Frio e apressado, Arctic Monkeys faz show de festival em SP
Banda faz primeira apresentação solo no Brasil, mas repertório não fugiu de "prensados" dos festivais
O Arctic Monkeys fez, nesta sexta-feira (14), em São Paulo, sua primeira apresentação fora de festivais em solo brasileiro. Mas nem parecia. Subindo ao palco por volta de 23h05, a banda inglesa, liderada por Alex Turner, "demorou" cerca de 45 minutos para tocar 10 músicas, e encerrou o repertório de 20 canções às 00h30. Ou seja, menos de 1h30 minutos de show para as 30 mil pessoas que estiveram na Arena Anhembi para o penúltimo show da turnê do quarteto, que encerra a excursão neste sábado no Rio de Janeiro.
Para se ter uma ideia de que não há, de fato, diferença alguma entre a apresentação solo e em festivais dos Monkeys, no Lollapalooza Chicago deste ano, o grupo fez exatamente o mesmo show, que durou praticamente o mesmo tempo: 86 minutos. No Lolla brasileiro de 2012, foram 81 minutos, apenas quatro a menos do que nesta noite, que alcançou os 85 minutos. O que isso quer dizer? Não há alma, improviso, vontade e muito menos originalidade nos shows dos caras.
E isso é grave. Muito grave.
Não só pela total falta de consideração com a multidão que está ali, de corpo e alma, esperando (ou acreditando) que o artista faça o mesmo, mas também por escancarar o que há de pior em muitas bandas medianas que poderiam ser grandes (potencial não falta) mas não são: a falta de intimidade com o palco. O Arctic Monkeys faz ótimo som, com harmonia, melodia agressiva e, ao mesmo tempo, delicada, além do vocal rasgado, inconfundível de Turner. Mas é banda de iPod, boa para se ouvir em casa, indo trabalhar, ou como trilha sonora da leitura de um livro. Para show, não cola.
Distante, Alex Turner mostrou qualidade como músico, mas dificuldade como frontman (Foto: Osmar Portilho / Terra)
Isso por culpa do próprio Arctic Monkeys. Em momento algum Alex se comunicou com o público, que fazia uma própria disputa de gritos na primeira fila, se manteve distante, não o chamou para construir uma vibe própria. Ao assistir a íntegra da apresentação dos caras no Lollapalooza americano, é possível ver como tudo é ensaiado, até mesmo os movimentos, medleys e "cosplays" de "improvisos ensaiados".
O caso dos Monkeys fica ainda mais grave quando se acompanha, minutos antes, um show como o do The Hives. Os suecos, mesmo com problemas técnicos na guitarra de Nicholaus Arson no meio da apresentação, mostram uma visível empolgação e prazer em estar ali, o que contagiou e envolveu o público muito mais do que o Arctic Monkeys conseguiu no ponto mais alto de seu show, em I Bet That You Look Good On The Dancefloor. O carisma Howlin' Pelle, vocalista do Hives, as guitarras barulhentas e batida inquieta deram uma aula de como se envolver um público, mesmo que ele não seja seu, em um show de rock.
Show do The Hives é antítese ao do Arctic Monkeys (Foto: Osmar Portilho / Terra)
Em contrapartida, musicalmente falando, o show dos Monkeys conseguiu a proeza de preencher os diversos pontos falhos de acústica da Arena Anhembi, com um som vistoso, forte, pesado e organizado. Não era uma barulheira qualquer. O timbre de cada instrumento, durante todas as 20 músicas, em especial na sequência Dancing Shoes, Teddy Picker e Crying Lightning, era de fácil percepção até mesmo para quem estava lá no meio da pista comum.
Mas o que faz de um show algo efetivamente especial é o coração, a entrega. Grandes shows são feitos na base da vontade do artista de estar ali, estando em final de turnê ou não, e é triste ver uma banda ainda jovem atravessar um oceano para não entregar absolutamente nada de especial aos seus fãs, que mereciam e pagaram por mais.
O Arctic Monkeys encerra sua turnê do álbum AM neste sábado (15) na HSBC Arena, Rio de Janeiro.
Setlist do show em São Paulo
1. Do I Wanna Know?
2. Snap Out of It
3. Arabella
4. Brianstorm
5. Don't Sit Down 'Cause I've Moved Your Chair
6. Dancing Shoes
7. Teddy Picker
8. Crying Lightning
9. No. 1 Party Anthem
10. Knee Socks
11. My Propeller
12. All My Own Stunts
13. I Bet You Look Good on the Dancefloor
14. Library Pictures
15. Why'd You Only Call Me When You're High?
16. Fluorescent Adolescent
17. 505
Bis
18. One for the Road
19. I Wanna Be Yours
20. Mardy Bum / R U Mine?