Titãs no Lollapalooza: formação clássica encontra 'geração dos festivais' de braços abertos
Show foi o mesmo da turnê que rodou o País e o exterior no ano passado, mas foi apresentado para um público inédito para o grupo
Antes de qualquer análise sobre a apresentação do Titãs no Lollapalooza Brasil é preciso considerar um aspecto: a reunião da banda para a turnê comemorativa de 40 anos foi uma das grandes surpresas de 2023 e fez, na noite deste sábado, 23, um show (último?) temporão.
Sobretudo por um aspecto: a formação clássica reunida novamente - com a ausência sentida do guitarrista Marcelo Fromer (1961-2001) - jamais foi um arremedo da banda que foi uma das pedras fundamentais do rock nacional dos anos 1980.
Há, portanto que se comemorar a escalação dos Titãs para o Lolla. Em dia de uma programação eclética, para um público de todas as idades, pairava a curiosidade se o som da banda iria apenas satisfazer os mais saudosistas. Sempre constou que a juventude, dentro do espectro do pop rock brasileiro, curtia mais as letras ácidas de Cazuza e as questões existenciais de Renato Russo - será que ainda se conectam a esses artistas?
No entanto, as músicas dos Titãs - com gosto do concreto paulistano, dos homens da selva da pedra - continuam sendo como pedradas no status quo. "Nenhuma pátria me pariu", cantou Arnaldo Antunes em um dos primeiros números do show que encerrou o 2.º dia do Lolla Brasil.
O primeiro bloco do show, aliás, assim como já ocorria na turnê, é dedicado a questionar o que, depois de anos continua por aqui. Sucederam-se Tô Cansado e Igreja para encontrar O Pulso. Roteiro perfeito.
À certa altura, Sérgio Britto afirmou que esse show foi apresentado por 47 vezes para os fãs dos Titãs. "Não tínhamos nos apresentado em festival. Mas descobrimos que vocês também são nosso público".
O 'tribunal' das redes sociais, que sempre entende o público de festivais como alienado, se surpreenderia ao encontrá-lo abertamente disposto a ouvir a mensagem de uma banda como o Titãs.
Depois de Cabeça Dinossauro, que simboliza o álbum mais pesado da banda, o Titãs abriu o set acústico com Epitáfio, sucesso já dos anos 2000, de embalagem mais pop.
Em Família, a evidência da excelência de grandes músicos como o baterista Charles Gavin, o guitarrista Tony Bellotto e o baixista Nando Reis.
É Preciso Saber Viver, da dupla Erasmo e Roberto Carlos, e Flores foram outros grandes dois momentos que empolgaram verdadeiramente a plateia já da metade para o fim da apresentação.
De volta a um repertório mais contestador, a banda tocou, na sequência, Polícia e Bichos Escrotos. A chuva, que castigou o festival o dia todo, nessa altura, também era mais pesada.
No final, depois de Sonífero Ilha, onde tudo começou, empunharam uma bandeira do arco-íris. Discurso e atitudes alinhados. O público queria mais.
Desde o início, era sabido que o novo encontro de Arnaldo Antunes, Nando Reis, Branco Mello, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Charles Gavin e Paulo Miklos, acrescido do auxílio da guitarra de Liminha, tinha duração limitada.
O Titãs atual, com Branco, Brito e Belotto, já prepara um novo trabalho. Os dissidentes idem.
Ficará, no entanto, a sensação de que essa reunião trouxe algo inconteste: o Titãs é a melhor banda brasileira de todos os tempos - e não apenas da última semana.
Se funcionariam juntos em um novo disco de inéditas? Talvez não. As fissuras que causaram a saída dos integrantes a partir dos anos 1990 muito provavelmente permanecem insolúveis. A vida, de fato, pode ser cruel.