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Metallica: para além das divas pop, gays também curtem heavy metal

Repórter Reginaldo Tomaz conta em detalhes a realização do sonho de infância ao curtir o show do Metallica em São Paulo

14 mai 2022 - 10h27
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Metallica em SP
Metallica em SP
Foto: Terra

Rolou no início da semana o show do Metallica, em São Paulo. A passagem da banda pelo Estádio do Morumbi foi marcada por desmaios, drogas e muita pirotecnia. Em meio a essa variedade de acontecimentos e um mar de fãs trajados de preto, eu me encontrava de branco, com olhos atentos e ouvidos bem abertos, direto da pista premium. 

Quando se pensa no público de uma banda de heavy metal, logo deve vir à cabeça um estereótipo: homens grandes, com estilo motoqueiro selvagem e que costumam demonstrar agressividade ao se comunicar. As mulheres também têm sua identidade marcante, com tatuagens e piercings.

Apesar da regra, existem exceções nesse universo, como eu, homem cis, branco, gay, que consome cultura pop e escreve sobre entretenimento em veículos de comunicação. Raramente encontro semelhantes nesses espaços.

Quem me conhece deve ter estranhado minha presença no concerto de metal. O motivo é óbvio e meu Spotify não deixa negar: divas como Lady Gaga, Madonna e, mais recentemente, Kali Uchis costumam reger o set-list do meu cotidiano. Entretanto, em paralelo ao amor pelo pop, existe essa veia latente, que, por causa de uma bifurcação não congênita, é capaz de despertar sentimentos bons e ruins em mim.

Metallica em SP
Metallica em SP
Foto: Instagram

Para te ajudar a entender o funcionamento dessa veia, preciso voltar à minha infância, quando meu pai, influenciado pelo pop e pelo rock dos anos 1980 e 1990, ouvia discos numa vitrola aos finais de semana. A partir daquele hábito, involuntária e relutantemente conheci e me afeiçoei a grandes nomes da música, como Aerosmith, Alice Cooper, Guns N’ Roses, Madonna, Abba, Kylie Minogue, Metallica e até mesmo Xuxa Meneghel - quem nunca vibrou com 'Quem quer pão' que atire a primeira pedra. 

Além dos vocais de Axl e Tyler

Lembro até hoje o dia em que acordei num domingo de tarde e, ainda sonolento, ouvi os primeiros riffs de 'The Unforgiven', faixa do 'Black Album' (1991). As nuances da música e a voz de James Hetfield saindo pela vitrola de meu pai me hipnotizaram.

Desde então, passei a gostar de um rock mais heavy, algo que fosse além dos vocais de Axl Rose e Steven Tyler. Nada contra eles, inclusive nunca deixei de ouvi-los, mas estava à procura de mais. Nessa jornada me aventurei por Megadeth, Judas Priest e Rammstein

Coforme cresci, fui me reconhecendo como homem cis, branco e homossexual. Como se não bastasse esse combo, ainda nasci com o plus de ser afeminado.

A partir da necessidade de me entender como pessoa na sociedade, durante a descoberta da minha sexualidade e do meu entendimento como pessoa, acabei me aproximando de cantoras como Lady Gaga e Christina Aguilera, que ao longo de suas carreiras disseminaram mensagens de autoamor, de reconhecimento do diferente e da importância da diversidade. Acabei deixando essa influência paterna de lado, até porque dores foram causadas nesse processo - mas isso é papo para outra história.

Metallica em SP
Metallica em SP
Foto: Instagram

A questão é que existem aspectos que fazem parte de nós, independentemente de querermos ou não. Por mais adormecida que a referência metal estivesse nesse processo de libertação, como gosto de chamar, ela sempre dava um jeito de se mostrar visível, como um traço de personalidade.

Seja no modo de me vestir, em que sempre opto por peças pretas ou brancas, raramente uma cor que destoe dessa paleta; seja na hora de decorar meu quarto, e até mesmo o amor pelo motociclismo. Essa paixão eu não compartilho com quase ninguém do núcleo de amizades LGBTQIAP+, mas remete muito ao público metaleiro. 

A verdade é que ir ao show do Metallica em São Paulo foi uma experiência diferente de tudo. Foi carregada de medo à minha integridade física, afinal, a falta de LGBTs à vista me preocupou porque a violência ainda é um cenário real, principalmente no Brasil; repleta de gatilhos, pois senti olhares que quem foi gay nos anos 90/2000 sabe bem quais são; e tinha muita ansiedade. Querendo ou não, eu estava prestes a ouvir de perto ídolos da minha infância, cantando músicas que ouço até hoje nos fones de ouvido. 

A banda começou o show com 'Whiplash' e não deixou de embalar o público com 'Master of Pupets', 'Atlas, Rise' e 'The Unforgiven', que é tão marcante para mim. Ao fim da apresentação, me senti conectado com a minha infância - aquele papo de criança interior - e senti como se tivesse feito as pazes com uma camada minha que por muito induzi propositalmente a uma espécie de coma. 

Fonte: Redação Terra
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