Plebe Rude: "Não é toda geração que tem um Renato Russo"
Em entrevista ao Terra, Philippe Seabra, vocalista da banda, lamenta que hoje está tudo muito polarizado e comenta sobre show no João Rock
A Plebe Rude foi um dos grande expoentes da chamada “cena de Brasília” do rock dos anos 80, juntamente com Legião Urbana, Capital Inicial e diversos outros grupos. Quase 40 anos depois de sua formação, em 1981, a banda se apresentará na edição 2019 do Festival João Rock, que acontece no dia 15 de Junho em Ribeirão Preto, homenageando a cena musical de Brasília. Ao todo, serão 21 apresentações, divididas em três palcos.
Por telefone, o vocalista e guitarrista Philippe Seabra diz que já há algum tempo que a banda se apresenta para um público mais jovem. “Com o Spotify e o YouTube, as pessoas estão descobrindo [a banda]. É muito legal saber que a mensagem ressoa.”
Terra: A que você acha que se deve a longevidade da Plebe Rude, de conseguir atingir essas novas gerações?
Philippe Seabra: No caso da Plebe é a coerência. A Plebe sempre manteve uma postura, a gente vê muitos dos nossos colegas do rock da década de 80 adaptando o som para as novas eras, ou amansando o som, mas na Plebe a gente sempre fez o próprio negócio sem se preocupar muito no que as outras pessoas acham.
Terra: Muitas das bandas da cena de Brasília na década de 80 protestavam contra o governo e o status quo. Você acha que falta rebeldia no rock, nas gerações atuais?
Philippe Seabra:Tem dois tipos de música no Brasil: O que chega à grande mídia e o que não chega. O que não chega tem muita coisa legal, sou produtor e fiz mais de 30 discos, então vejo muita coisa bacana. Mas em termos de rock eu não vejo muita contundência, de coisas que estão chegando na grande mídia. Talvez é um pouquinho falta do embasamento para escrever algo decente, porque não é toda geração que tem um Renato Russo.
Terra: Você falou que nem toda geração tem seu Renato Russo. Você acha que falta um “messias”, meio que um John Lennon, um Freddie Mercury da vida nos tempos atuais? Ou a internet diluiu tanto a cena que não tem espaço pra um cara só puxar isso?
Philippe Seabra:Eu acho difícil, a gente tá numa era de superexposição. Provavelmente eu sou o único cantor de banda que não tem conta no Twitter, entendeu? As declarações e todo meu posicionamento, eu faço através de música. Não fico dando discursinho ensaiado, não fico “mandando blog”. Tô um pouco cansado da minha geração que não tem culhão pra cantar a respeito, porque falar todo mundo fala. E rola uma superexposição, você vê uma geração mais preocupada em tirar foto. Agora embasamento, postura e música que é bom, nada.
Terra: O que o público pode esperar do show da Plebe no João Rock?
Philippe Seabra:Obviamente, quando a gente toca em show maior, tem que fazer um apanhado da carreira. São 10 discos, é muita coisa. Mas o que se pode esperar não é nenhum “discursinho babaca” no meio das músicas, e nem “lálálá”. O discurso e a postura da Plebe estão na música, coisa que a gente sempre fez. Com esse governo novo e todas essas trapalhadas, músicas que achávamos estar ultrapassadas, que falam sobre distribuição de renda e falência da indústria fonográfica, sobre a volta da ditadura, sobre a censura, todas estão relevantes de novo. Parece piada.
Terra: Você acha que o momento político que vivemos é um retrocesso?
Philippe Seabra: Absoluto. Não é que ninguém da banda apoiava o “presidiário”, porque não é binário. Mas esse governo eu sou absolutamente contra. Mas isso não quer dizer que eu apoiava o “outro”. Rede social é a pior coisa que aconteceu na humanidade, pior que a invenção da pólvora ou da bomba de hidrogênio. Polarizou tudo, não existe mais debate. E o grande lance que me movia na Plebe, desde os 14 anos, era promover o debate. E, hoje em dia, não tem. Tá tudo tão polarizado, e isso só vai piorar.