Projota estreia em CD: “ninguém tem que ser o rei do rap"
Conhecido e admirado na cena do rap nacional, Projota agora tem primeiro trabalho com uma grande gravadora e sabe exatamente aonde quer chegar com sua carreira
“Não sou o mais gangueiro, romântico também. Não tenho a melhor levada, nem me acho flowman”, canta Projota em Foco, Força e Fé, single do disco homônimo que acaba de lançar pela Universal Music. O trabalho é o primeiro com uma grande gravadora na carreira do rapper de 28 anos, que tem na simplicidade e no carisma a fórmula de seu sucesso. “Era um sonho, poder fazer um álbum de verdade, porque eu sempre trabalhei com esse lance mais demo, pra poder vender show. Ter o disco físico me ajuda financeiramente”, diz o rapper paulista, que antes fazia samples no quarto de casa e hoje não consegue esconder a euforia com a atenção que tem recebido.
O CD de estreia do “cidadão José Tiago Sabino Pereira”, como ele costuma se descrever no Instagram, tem participação de gente de muito respeito na cena. Marcelo D2 e Negra Li, por exemplo, participam das faixas Elas Gostam Assim e Tinha Nada, respectivamente. Os dois são apenas alguns dos fãs de Projota na cena hip hop. E não é por acaso, a facilidade para a rima e o jeito educado e boa praça não passam despercebidos, inclusive nos programas de TV, onde o cantor tem aparecido cada vez mais.
Uma de suas parcerias mais recentes, aliás, foi ao lado de Anitta, com quem assina a romântica Cobertor. A faixa não entrou no CD, mas rendeu uma popularidade imediata nas rádios e uma nova leva de fãs – principalmente meninas. “Aconteceu naturalmente o lance de as meninas ouvirem meu show e no show é 50%, e às vezes tem até mais mulher”, fala. Para ele, já é normal ver uma série de garotas gritando suas rimas à beira do palco, mas Projota garante não fazer nada de caso pensado. “Se eu for me policiar, pode ser que vire um problema”.
A naturalidade do trabalho do rapper também transparece em músicas como Hey Irmão, que fala sobre amizade e uma época em que cantar um rap em rede nacional era só um devaneio de moleque. “Às vezes bate uma saudade de um tempo em que era tudo mais fácil. Tinha muito menos julgamento, que hoje não me afeta mais, mas já me afetou muito. Enquanto não tem dinheiro, ninguém tá nem aí. Aí o dinheiro te mudou ou mudou só o que pensam sobre mim?”, indaga. Carta Aos Meus, com participação especial de Dado Villa-Lobos, segue na mesma linha, mas ainda ganhou um brilho especial da base de Tempo Perdido, do Legião Urbana.
O rock, aliás, entrou com influência tímida em Foco, Força e Fé, mas pode seguir mais forte nos próximos álbuns de Projota. “Eu cresci ouvindo rock, o meu sonho era ter as coisas orgânicas. Tem de tudo, da guitarra ao trompete”, explica, justificando a camiseta do Led Zeppelin que vestia durante nossa entrevista. Sobre a mistura de estilos, ele se mostra empolgado: “Todo mundo procura um rapper pra fazer uma música fora do Brasil. E tava faltando isso aqui”. Sobrou até espaço para incluir uma parceria com o colombiano J Balvin, estrela do reggaeton, estilo ainda pouco difundido no Brasil, mas fortíssimo no resto da América Latina.
As 15 músicas de Projota foram pensadas com cuidado, assim como a sua carreira, que ele quer construir com uma base firme para não ter vida curta. E ele está longe de se deslumbrar. “Eu continuo com a minha simplicidade, eu ainda gosto de ficar em casa jogando videogame e eu podia tá aí ganhando dinheiro com droga, balada e prostituta. Nego pensa que a gente tá na Gozolândia e eu tô assistindo Lost”, ri.
Como ele já diz no single, seu negócio é ostentar amigos, não grana. “Vender 50 mil mixtapes de mão em mão... Isso é uma ostentação válida, sabe?”. É com esse descompromisso com o ego que o rapper gosta de falar sobre si. “Uma cena boa tem que ter muitos artistas. Ninguém tem que ser o rei do rap, o cara, o maior nome do hip hop brasileiro. Não é essa a questão. Isso é importante pra mim, ser ‘um dos’”.
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