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Peter Hook não quer manchar legado do New Order com disputas

De volta ao Brasil, baixista falou com o Terra sobre a turnê que traz repertórios dos discos 'Low-Life' e 'Brotherhood' e como as brigas com os ex-membros da banda o afetam

29 out 2014 - 14h28
(atualizado às 14h36)
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<p>Ao lado de Bernard Summer e Stephen Morris, Peter Hook (foto) formou o Joy Division antes da morte do vocalista Ian Curtis. A tragédia marcou a banda, que criou o New Order em seguida, com uma proposta mais eletrônica</p>
Ao lado de Bernard Summer e Stephen Morris, Peter Hook (foto) formou o Joy Division antes da morte do vocalista Ian Curtis. A tragédia marcou a banda, que criou o New Order em seguida, com uma proposta mais eletrônica
Foto: Julien Lachaussée / Divulgação

Poucos músicos podem carregar a honra - e responsabilidade - de ter formado não apenas uma, mas duas das bandas mais importantes das décadas de 70 e 80. Peter Hook, antigo baixista do Joy Division e do New Order, é um desses casos raros e sabe muito bem disso. É por valorizar tanto o legado de ambos os grupos que ele está de volta ao Brasil no próximo dia 31, quando se apresenta em São Paulo com a turnê que traz os repertórios dos álbuns The Low-Life (1981) e Brotherhood (1983), terceiro e quarto disco do New Order, formado após o suicídio de Ian Curtis, vocalista do Joy Division.

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A turnê mundial é a continuação do projeto que Peter iniciou em 2013, quando também veio ao País para tocar as faixas dos primeiros CDs da banda, Movement e Power, Corruptions & Lies. Até hoje, sete anos depois de deixar o grupo, Peter trava uma disputa na justiça pelos direitos da obra do New Order com os outros integrantes, em especial com o vocalista Bernard Summer, que na opinião de Peter "engana" a si e aos fãs ao fingir que a banda carrega sua essência. 

Apesar de toda discórdia, Hook afirma, em entrevista ao Terra, que nunca perdeu a sensibilidade para as músicas das bandas que integrou, ambas icônicas para o rock britânico. E se para os fãs já existe nostalgia, imagine para quem viveu tudo de dentro. "Às vezes ainda fico nervoso, as emoções são diversas", confessa o músico.

Terra - Essa turnê que você vai trazer ao Brasil agora inclui músicas de dois álbuns do New Order, The Low-Life e Brotherhood. Quais são as suas maiores recordações da época em que eles foram gravados?

Peter Hook - Eu tenho ótimas lembranças dessa época. O período da gravação e lançamento do Low-Life foi ótima para a história do New Order, na minha opinião. Todos estavam focados em fazer o melhor álbum possível e as nossas relações como banda eram muito boas. Éramos muito prolíficos em termos de composição de letras também – estávamos escrevendo músicas muito boas – tanto que pudemos deixar muitas delas de fora do disco, como Thieves Like Us e Lonesome Tonight, que lançamos apenas como singles. Com Brotherhood, a época era ainda mais interessante, porque queríamos fazer um disco totalmente dividido em dois – as primeiras cinco faixas acústicas e mais rock’n’roll, depois as outras quatro totalmente eletrônicas. Não tinham muitas bandas fazendo isso, isso nos ajudou a nos destacar como um grupo que fazia algo diferente. Ele também nos deu uma de nossas melhores músicas, Bizarre Love Triangle.

Seus shows costumam trazer uma carga histórica muito forte. Eles ainda despertam emoções do passado?

Com certeza. Eu experimento uma quantidade enorme de emoções sempre que tocos essas músicas. Às vezes ainda fico nervoso, porque esse é um set totalmente diferente e só tocamos algumas vezes. Aí quando o show começa e a adrenalina bate, eu começo a me sentir muito feliz, porque o sentimento de tocar essas músicas novamente é maravilhoso. Quando eu estava no New Order, os outros integrantes sempre se recusavam a tocá-las, então é incrível que a The Light, minha banda atual, consiga aprender mais de 100 músicas para tocar durante a turnê. Algumas delas me deixam muito triste, porque me lembram de coisas ruins. Mas é ótimo também, porque eu tenho muitas memórias de momentos muito bons da minha vida. Além disso, tenho meu filho tocando na banda comigo, e sinto um orgulho imenso olhando para ele. Então, no palco as emoções são diversas.

Todas as disputas e discussões com os ex-integrantes das suas bandas, elas já tiraram um pouco do seu prazer de fazer música?

Eu acho muito importante que você não deixe que isso, essas discussões e outras disputas, manchem a memória da banda ou seu gosto pela música. Quando eu escrevi meus livros, eu tentei separar todo o mal-estar e as brigas para focar somentas nas coisas incríveis que fizemos como banda, e acho que consegui fazer isso. Quando eu li o livro de Bernard, me pareceu que a visão dele sobre a banda foi comprometida por todas as discussões, porque tudo o que ele escreve lá carrega esse peso e piora as coisas, o que é muito triste. Para mim, a música sempre será especial e uma parte enorme da minha vida, seja qual for a minha relação com os outros membros.

Junto com seus outros companheiros do New Order e do Joy Division, você fez músicas que sobrevieram ao tempo. Você sente existem músicas sendo criadas assim hoje em dia?

Eu gosto de pensar que sim! Acho que seria uma pena se as pessoas parassem de tentar compor músicas assim. Na minha opinião, é sempre importante que haja alguma coisa que te faça seguir em frente para atingir as melhores coisas que você é capaz de criar. Espero que as bandas atuais possa olhar para o nosso exemplo e nos usar como inspiração para fazer músicas que sobrevivem ao tempo também, assim como nós fizemos. Quando nós fizemos as nossas canções mais famosas, não imaginávamos que as pessoas ainda ouviriam depois de 35 anos, não achávamos possível. Mas o fato de termos conseguido deve mostrar às bandas mais novas que tudo é possível.

Existe uma lista enorme de bandas influenciadas pelo New Order e pelo Joy Division. Algumas delas já inspirou uma parceria?

Eu adoro trabalhar com outros artistas, então se eu fosse convidado e achasse que o projeto seria musicalmente interessante, eu me envolveria sim. Algumas colaborações que fiz no passado resultaram em ótimas faixas – por exemplo, quando eu toquei baixo com o Jane’s Addiction no álbum Satellite Party, fizemos duas músicas brilhantes. Estou sempre disposto a tocar com outros músicos, é sempre um desafio tocar com uma banda que não é a sua.

Foto: Divulgação

Com a nova turnê, Peter Hook irá concluir a "missão" de tocar no Brasil o repertório de toda a sua permanência no Joy Division e New Order

Muitos lugares se tornaram lendários por sua história e relação com a música, como a Haçienda, que você fundou ao lado do New Order e do Tony Wilson (produtor britânico) e se tornou sede da ascensão da música eletrônica. Você acha que atualmente temos “berços” de bandas assim?

É uma questão difícil porque hoje em dia a indústria musical é um lugar muito mais hostil do que era no passado. Hoje, o surgimento de “música nova” é mais difícil do que nunca. Mas acho que ainda existem lugares que ajudam a música a prosperar, dando a plataforma que ela merece. Há algumas casas em Manchester que se orgulham em mostrar novas bandas, com a Deaf Institute, que é um lugar ótimo que sempre traz grandes shows, ou o meu próprio clube, o Factory, onde damos a chance para novos artistas sempre que podemos. Além disso, outro grande exemplo é o Metro Club de Chicago.

Você sente mais dificuldade de compor hoje em dia?

Não. Eu tenho muitas ideias que quero trabalhar em breve, assim como os outros integrantes da banda. O grande problema é que é muito difícil arrumar tempo para entrar no estúdio e colocá-las em prática, porque estamos em turnê. Espero que daqui a pouco consigamos fazer isso, acho que está na hora de lançar um novo álbum.

Você está com a The Light por quarto anos já. Qual é a maior diferença entre tocar com essa banda e ter tocado com suas bandas antigas?

Sim, a The Light começou em 2010, então já temos quatro anos e meio agora, e eu ainda não consigo acreditar. Sou muito grato aos fãs que nos apoiaram desde o início, especialmente no Brasil, que sempre foi muito bom conosco, por isso amamos tocar aí. Eu nunca achei que eu ainda estaria fazendo isso, então é incrível! Acho que estamos melhorando a cada dia. É uma experiência muito diferente, quando eu comparo com o New Order ou o Joy Division.

Quais eram as maiores diferenças em termos de ânimos nessas bandas?

Quando estávamos juntos com o Joy Division, a atmosfera era sempre muito intensa, porque todos estavam focados na música, em nada mais. Essa intensidade se manifestava em brigas depois dos shows, era muito louco. Mas o bom é que não havia distrações, todos colocavam tudo na banda. Com o New Order era totalmente diferente, porque algumas pessoas mudaram muito arruinaram a dinâmica da banda, e ainda tem a questão típica de drogas e bebida, que não ajuda. O New Order foi uma experiência muito triste pra mim no fim, então fico aliviado em dizer que finalmente estou me divertindo novamente, trabalhando com ótimas pessoas.

Você acha que o repertório do Joy Division e do New Order é bem representado por todos vocês hoje em dia, apesar de não estarem mais juntos?

Eu acho que sim. Se você é fã da música, é uma ótima época, porque depois de todos esses anos sem que nós fizéssemos nada com as músicas do New Order e do Joy Division, você tem uma turnê conosco como The Light e com os outros, como o New Order “reformulado”. Mas o importante é dizer aqui que eles não são e nunca serão o New Order. Mas eles usam esse nome mesmo assim, o que é enganador.

Como você encara essa permanência do New Order sem você?

Eu entendo o porquê. Depois do fracasso do projeto Bad Lieutenant (banda formada formada por Bernard Summer entre 2008 e 2011), e frente a um momento econômico difícil, eles precisavam fazer isso. Eu ainda estou lutando com meus advogados porque eu não concordo com a maneira como eles fazem isso. Para mim, os shows deles são muito preguiçosos, eles nunca mudam o setlist e cobram o mesmo preço do ingresso e entregam a mesma coisa todas as noites. Nós fazemos algo muito mais interessante, porque tocamos o disco na íntegra, não só uma coletânea com melhores hits, e sempre mudamos o setlist. Então, se você deixar de lado todas discussões entre nós, deve ser ótimo para os fãs, porque eles têm duas chances de ouvir nosso material de maneiras bem diferentes.

Serviço

Peter Hook & The Light

Sexta-feira, 31 de outubro

Clash Club (Rua Barra Funda, 969) - São Paulo/SP

Abertura da bilheteria e da casa: 23h

Horário previsto do show: 1h

Valores: PISTA - 1º Lote: R$ 120 (inteira) / R$ 60 (meia-entrada); 2º Lote: R$ 140 (inteira) / R$ 70 (meia-entrada) e 3º lote: R$ 160 (inteira) / R$ 80 (meia-entrada). CAMAROTE – R$200 (inteira) / R$ 100 (meia-entrada).

Vendas online pelo site http://tinyurl.com/peterhookbr

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Fonte: Terra
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