Entrevista com Jasmina Zammit da BMG Brasil: "Os brasileiros são apaixonados por música"
Jasmina Zammit, diretora geral da gravadora BMG no Brasil, concedeu uma entrevista exclusiva ao TMJ onde falou sobre sua visão mediante ao mercado fonográfico brasileiro, bem como o crescimento da empresa discográfica na aquisição de novos artistas de seu cast e da administração de catálogos de nomes icônicos como os de Tina Turner, Mötley Crüe e ZZ Top.
A BMG - Bertelsmann Music Group - iniciou sua operação integral no Brasil em 2016, após a aquisição dos ativos da respeitada editora musical Basement Brasil.
Zammit também desempenhou um papel de suma importância na implementação global da abordagem diferenciada da BMG para sincronizar, treinar e integrar a equipe de licenciamento nos territórios onde a gravadora atual globalmente, incluindo países como China, Austrália, Nova Zelândia e Brasil. Foi ela que iniciou e estabeleceu com sucesso a iniciativa Black Book da empresa, uma ferramenta essencial para a equipe mundial de sincronização da BMG e outros departamentos voltados para o cliente.
Confira a entrevista de Jasmina Zammit da BMG com o jornalista e pesquisador musical Marcelo de Assis:
Marcelo de Assis: Jasmina é um prazer falar com você. Tudo indica que, em meio às dificuldades do mercado musical em decorrência da atual pandemia, a BMG pode considerar que teve um ano importante de crescimento e, principalmente, em decorrência de suas novas contratações de artistas e catálogos, não?
Jasmina Zammit: Sim, de fato. Aumentamos nossa equipe em 2021 e tivemos algumas contratações muito relevantes. No Brasil, Henrique & Diego, Whindersson Nunes, Henrique Portugal e Arlindinho se juntaram à lista da gravadora da BMG. Além disso, fechamos contratos de edição com grandes compositores e produtores, como Pontifexx, Nagalli, Rincon Sapiência, FBC, Vhoor, Mu540 e muitos outros. Os destaques internacionais incluíram Bryan Adams, Carlos Santana, Duran Duran, Louis Tomlinson e 5SOS. Também adquirimos os direitos da Tina Turner, Mötley Crüe e ZZ Top e estamos buscando adquirir catálogos locais brasileiros.
Marcelo de Assis: Como vocês têm analisado o mercado brasileiro? Recentemente vocês realizaram o aumento de seu cast com os novos artistas, a exemplo de nomes como Henrique & Diego, Ego Kill Talent, Fresno e Sepultura. Em outras palavras, como é concorrer no país com as representações de grandes gravadoras, nacionais e internacionais, no atual cenário do mercado interno?
Jasmina Zammit: O Brasil tem uma cultura tão rica e tantos grandes artistas - há tanta criatividade e tanta variedade de gêneros. Mas, assim como em qualquer outro lugar do mundo, as necessidades e expectativas dos artistas mudaram. Eles querem estar no banco do motorista. Eles querem liberdade artística; eles querem ser donos do seus masters e querem um parceiro que os trate com respeito e justiça de maneira transparente. Não é à toa que eles querem uma alternativa à abordagem tradicional da empresa da música. A BMG foi lançada na mesma semana que o Spotify e projetamos toda a nossa abordagem para atender às mudanças nas necessidades dos artistas. Estou convencida de que há muito espaço para nosso modelo de negócios aqui no Brasil. Além de nossos catálogos locais, também promovemos nossos lançamentos internacionais. Os brasileiros são muito apaixonados por música, então o mercado é de grande relevância para o nosso elenco internacional. Espero que em breve possamos ver mais artistas internacionais em turnê pelo Brasil novamente.
Marcelo de Assis: Vocês são a quarta força do mercado musical internacional atualmente. Qual o segredo para alcançar essa posição e quais serão os desafios para que vocês almejem outros patamares na nossa indústria?
Jasmina Zammit: Nossos valores de serviço, justiça e transparência da BMG, são uma fonte de vantagem competitiva. Estou particularmente orgulhosa da nossa equipe brasileira - temos uma equipe jovem, mas muito experiente e altamente motivada. Eles fazem um excelente trabalho e oferecem um ótimo serviço aos nossos artistas e escritores. Também lucramos com nossa plataforma internacional. Os brasileiros são bem interessados em novas tendências tecnológicas, então nossos parceiros adoram nossa ferramenta de royalties, que lhes dá uma visão abrangente de seus ganhos.
Marcelo de Assis: Outro fator que me chamou bastante atenção nos últimos anos, foi a aquisição de catálogo de nomes lendários que já estiveram em outras grandes gravadoras, como Tina Turner, Mötley Crüe e ZZ Top. Além disso, você também representa os direitos de John Lennon, Ringo Starr, Roger Waters, Kurt Cobain, Blondie, David Bowie e muitos outros. Como a BMG trabalhou na aquisição da obra de todos esses artistas? Foi um modelo inovador aplicado pela companhia?
Jasmina Zammit: Somos a plataforma mais atraente para músicos que desejam garantir seus direitos de forma extremamente eficiente e justa no mercado global da música. Os Rolling Stones já renovaram duas vezes com a BMG. Conosco, os artistas podem ter certeza de que receberão o que é deles por direito.
"O Brasil tem uma cultura tão rica e tantos grandes artistas - há tanta criatividade e tanta variedade de gêneros. Mas, assim como em qualquer outro lugar do mundo, as necessidades e expectativas dos artistas mudaram. Eles querem estar no banco do motorista. Eles querem liberdade artística; eles querem ser donos do seus masters e querem um parceiro que os trate com respeito e justiça de maneira transparente"
Marcelo de Assis: Em termos de balanço comercial, a BMG atingiu seus objetivos em 2021?
Jasmina Zammit: Sim, não apenas alcançamos nossas metas, como as superamos. Isso não se deve apenas ao nosso repertório crescente, mas também à nossa excelente equipe de administração - eles garantem que reivindicamos todo o dinheiro disponível para nossos clientes de forma proativa. O desenvolvimento do mercado de sincronização também tem sido muito positivo. A equipe de sincronização licencia músicas para comerciais, filmes e séries. Especialmente devido ao crescente número de produções audiovisuais locais, conseguimos gerar renda adicional para nossos clientes.
Marcelo de Assis: O que podemos esperar da BMG para o próximo ano em termos de planejamento?
Jasmina Zammit: Vamos aumentar ainda mais nossa equipe e buscar aquisições de catálogos. Também espero que possamos ver o retorno dos shows ao vivo. Afinal, é a parte divertida do nosso negócio e uma peça importante do quebra-cabeça para os artistas promoverem seus lançamentos. Além disso, já expandimos para diferentes áreas de negócios em outros territórios, como o negócio de shows e merchandising. Vamos observar de perto quando esses movimentos farão sentido também no Brasil.
Marcelo de Assis: Como a Bertelsmann tem apoiado a BMG no Brasil?
Jasmina Zammit: Nossa matriz sempre foi de grande apoio ao entrar em novos mercados. Temos também uma troca regular com as nossas empresas irmãs como a Companhia das Letras ou a Intervalor.
Marcelo de Assis: Jasmina, como você avalia os futuros desafios que os players de mercado encontrarão nos próximos anos?
Jasmina Zammit: Acredito que um desafio contínuo é a remuneração justa para artistas e compositores no mundo digital. Também espero ver gerentes de artistas mais experientes no futuro, que esses tenham a capacidade e o conhecimento para serem grandes consultores para os artistas e compositores, para que assim, possam se concentrar em sua arte. Por exemplo, um grande avanço nem sempre significa o melhor serviço ou o maior retorno a longo prazo. Por fim, espero mais esforços de toda a indústria para enfrentar a questão da diversidade. Acredito que uma indústria e uma sociedade que utilizem todo o potencial das pessoas enfrentarão todos os desafios.