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Pink Floyd: The Endless River é reunião de ideias inacabadas

Banda lança seu último disco e homenageia Richard Wright, morto em 2008; sobras de estúdio gravadas em 1994 pode agradar fãs, mas ainda soa como "resto"

10 nov 2014 - 15h53
(atualizado às 17h13)
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Vinte anos separam o momento da gravação de The Endless River de seu lançamento. É preciso ter isso em mente ao ouvir o décimo quinto - e provavelmente último - álbum do Pink Floyd. O aguardado disco inédito da banda de David Gilmour carrega consigo uma expectativa desproporcional com sua realidade, o que é natural ao falarmos de canções inéditas de uma das bandas de maior sucesso na história do rock. Para esta audição, é necessário termos em mente uma série de fatores: ele foi gravado em 1994, fez parte das sessões que resultaram em The Division Bell (1994) e é uma homenagem ao tecladista Rick Wright, morto em 2008.

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Resumindo, The Endless River é uma compilação de restos, o que não precisa ser necessariamente ruim, mas também não devemos esperar algo revolucionário.

A homenagem a Wright é nítida logo nas primeiras faixas. Things Left Unsaid, It's What We Do e Ebb and Flow são conduzidas pelos seus teclados e sintetizadores. Os riffs pentatônicos clássicos de Gilmour dão cores em poucos compassos. Na eterna batalha das rédeas da banda entre os egos de David Gilmour e Roger Waters, como conta Mark Blake no livro Nos Bastidores do Pink Floyd, Rick Wright sempre ficou em segundo plano, mesmo sendo um músico tecnicamente mais completo que seus "chefes".

Foto: Facebook / Reprodução

Morto em 2008, Rick Wright é o grande homenageado em The Endless River (foto: Facebook/Reprodução)

Em Sum, a guitarra de Gilmour reaparecesse com força, ora com seus bends que gritam, ora com seu hipnótico lap steel. Ao fundo, os sintetizadores ecoam e preenchem a música.

Com esta primeira sequência instrumental, notamos esta sensação de "resto" de estúdio de The Endless River. São trechos, músicas gravadas nos vincos do disco, mas que permanecem como ideias inacabadas, onde ainda não se encontram como uma unidade.

Quando falamos de uma banda que possui obras-primas conceituais como Dark Side of the Moon, Animals e Wish You Were Here, é triste ver faixas "jogadas" sem um desenvolvimento adequado. Histórias inacabadas. Riffs, melodias e harmonias que são só lampejos e criações sem começo, meio e fim.

Skins, Unsung e Anisina encerram a parte 1 e 2 do disco. Ter essa compilação de canções instrumentais sem um fio condutor as unindo, acaba por nos levar para um gênero que fãs não gostariam nada de se enquadrar: a música ambiente de elevador. Insosso e de poucas cores.

The Lost Art of Conversation abre a parte 3. O título já remete ao conceito central de The Division Bell: a falta de comunicação. Mas ficamos só nisso. As faixas seguintes, On Noodle Street, Night Light, Allons-Y (1), Autumm'68, Allons-Y (2), todas com menos de dois minutos, são meramente vinhetas descartadas e agora reunidas em sequência. É possível ouvir diversos timbres e efeitos usados em faixas como High Hopes, Coming Back to Life e Keep Talking, todas de The Division Bell. Allons-Y (1) e Allons-Y (2), embora sejam da fase pós-Waters, têm uma musicalidade muito próxima dos temas gravados em The Wall (1979), com uma vitalidade positiva, mas novamente, ainda como ideias inacabadas. Talkin' Hawkin' encerra a parte 3 e conta com trechos narrados pelo astrofísico Stephen Hawking, que já havia participado da faixa Keep Talking, do Division Bell.

Foto: MJ Kim / Getty Images

David Gilmour, Roger Waters, Nick Mason e Rick Wright durante reunião da banda para show no Live 8, em Londres. Vale lembrar que Waters não participou destas gravações. (foto: MJ Kim/Getty Images)

Calling, Eyes to Pearls, Surfacing e Louder Than Words sãos as últimas quatro faixas de The Endless River. Calling carrega um pouco mais de peso e melancolia, assim como a vinheta seguinte. Surfacing tem um bonito dedilhado de violão e o lap steel de Gilmour como estrutura básica, acompanhada de um coro. 

Ao fundo da introdução de Louder Than Words ouvimos brevemente os mesmos sinos de High Hopes, que encerra The Division Bell , e finalmente ouvimos a voz de David Gilmour. A faixa propõe um encerramento bom para The Endless River, mas não tão grandioso quando comparamos com o fim explosivo de High Hopes em The Division Bell, por exemplo. "É mais alto que as palavras/ As coisas que fazemos / É mais alto que as palavras / O jeito que nos abrimos / É mais alto que as palavras / A soma de nossas partes / É mais alto que as palavras / O batimento de nossos corações / É mais alto que as palavras".

A letra pode soar genérica quando o assunto envolve brigas, reclamações e como sentimentos falam mais alto que as palavras, mas se encaixa perfeitamente para quem acompanha a história do Pink Floyd e se reencontra com integrantes e ex-integrantes neste desfecho, mesmo não sendo um desfecho à altura da genialidade desta banda.

Fonte: Terra
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