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Lurdez da Luz quer chegar ao Nordeste com som de coragem

Veterana no rap nacional, paulista quer fortalecer a cena com selo próprio. "Quero ter um compromisso com a minha arte"

24 set 2014 - 11h47
(atualizado às 12h40)
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A paixão de Lurdez da Luz pelo rap tem mais de duas décadas e traz nas referências os ícones Racionais MC e a veterana Dina Di, do grupo Visão de Rua, falecida em 2010. “Em termos de mensagem, ela colocava um ponto de vista feminino de um jeito muito profundo”, diz Lurdez, que sentiu na pele a expansão do rap na voz das mulheres. “Realmente, é uma linguagem que parece mais masculina. Mas tem mudado muito”. Ela mesma é um exemplo vivo disso.

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Foi em um campeonato de skate feminino que Lurdez inventou de fazer um show sozinha. Ela já estava acostumada com os palcos ao lado de seus companheiros do Mamelo Sound System, grupo que integrou do final dos anos 90 até 2009, mas dessa vez era apenas  o seu nome em jogo. O frio na barriga só aumentou na segunda apresentação, no Parque da Juventude, em Santo André, quando abriu para a Nação Zumbi, em 2011. “Algumas começam com uma parada bem definida, mas eu ainda tava experimentando muita coisa. Hoje já existe um show meu”, ela define.

Em 2010, Lurdez lançou o single que a tornou conhecida pelo grande público. Andei foi sua carta de apresentação ao mainstream, com um empurrãozinho da MTV – emissora que em seus últimos momentos sob o comando da Grupo Abril levou o rap a uma posição de destaque. “Foi um apoio inesperado”, lembra Lurdez, que chegou a se apresentar no palco do VMB no ano seguinte, ao lado de Flora Matos e Karol Conká. Na época, a cantora divulgava seu primeiro EP, Lurdez de Luz, antecessor de seu trabalho mais recente, Gana Pelo Bang.

Para quem ficou com Andei na cabeça, o novo CD, que está disponível para compra no iTunes e no One Rpm, tem uma pegada mais agressiva e eletrônica. Levante, o single de estreia, tem batuque de sobra e traz na letra a atitude por que Lurdez é conhecida: “Igual a mim tem um monte, pronto pra linha de frente, que enxerga o horizonte. Homem, mulher combatente”. Em Naija, ela mistura momentos de sua vida com a história de uma descendente africana de pais refugiados.

Foto: Terra

O novo trabalho ainda traz uma forma mais objetiva de Lurdez passar suas intenções, mantendo a mistura musical que lhe é característica. “Eu tinha uma coisa mais abstrata, mas chega um momento em que você quer deixar clara a sua ideia. Nesse disco eu quis me posicionar de uma forma mais prática, de uma forma mais direta, mas também tenho esse meu lado lírico”, explica a cantora. 

Viver de música já é uma realidade para Lurdez há alguns anos, mas os projetos agora envolvem a cena do rap como um todo. É claro que a Europa está nos planos – aliás, os gringos já elogiam as músicas de Lurdez, mesmo sem entender uma palavra. No entanto, a paulista de 34 anos quer chegar ao Nordeste, como forma de agradecimento por toda a influência musical que absorveu da região. Além disso, Lurdez pretende fortalecer a cena com um selo próprio e até um festival de MCing. Tudo isso em paralelo com a compra de sua casa própria, de preferência com um estúdio.

Foto: Terra

Lurdez também é mãe solteira, e explica sua rotina em uma frase. “Ontem fiz maquete da paisagem rural e paisagem urbana e depois fui trabalhar num som”. A função dupla não é fácil, mas todo o tempo “livre” é usado para respirar música. Enquanto Rogê cresce, ela se afirma cada dia mais na carreira. Para Lurdez, não basta aparecer, ser mais uma artista lutando contra as dificuldades numa indústria que a cada dia precisa de novos esforços para se manter viva. “Eu quero ter um compromisso com a minha arte, quero despertar alguma coisa. Acho legal o que tá acontecendo hoje, das várias de você conseguir conduzir uma carreira. Não existe só um meio de levar sua música para as pessoas”.

O destaque em uma cena em que homens são maioria tem sabor diferente? “Eu acho que rola uma admiração com um pé atrás às vezes, com mulher que está no leme da vida. Mas isso deve ser comodismo do passado”, ela responde tranquilamente. Toda essa “banca” não é à toa. Lurdez conquistou o respeito de tanta gente, que, além de ser admirada por outras rappers, inspira garotas a seguirem pelo mesmo caminho, procurando seu som com coragem, na linha de frente.

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Fonte: Terra
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