Morte de fã de Taylor Swift não foi acidente, foi negligência criminosa
A trágica morte de Ana Clara Benevides alerta para uma situação de risco permanente para quem frequenta shows no Brasil
O Brasil todo se entristece com a morte de Ana Clara Benevides, a jovem estudante de psicologia do Mato Grosso que passou mal logo no início do show de Taylor Swift no Rio de Janeiro. Mas não se trata de acidente. A questão é de negligência, como apontam muitas pessoas que estavam no estádio.
Diversos fãs nas redes socias denunciaram e muitas reportagens estão citando filas desorganizadas na entrada e tapumes que atrapalhavam a circulação de ar. Poucos bebedouros e escadas lotadas que impediam acesso aos bebedouros e banheiros. Fora os preços salgados: um copo de água tinha preço oficial de R$ 8,00, e era vendido por até R$ 12,00 nas arquibancadas.
O pior é que já havia uma previsão de extremo calor para o dia no Rio de Janeiro. A sensação de temperatura dentro do estádio chegou a mortais 60 graus centígrados. Era responsabilidade da produtora do show, a Time 4 Fun, adaptar antecipadamente sua estrutura e organização para enfrentar isso. Ou cancelar o show.
A trágica morte de Ana Clara Benevides alerta para uma situação de risco permanente para quem frequenta shows no Brasil. Não dá mais para as produtoras lavarem as mãos e arrumarem desculpas para esses "acidentes".
O Congresso pode ajudar, aprovando rapidamente um projeto de lei que permita a todos levarem água para eventos, ou a distribuição gratuita de água. Vários já foram apresentados no passado, como explico neste vídeo.
Infelizmente, o falecimento foi confirmado (Folha de São Paulo): https://t.co/QUadhm2FuY
No Brasil, não temos assentos na pista de NENHUM show demarcando o lugar, gerando um tumulto nas pistas. Não possuímos uma empresa organizada e que respeite os direitos básicos. O Estádio… [pic.twitter.com/AOQXtfJsU4](http://pic.twitter.com/AOQXtfJsU4)
— Info Taylor Brasil (@InfoSwiftBrasil) November 18, 2023
Mas já é obrigação legal das produtoras garantir água potável em quantidade suficiente para todas as pessoas que estão em seus eventos. Também cabe ao poder público ser mais ágil para fiscalizar e suspender eventos, e à justiça punir rigorosamente as empresas que por negligência colocam em risco os fãs.
Os eventos climáticos extremos estão cada vez mais comuns, com muito calor, chuvas torrenciais e ventos violentos. Outras mortes assim ocorrerão se os eventos e shows não se prepararem para isso.
[Atualização: Confira o anúncio do Ministério da Justiça]:
"A partir de hoje, por determinação da Secretaria do Consumidor do Ministério da Justiça, será permitida a entrada de garrafas de água de uso pessoal, em material adequado, em espetáculos. E as empresas produtoras de espetáculos com alta exposição ao calor deverão disponibilizar água potável gratuita em “ilhas de hidratação” de fácil acesso. A medida vale imediatamente. A Secretaria Nacional do Consumidor tomará as providências cabíveis para a fiscalização, com a colaboração dos Estados e dos Municípios, bem como atuação da Polícia, se necessário."
(*) André Forastieri é jornalista e empreendedor, fundador de Homework e da agência Compasso, e também realiza mentorias com profissionais e executivos. Saiba mais andreforastieri.com.br.