Filipe Ret sobre ostentar dinheiro e carrões: "Não roubei, não preciso me esconder"
Rapper se prepara para gravar DVD que celebrará seus 15 anos de carreira; evento está marcado para outubro
O cantor Filipe Ret, de 38 anos, se prepara para gravar seu primeiro DVD, em outubro deste ano, na Arena Jeunesse, no Rio de Janeiro. O evento também será uma comemoração de seus 15 anos de carreira. Para isso, ele investe em ensaios, estruturas e equipamentos importados de última geração. Em soma rápida, ele estima que já gastou o equivalente a um carro de luxo para fazer tudo acontecer.
"Dá para dizer que eu deixei uma McLaren nesse show", disse Filipe Ret ao Terra, referindo-se ao valor investido no evento até então. Apenas para se ter parâmetro da quantia, um dos modelos da marca adquiridos pelo cantor este ano, a McLaren GT, tem valor estimado em R$ 3 milhões.
Quem olha de fora pode até pensar que o rapper não se preocupa com dinheiro. E ele, inclusive, já recebeu diversas críticas por gastar com luxos e carrões, ao invés de ajudar pessoas.
No entanto, por trás da ostentação e dos investimentos, existe uma pessoa que demonstra consciência sobre finanças e problemas sociais. Administrador de seu próprio patrimônio, ele vê o dinheiro como poder, mas também como responsabilidade.
"É importante ter a clareza da grana, porque você não pode ficar duro, tem famílias que dependem de tu. Meus dois carros [McLaren GT e BMW X6 3.0] são grandes sonhos de consumo [...] Quem me conhece sabe que são frutos do meu trabalho e tenho muito orgulho disso. Eu não roubei ninguém e não sou bicheiro, não preciso me esconder", destaca.
Em um bate-papo à vontade, Filipe Ret conta ao Terra mais detalhes sobre carreira e relação com o dinheiro. Confira!
Como estão as preparações para o show de 15 anos de carreira?
Vai ser um dos shows mais importantes da minha carreira, senão o mais importante. Vou celebrar com a fan base. É muito gratificante ter fãs que são presentes. Deu trabalho adiar o dia do evento, mas vai valer a pena. Esse show é uma forma de agradecer e comemorar junto com eles.
O que pode-se esperar de diferente?
Tem uns telões de led diferenciados, tem bastante tecnologia envolvida, equipamentos que vêm de fora, e tudo isso requer um entrosamento da equipe e planejamento. Sim, é caro. Se lotar a casa e fizermos outro show, acredito que a gente consiga pagar o investimento. Vamos dizer que eu vou deixar uma McLaren nesse evento.
Como está o line-up de convidados?
Ainda não fechamos o line-up. Como é sábado, vou ter que pagar o dia desses artistas e eu não vou conseguir pagar de todos que quero. É algo que terá que ser muito bem escolhido e negociado. Por enquanto, não tem ninguém confirmado. Eu queria muito BK e que o Caio Luccas estivessem, são pessoas muito importantes na minha carreira. Claro que eu queria colocar Djonga, MC Cabelinho e Orochi, mas vai ser complicado colocar essa galera.
Qual foi a parte mais desafiadora desses 15 anos de carreira?
Cada dia escuro eu vejo como uma batalha intensa, tá ligado? Sinto que cada álbum meu foi uma pequena guerra [burocrática]. 'Vivaz' foi uma guerra muito intensa, o primeiro disco. 'Revel' também foi uma guerra para lançar, para desenvolver. 'Audaz' foi uma das épocas mais intensas, porque estava tendo meu filho, me casando, amadurecendo como ser humano, foi bem desafiador. 'Imaterial' foi muito importante para eu me atualizar. 'Lume' foi fundamental também para eu me posicionar no mainstream. Cada disco teve uma importância crucial na minha carreira. Nunca tive um disco que passou batido, sempre foi um disco que salvou a continuidade da minha carreira.
Essas guerras que você cita são sobre dinheiro?
Nem sempre é dinheiro. É um pouco também, mas é muito mais a concepção criativa, conceitual e energética. Você precisa fazer algo que você confia, são várias [burocracias] para colocar um disco relevante na praça, algo que faça diferença na sua carreira. É criativo e também logístico. A quantidade de decisões que você tem que tomar para lançar um disco é absurda. Desde a escolha do beat, até a escolha do verso, do conceito da música, do feat, onde ela vai entrar no disco, como vai entrar... Muito detalhe, cor, capa, o que você quer transmitir.
Me fala mais sobre esse cuidado com seus projetos.
Eu sou um cara que gosto muito de pensar nos discos. Acredito que eu tenha a discografia mais presente hoje em dia em relação aos artistas de rap. Não é todo mundo que faz isso hoje em dia, não é todo mundo que tem o carinho pelo disco. Eu dou valor porque, quando eu morrer, a única coisa que vai sobrar aqui são meus discos e eu quero deixar uma parada maneira. Eu me preocupo muito com isso.
O que você aprendeu sobre dinheiro nesses 15 anos?
Aprendi que tem coisas que é muito melhor gastar do que não gastar e isso prejudicar sua imagem. Aprendi que é melhor eu gastar nesse show e fazer algo f*da, que a fan base merece, do que pensar: 'Vou pegar esses milhão e vou botar no meu bolso'. No meu bolso, esse dinheiro não tem história. Dinheiro serve para isso, para ajudar as pessoas ao meu redor, ser uma base de segurança para famílias, aposentar meu pai e minha mãe. Isso tem um valor imensurável. Quem passa perrengue com dinheiro sabe o valor disso.
Você é do tipo que poupa? Como é sua organização financeira?
Tem coisas que vale a pena você investir e não poupar. É uma administração de energia o dinheiro, você tem que ficar pensando a toda hora o que vale e o que não vale investir; onde agrega valor e onde não agrega. A gente erra para c*ralho, mas também aprende para c*ralho. Uma coisa é certa: se eu não gastasse com esse show, jamais saberia onde posso chegar.
Artistas têm a tendência de não serem de exatas, mas os artistas mais fortes são os que pensam nisso. Senão, se torna uma pessoa enfraquecida. A nossa realidade pede isso. Claro que hoje penso menos para comprar coisas pequenas, não é aquela coisa de quem está apertado, mas para coisas maiores de amigos, família, de filho, de investimento na carreira, a minha cabeça fica administrando isso o tempo todo, e só eu posso fazer isso por mim. Só a pessoa que tem essa grana sabe quem está no corre com ela. É importante ter a clareza da grana porque você não pode ficar duro. Tem que ter responsabilidade porque tem famílias que dependem de tu. [Dinheiro] é um poder, mas também é uma responsabilidade. Se eu não pensasse nisso, eu estaria indo contra minha família, contra mim mesmo.
Você já recebeu críticas por perder apostas e gastar. Como é isso?
Eu fico chateado de ver essas coisas, porque estão pegando algo que é positivo e transformando em negativo. A meritocracia abolsuta é inviável, impossível de acontecer porque ninguém nasce na mesma posição, mas a meritocracia relativa tem que existir. Se saí de um lugar e estou indo para outro, eu cresci. Nisso, eu tenho que ter meu mérito, meu valor. As pessoas confundem esse valor de mérito absoluto com esse relativo e acaba resultando na maldade. Eu até entendo o outro lado, que tem gente que não tem o que comer, mas criticar não resolve. O que faço com meu dinheiro só eu e Deus sabemos. Só eu sei quem ajudo, quem eu apoio, enfim. Eu tenho esses equilíbrios. Ao mesmo tempo, eu não posso deixar as pessoas definirem o que eu vou fazer com meu dinheiro. Se eu perdi R$ 100 mil numa aposta, eu perdi.
E quanto a carros?
Eu amo carros, desde criança gostava de brincar de carrinho. Os dois carros que tenho, eu amo, são grandes sonhos de consumo. Tive essa fase de comprar para provar para mim que posso ter. As pessoas dizem que não dá para ter [carrão] no RJ [porque não tem onde correr], mas dá sim. São dezenas de motoboys que me param e falam: 'Que maneiro'. Isso me enche de vontade de ter outro [carro] porque eu não roubei ninguém, eu estou construindo uma carreira. Eu não sou um bicheiro que preciso me esconder. Meus carros não tem insufilme. Quem me conhece sabe que meus carros são fruto do meu trabalho e tenho muito orgulho disso.
O DVD geralmente é um sonho para os artistas. Existe algum outro que ainda não realizou?
Estou focado nesse, porque ainda não se realizou. Está todo mundo vibrando para fazer acontecer. O sonho maior é conseguir ter uma trajetória bacana e audível no futuro. No fundo, a gente não quer morrer, a gente quer deixar as artes aqui para as próximas gerações. O que me motiva é deixar um legado para a posteridade.