atração era Jards Macalé. Isso é de um artista único, original, disruptivo como Luiz foi. Ele não precisava, não queria agradar ninguém. Essa era a escolha dele.  

FICHA TÉCNICA Luiz Melodia – No Coração do Brasil

Brasil / 2024 / 78 minutos

Direção Alessandra Dorgan

Direção Musical Patricia Palumbo

Roteiro Alessandra Dorgan, Patricia Palumbo, Joaquim Castro

Pesquisa Camila Camargo

Montagem Joaquim Castro

Restauração/Mixagem Edson Secco

Produção Deborah Osborn, Daniel Gaggini, Camila Nunes e Felipe Briso

Produção Executiva Camila Nunes e  Daniel Gaggini

Empresas Produtoras bigBonsai & MUK 

Produtoras Associadas Alessandra Dorgan, Jane Reis, Patricia Palumbo e Temporal Filmes

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