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Filas no Lollapalooza indicam que pagamentos 'cashless' tem longo caminho pela frente

Espectadores relataram longos tempos de espera para carregar o saldo e comprar alimentos e bebidas, assim como fraudes

30 mar 2022 - 17h38
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O Lollapalooza Brasil registrou 132 mil pulseiras ativas em sua primeira edição desde o início da pandemia, realizada no último fim de semana, em São Paulo. Em parceria com a ZigPay+netPDV, a organização do festival optou novamente por distribuí-las para serem usadas como ingresso e moeda oficial do evento, no sistema de pagamento cashless, sem dinheiro vivo. Ao longo dos três dias de shows, foram 1,2 milhão de transações desse tipo. De um lado, alguns espectadores destacaram a praticidade e a segurança do sistema de consumo. De outro, relataram em redes sociais e na internet longos tempos de espera para carregar o saldo e comprar alimentos e bebidas, assim como fraudes.

O Lolla Cashless oferecia a opção de pré-recarga, por meio de cartão de crédito, até quinta-feira, véspera do início dos shows. Também haveria estorno automático dos valores não utilizados. Nos dias de evento, os créditos deveriam ser abastecidos nos cerca de 250 pontos de recargas espalhados pelo Autódromo de Interlagos, entre caixas fixos, móveis e totens de autoatendimento. Nesse caso, o reembolso deveria ser solicitado por meio de um formulário online.

Para pagar por alimentos, bebidas ou produtos bastava aproximar a pulseira das máquinas de pagamento dos estabelecimentos fixos ou de cerca de 600 ambulantes que trabalhavam oficialmente. No entanto, nem sempre as outras etapas funcionaram. Não há um levantamento preciso das dificuldades, mas há relatos de filas para recarga, sistemas fora do ar, dificuldades com o estorno dos valores não gastos e até mesmo fraudes.

Um desses depoimentos foi feito por Pedro Alvorada, artista carioca que foi prestigiar as apresentações de sábado. "O cashless para mim foi uma má surpresa", diz ele. "Perdi muito tempo em filas quilométricas para poder comer, beber e recarregar a pulseira."

A decisão de desabilitar a recarga online ao longo dos dias de evento, também uma queixa comum entre o público, foi para priorizar a segurança da operação, afirmaram a T4F, produtora do Lollapalooza, e a ZigPay+netPDV, em nota.

Já o estorno não automático, mais um alvo de reclamações, foi uma forma de incentivar a pré-recarga e evitar filas. A recarga antecipada chega a representar mais de 50% das vendas de alimentos e bebidas em eventos promovidos pela fornecedora do sistema cashless. No caso do festival, esse número foi um pouco abaixo, ainda de acordo com as companhias.

A analista de produção Juliana Elis encontrou dificuldades para consumir no Ônix Day, evento prévio do festival que aconteceu na quinta-feira. "Demorei mais de uma hora só para conseguir carregar. Tive de desistir da fila para assistir ao show que queria", diz. Apesar dos diversos relatos, a organização justificou que "diferentemente de grandes filas e longas esperas em eventos sem a tecnologia cashless, o fluxo de filas, quando ocorrem, fluem rapidamente".

No site Reclame Aqui, é possível encontrar muitas queixas de usuários sobre a edição deste ano do festival. As postagens citam as longas filas, dificuldades para conseguir o estorno do valor inserido na pulseira, cobranças indevidas e as condições ruins dos banheiros químicos, por exemplo. Na plataforma, o Lollapalooza aparece com avaliação de 5,7 de um máximo de 10. A pontuação não considera apenas as queixas recentes, mas todas feitas ao longo dos anos. Ao pesquisar pelo nome do evento em redes sociais, como o Twitter, aparecem publicações da mesma natureza.

A instabilidade de sinal de internet e telefone contribuiu para o aumento do tempo de espera, ainda segundo espectadores ouvidos pelo Estadão/Broadcast. O problema, motivado pelas condições climáticas, não afetava o pagamento cashless, porque as transações funcionam offline, conforme a resposta da organização. "Houve uma instabilidade na rede, deixando, momentaneamente, a recarga por meio de cartões de crédito e débito mais lenta, o que foi rapidamente solucionado", disseram.

Mas na sexta-feira, por exemplo, consumir bebidas e alimentos foi uma tarefa difícil para quem foi assistir ao The Strokes no palco Budweiser, contaram fãs da banda americana à reportagem. Eles atribuíram o cenário a problemas de sinal e funcionamento das máquinas de pagamento e recarga.

O sistema cashless foi penalizado pela falta de infraestrutura de telecomunicação, avalia o membro do conselho da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e advogado especialista em tecnologia, João Amaral. No entanto, ele diz ser necessário um compliance prévio da organização para garantir que a tecnologia esteja apta a funcionar. "Fica a lição de que ainda há um caminho a percorrer", afirma.

A questão cultural é mais um desafio para a escalabilidade do cashless no País, diz o presidente da ABFintechs, Diego Perez. "Essa modalidade no Brasil ainda está disponível para um público mais restrito, nem todos sabem como usar", afirma. Nesse sentido, sugere a criação de aplicativos e serviços que permitam transacionar com poucos cliques. "Com essas soluções, as barreiras devem ser derrubadas muito em breve", diz.

Segurança e praticidade

A fotógrafa Julia Passos diz que apesar de longas, as filas não atrapalharam que aproveitasse as apresentações. "Eu estava até preferindo essa forma, porque era mais prática, mas vi algumas fraudes". Ela afirma, por exemplo, ter percebido que foram debitados valores indevidos da sua pulseira.

Ambulantes solicitando pagamentos fora da pulseira, por meio de dinheiro ou PIX, também foram testemunhados por espectadores ouvidos pela reportagem. A organização do festival confirmou ter recebido relatos desse tipo, mas afirmou que "foram identificados e prontamente retirados da equipe de atendimento". No caso de cobranças equivocadas por parte do prestador de serviço, diz que "todas foram estornadas durante o próprio evento nos pontos de atendimento ao cliente".

A jornalista Ana Bartolo, por sua vez, sentiu-se mais segura sem precisar circular com a carteira. "Não levei uma bolsa, apenas uma doleira com o essencial, então a pulseira facilitou na parte de segurança", diz ela, que esteve nos shows de sábado e não enfrentou problema de funcionamento das máquinas de recarga ou pagamento.

"É inevitável enfrentar filas em um festival. Eu não recarreguei online, mas não tive dificuldade", diz o arquiteto e urbanista Tadeu Braga Vidal, que frequentou todas as edições do festival desde 2014. Neste ano, cerca de 302 mil pessoas passaram pelo Autódromo entre sexta-feira e domingo para assistir atrações nacionais e internacionais de diferentes gêneros musicais.

Para João Amaral, o Lollapalooza não deu um passo maior que as pernas, já que investir em tecnologia sempre envolve riscos. "Não se consegue fazer omeletes sem quebrar alguns ovos. O festival está inovando e pagando um preço por isso. Vai vir mais forte nos próximos anos porque já vai ter aprendido mais com a experiência", diz ele. "Essa curva de aprendizado é normal quando se fala em inovação."

Estadão
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