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Ouça o novo álbum "Negra Ópera" de Martinho da Vila 

15 mai 2023 - 14h30
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Depois de quase quatro minutos nos quais reina a orquestra regida pelo maestro Leonardo Bruno, ouve-se pela primeira vez a voz de Martinho da Vila, que diz apenas, com sua suavidade categórica: "Zumbi dos Palmares, Zumbi".

É Zumbi, portanto, que Martinho convoca como o mestre-de-cerimônias de sua Negra Ópera, como ele batiza seu novo disco, lançado no último 12 de maio — véspera da data em que se celebra o aniversário da Abolição, ou ao menos da primeira Abolição de outras que ainda estão por vir.

Foto: Leo Aversa / The Music Journal

A liberdade e a resistência encarnadas na figura de Zumbi aparecem, assim, como os grandes pilares sobre o qual se ergue o disco. Não por acaso, a primeira canção que Martinho entoa, logo após a já citada peça orquestral Abertura Negra Ópera, é exatamente Heróis da liberdade. E, também não por acaso, o cantor introduz a faixa lembrando os poetas Solano Trindade e Cruz e Sousa, que "falavam muito em liberdade".

No canto cadenciado de Martinho, o clássico samba do Império Serrano soa como celebração serena. A dinâmica do arranjo, que vai do tamborim sozinho com os coros no início até a batucada mais marcada do fim, acompanha o mesmo espírito. No avançar do disco, a serenidade ganha sombras, contornos ainda mais densos, dramáticos mesmo — a despeito do canto macio de Martinho.

Afinal, ele explica, é uma ópera: "Meus discos são sempre muito alegres, queria fazer algo diferente. Como gosto muito de ópera, pensei em fazer a minha ópera, com uma boa dose de dramaticidade. E negra, porque as músicas são fundamentalmente ligadas a questões negras, os músicos são praticamente todos negros", afirma o cantor sobre o disco produzido por Celso Filho, Martinho Antônio e Pretinho da Serrinha.

A religiosidade afrobrasileira e a ancestralidade se mostram em Timbó, sobre o personagem descrito como "um grande feiticeiro". O rapper carioca Will Kevin divide os vocais com Martinho e projeta as sabedorias antigas em direção ao futuro, criando versos como "Tudo que vai ao chão vai voltar melhor".

A faixa seguinte, Exu das sete, vai ainda mais fundo no terreiro, com o arranjo todo apoiado na percussão, reproduzindo uma gira. Ela é uma das três inéditas do disco, composta recentemente por Martinho. Preto Ferreira, filho de Martinho, canta com o pai na gravação.

"Eu sou católico, e como bom católico brasileiro, tenho um pé na umbanda", diz Martinho. "Como no catolicismo cada pessoa tem seu anjo da guarda, nas religiões de origem africana nós temos um exu. O meu é o Exu das Sete, então fiz essa música. Chamei Preto pra cantar comigo porque ele é messiânico. Achei que seria bom pra música e pra ele, gosto de incentivar a convivência das religiões".

Linda Madalena, lançada em 1983 no disco Novas palavras, foi composta por Martinho há cerca de 60 anos, quando ele dava seus primeiros passos no samba na Aprendizes da Boca do Mato. Ela conta a história de um triângulo amoroso "resolvido" com a morte de uma das vértices graças a "uma macumba" feita por Madalena — novamente o feitiço como elemento da Negra Ópera.

Com sabor de samba rural, ela conta com a sanfona de Kiko Horta.

Ouça Negra Ópera:

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