'Precisamos de música de protesto', diz Lana Del Rey
Cantora defende essa ideia diante do crescimento da violência e do cenário político atual; ela acaba de lançar seu 5º álbum
Ninguém achava que Lana Del Rey chegaria tão longe. Após uma desastrosa estreia musical no Saturday Nihgt Live, em 2012, e massacrada por uma mídia social sedenta de sangue, a cantora e compositora, nascida Elizabeth Grant, poderia nunca ter passado de uma nota de pé de página. Mas, em lugar de se autoimolar, Del Rey explodiu em um dos mais consistentes álbuns da década, pressagiando a virada da pop music - e do mundo - para os opiáceos e o apocalipse.
Norman F*cking Rockwell!, seu quinto álbum, lançado em 30 de agosto, está recheado de letras explosivas e profanas que exploram versões iconográficas de masculinidade e feminilidade. O álbum começa com os versos "Goddamm, Man-Child", na faixa-título que é quase um tributo ao folk e rock de Laurel Canyon. O álbum foi produzido com o it-man pop Jack Antonoff. Vale lembrar que Del Rey não teve um hit entre as Top 40 nos últimos cinco anos.
Para dar uma ideia de onde estava musicalmente com a cabeça nesses dias, Del Rey remete a John Lennon, Led Zeppelin, Beach Boys, David Bowie, Crosby, Stills & Nash, enquanto mantém flashes de Fiona Apple e Cat Power - uma, antiga referência espiritual, outra, uma colaboradora recente.
Na Califórnia, pelo telefone, Del Rey, de 34 anos fala com humor de temas que vão do processo de criação de Antonoff a Kayne West, Trump e ausência de músicas de protesto.
Você se tornou uma popstar sem interagir ou seguir muito seus contemporâneos, mas no último álbum trabalhou com ASAP Rocky, The Weeknd e Max Martin. Queria dar uma recuada?
Não, mas no estúdio Jack Antonoff é uma presença tão grande que ocupou muito do espaço que eu dei. E isso valeu muito. A única coisa que realmente queria era ter uma mulher dos anos 1960 só para acrescentar um pouco de magia.
O que trabalhar com Jack teve de diferente?
Encontrei com ele numa festa e não queria ir para o estúdio. Mas então ele escreveu uma canção em 40 minutos, Love Song. Adorei como ele capturou minha voz sem instrumentos. E pensei: "Vamos fazer um álbum".
Por que tantas mulheres artistas querem trabalhar com ele?
Por causa de sua musicalidade. Conheço muitos produtores que não tocam nada. Ele toca cítara e faz mágica com uns poucos acordes.
Dá medo lançar um álbum ao mesmo tempo que Taylor Swift?
Uau! Isso me faz pensar sobre o que estou fazendo com minha vida.
Como assim?
Meus planos são não fazer planos. Mas às vezes as pessoas exigem mais, então mostro minhas canções. Não estava pensando no álbum de Taylor até perceber que o espaço de tempo entre um e outro era de uma semana.
Você entra esporadicamente no pop, mas não faz parte dele. Como decide que é hora de entrar, como ao fazer a canção Charlie's Angels com Miley Cyrus e Ariana Grande?
Gosto muito de Ariana. Primeiro, ouvi Dangerous Woman, depois Thank U Next. E ficava perguntando: como ela escreveu isso? Assim, quando ela me pediu para participar de Charlie's Angels, minha resposta foi: "Ok, se você realmente me quiser...".
Como vê o domínio do pop no momento? Você acompanha no rádio, Spotify, Billboard?
Sou mais pelo Instagram. Ouço falar no clipe de uma canção e vou procurar no YouTube. Adoro Billie Eilish e sinto como se tivesse esperado por essa época da cultura da pop music.
Em The Greatest, você diz que sente falta do rock.
Estava pensando em quando tinha 19, 20, 21 anos e ouvia, com meu primeiro namorado, Milk, com Kings of Leon, ou White Stripes e The Strokes.
Você cantou no noivado de Kanye West e pediu no Twitter que ele não apoiasse o presidente Trump. Teve uma resposta?
Felizmente, não. Não queria uma resposta. Você não se sente melhor por escrever uma coisa como essa. Mas Kanye significava muito para nós. E estou feliz por viver num país em que cada um pode ter seu ponto de vista político. Não sou mais liberal do que sou republicana. Estou no meio.
Você acha que está faltando música de protesto hoje?
As pessoas perguntam se esse governo está estimulando a ideia de que não há problema em ser mais violento. E muita gente acha que está. Se a música de protesto alguma vez esteve em falta, esse tempo é agora. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ