Música disco: a história do ritmo que embala 'Boogie Oogie'
Das raízes ativistas até a ultra-liberdade no Brasil, fomos buscar a história do estilo que criou as discotecas e, agora, é retratado pela nova novela das 18h
Música disco, disco music, discoteca... são muitos os nomes que batizam esse estilo musical, tão famoso nas danceterias de todos os cantos do mundo durante os anos 1970. A psicodelia, a influência latina e os famosos falsetes marcam a “Era Disco”, que agora, em 2014, começa a ser retratada em Boogie Oogie, nova novela das 18h da TV Globo.
Mas a história desse ritmo de música vai muito além dos globos de discoteca e luzes coloridas. Não dá para definir exatamente quando surgiu a música disco, já que ela se caracteriza muito mais como um novo capítulo da música negra do que como um estilo independente. Porém, é possível encontrar um ano divisor de águas nessa história: 1973. Nessa época, começam a explodir nas rádios gravações de Betty Wright, Harry Wayne "K.C." Casey e KC and the Sunshine Band. Antes, porém, muitos artistas de soul music já produziam canções que se aproximavam do que viria adiante. Entre eles, Stevie Wonder e Manu Dibango. Mas, especialmente, Isaac Hayes, com uma das trilhas mais famosas do cinema, a de Shaft, em 1971.
Dali em diante, muita coisa aconteceu e nomes pipocavam quase que mensalmente durante toda a década de 70, com destaque para a primeira diva da música disco, Donna Summer, embalada pelo sucesso de I Feel Love. Bee Gees, ABBA, Chic e The Jacksons, que seria conhecido no mundo todo pelo talento de seu integrante mais jovem, Michael Jackson, são outros nomes pesados dessa fatia da cultura negra. Queen, The Rolling Stones, Elton John e até Pink Floyd são alguns artistas que embarcaram nessa onda durante seu pico. Nos cinemas, nada representou e marcou mais essa época da cultura popular do que o filme Os Embalos de Sábado à Noite, que revelou John Travolta para o mundo.
As origens enraizadas no ativismo de minorias
Nova York e Filadélfia foram as grandes capitais do começo da música disco, que se espalhou, especialmente, pelas boates frequentadas por negros, latinos e homossexuais. As principais bandeiras iniciais do estilo se uniam aos protestos em favor aos direitos das minorias que davam suporte ao ritmo na época, além de iniciar uma campanha contra o domínio de artistas brancos no rock e a depreciação da música dance.
A criação das discotecas e o espírito de liberdade, tanto sexual quanto comportamental, que a música disco dava aos seus consumidores, fez com que o estilo ganhasse imenso espaço na cultura de massa na época e o sucesso se prolongou durante toda a década de 70, especialmente nas regiões com maior população negra dos Estados Unidos.
A volta do rock e o começo da decadência
O início dos anos 1980 não foi bom para a música disco. Pelo contrário. Com os Estados Unidos sendo dominados pela ala Republicana, conhecida por ser mais conservadora e representada na figura de presidentes como Ronald Reagan, Gerald Ford, que começara seu mandato na década anterior, e George H. W. Bush, ganham força as manifestações contrárias ao estilo e as discotecas começam a se desfazer diante do preconceito de movimentos contrários ao domínio de negros, latinos e homossexuais. Assim, a música disco é obrigada e deixar suas raízes e migrar para outros lugares do mundo, especialmente na Europa, onde segue fazendo sucesso e evoluindo, cada vez mais eletrônica e moderna.
Mas o ritmo dançante do estilo deixou heranças e se viu representado até em seu maior rival, o rock, que voltou a ganhar força na década de 80, só que, agora, muito mais eletrônico, abusando de sintetizadores, batidas eletrônicas e roupas extravagantes.
A música disco no Brasil
No país do samba, a música disco teve seu espaço mais especial localizado no Shopping da Gávea, Rio de Janeiro, com a boate Frenetic Dancing Days, do produtor e jornalista Nelson Motta, criada em 1976. O espaço se tornou o mais famoso point da noite carioca, sendo frequentado por pessoas de todas as regiões do Rio.
Nelson Motta fala sobre o nightclub em seu livro Noites Tropicais (2001). Nele, Motta define o local como "ultra-liberal, assim como seu dono". Além de ditar o ritmo com o qual a música disco se espalhava pelo Brasil, a boate também revelou o grupo feminino As Frenéticas, formado por Leiloca Neves, Sandra Pêra, Regina Chaves e Dhu Moraes, que embalava o público durante todas as noites com o hit Dancin Days, que virou trilha de abertura da novela homônima, exibida no horário nobre pela Globo em 1978, com grande recepção do público.
Outros nomes que se destacaram no Brasil de 70 fazendo disco music foram Tim Maia, Banda Black Rio, Rita Lee, Gilberto Gil e Gretchen, que é considerada a grande musa do estilo por aqui.
Obras essenciais
Alguns álbuns são fundamentais para se entender e conhecer mais profundamente a evolução da música disco no mundo. Entre eles, Lady of the Night (1974) e Love to Love You, Baby (1975), de Donna Summer, Dancing Machine (1974) e Moving Violation (1975), os dois últimos do Jackson 5 com a Motown, Off The Wall (1979), de Michael Jackson, ABBA (1974) e Arrival (1976), do ABBA e Dance Dance Dance (Yowsah Yowsah Yowsah) (1977), da Chic.
No Brasil, Tim Maia Disco Club (1978), de Tim Maia com a Banda Black Rio, Realce (1979), de Gilberto Gil, o disco compacto Dance With Me (1978), de Gretchen, e Frenéticas (1977) e Caia na Gandaia (1978), das Frenéticas, são indispensáveis para quem busca entender como a música disco embalou o País no final da década 70.