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Ludmilla e a conquista da 'esquerda família'

Artista pop mais promissora do País pode crescer ainda mais se estiver disposta a pagar um preço: 'realinhar' seu discurso musical

21 out 2022 - 16h14
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Alguns falaram abertamente, outros comentaram a boca pequena, mas a ideia foi lançada logo depois que Ludmilla passou pelo Palco Sunset do Rock in Rio de 2022. Afinal, por que o Sunset? Seu lugar, ficou evidente pela performance e pela mobilização da plateia, seria o palco principal, o Mundo. E se compararmos o que fez Ludmilla com outras atrações do Mundo, como a cantora Iza, fica mais flagrante o erro de cálculo dos produtores. "Iza", disse uma fonte, "é garota propaganda da TIM, uma das patrocinadoras do evento. Percebeu o azul que usaram nos figurinos?" Um caso de ingerência artística com mensagem subliminar de patrocinador? Seria um escândalo, mas são apenas conjecturas.

Em 2019: apenas dez minutos no palco Sunset
Em 2019: apenas dez minutos no palco Sunset
Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO / Estadão

O fato é que Ludmilla subiu ali para mudar a vida. Gastou do bolso algo como R$ 2 milhões para montar um espetáculo que deveria ir além do discurso de poder e de festa, mas buscar uma excelência visual. Não pensamos aqui em avaliar o que ela canta, mas talvez seja o caso de uma pincelada: Ludmilla cresce sem disposição aparente para reorientar a raiz de sua prosa. Não seria bom pensar sobre o assunto? A resistência a passa pela rejeição à sua fidelidade inegociável ao espírito dos bailes funk, com todas as idiossincrasias ligadas à anatomia do corpo humano. "Essa bunda ignorante que taca, taca", diz ela no recente hit Tic Tac, conquistando territórios com Sean Paul. "Tô loucona, loucona de gim / Tô na onda, me traz um finim."

Os canabidiólogos ficam eufóricos com o "finim" e as feministas radicais parecem ter entendido que uma mulher dando a letra no sexo, em um universo machista, também é poder. Mas os filtros orientados pelos "bons costumes" (Globo e seus tentáculos, incluindo o Rock in Rio) podem ver aí um impedimento para levá-la às massas. Não seria querer converter os conservadores radicais, esses são irrecuperáveis, mas se espalhar pela malha da "esquerda família" - uma espécie de ex-direita envergonhada que passou a admitir as pautas identitárias desde que haja alguma suavização nessa poética.

Enquanto alguém pensa isso, Ludmilla apenas vibra. O show que ela fez no dia 11 de setembro, no Sunset, comemorava seus dez anos de carreira e foi gravado por sua equipe. Um texto diz que saíram dali "imagens inéditas e incríveis dos bastidores de todo o planejamento e processo de execução do que foi mostrado em cima do palco do festival." Sua expansão é essa. As cenas viraram uma série documental que começou a ser exibida nesta quinta, 20, no perfil da cantora no TikTok. "Eu queria que aquele show representasse os meus dez anos de carreira e que cada um que estivesse na plateia se conectasse com pelo menos um pedaço da minha história. Foi como se eu tivesse caminhado e passado por tudo o que passei para estar ali", ela disse.

As nuvens que rondam sua história já são dignas de uma biografia. Ludmilla é da Baixada Fluminense, Duque de Caxias, e canta desde os oito anos de idade. O pai sumiu logo, deixando a mãe e a avó cuidando dos filhos. A mãe já afirmou ter passado fome para alimentar a menina. Hoje, aos 27 anos, se tornou a primeira cantora negra da América Latina a alcançar mais de 1 bilhão de streamings no Spotify e mais de dois bilhões de views no YouTube. Dois bilhões. Entre o funk e o pagode, acumula uma lista de vitórias impressionantes para apenas dez anos de cena e Numanice #2 foi indicado ao Grammy Latino como melhor álbum de samba. Seus voos começam a ter mais destinos internacionais. Afinal, lá fora, aos ouvidos de um gringo, não importa o que as letras dizem. Ludmilla é o Brasil que eles esperam que não desapareça.

Estadão
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