Rock in Rio encerra edição de 40 anos com catarse nostálgica e simpatia de Shawn Mendes
Último dia do festival contou com shows de Mariah Carey, Ne-Yo e Akon
Entre 2001 e 2011, o Rock in Rio deu uma pausa nas edições brasileiras enquanto a organização se dedicava a criar raízes em Portugal. A falta que o festival fez em terras brasileiras neste período foi sanada no domingo, 22, o último dia de sua edição comemorativa de 40 anos.
Com Ne-Yo, Akon e Mariah Carey, o line-up, que poderia ter sido o de qualquer ano da década de 2000, redimiu a falta do evento no período de auge destes artistas. Porém, a junção desses artistas em 2024 resultou em uma catarse nostálgica nos gramados da Cidade do Rock, seguida pelo encantamento do público com o canadense “paz e amor”, Shawn Mendes.
Calor e filas para brindes
O mesmo calor que marcou o início do Rock in Rio 2024 esteve presente no último dia do festival. Sob um sol de 30°c no Rio de Janeiro, os portões da Cidade do Rock abriram pela última vez neste ano às 14h.Quando a música tema do evento tocou para anunciar a entrada do público geral, era possível ver muita gente correndo pelos gramados. Em um dia com uma diva pop no line-up e um artista teen como headliner, era de se esperar a pressa em pegar o melhor espaço na grade dos palcos principais.
No entanto, parte do público se apressou mesmo para tentar um bom lugar nas filas de ativações de marcas patrocinadoras que davam brindes como pochetes, enxaguantes bucais e batons para os que passavam por lá.Enquanto alguns poucos já “acampavam” nas grades do palco Mundo e Sunset no início da tarde, a maioria preferiu tentar a sorte nos estandes das marcas. Cerca de 20 minutos após a abertura dos portões, as filas já eram enormes em frente aos espaços patrocinados. Nesta edição, a impressão é que os brindes foram tão concorridos quanto os famosos brinquedos do parque de diversões do Rock in Rio.
De volta aos anos 2000
A sensação de dispersão e de “buracos” no gramado durante estreia do Dia Brasil, no sábado, 21, foi superada por um público engajado e espaços lotados neste domingo. Entre camisas com o rosto de artistas do line-up estampados, algumas pessoas investiram até em looks com referências aos anos 2000, como boinas, minissaias e cintura baixa. Alguns até registraram os shows com suas cyber-shots, modelo de câmera popular na década. Apesar do engajamento do público com o que parecia ser a temática do último dia de festival, o primeiro show no palco mundo não empolgou tanto.
A cantora Luísa Sonza representou os artistas nacionais em mais uma apresentação de seu álbum mais recente, Escândalo Íntimo, pelo qual foi indicada ao Grammy Latino de 2024 como o Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa. Mesmo recheado de hits que fizeram sucesso na internet, como Chico, Sagrado Profano e Sentadona, a performance parece não ter empolgado tanto aos fãs ao fim da tarde.Quem levantou mesmo a galera foi o norte-americano Ne-Yo. Astro absoluto do início dos anos 2000, o cantor repetiu o show carismático e com bom ritmo que conquistou o público do The Town em 2023. No momento em que cantou hits como So Sick, de 2006, e Because Of You, de 2007, o grande público que se aglomerou próximo ao palco Mundo cantava e pulava ao ritmo das canções.
Durante todo o tempo, parecia que Ne-Yo estava satisfeito com a própria performance e com a reação do público, o que contagiou ainda mais aos fãs que entoavam, nostálgicos, seus sucessos. A apresentação seguiu conforme o roteiro de um grande show de festival, com direito a participação de mulheres da plateia para uma “disputa” de dança.Logo depois do americano, um show em homenagem a cantora Alcione, com a presença dela, também mobilizou o público do Rock in Rio com os sucessos inquestionáveis da “Loba” no palco Sunset. Antes, Ney Matogrosso tinha animado o público com seus sucessos e sua voz inconfundível e o Olodum também tinha balançado o público acompanhado do grupo Baiana System.A atmosfera nostálgica voltaria às 21h20, uma hora depois do fim do show de Ne-Yo, quando Akon subiu ao palco Mundo. Esperado com grande expectativa, o cantor foi bem recebido pelos fãs e enfileirou hits dos anos 2000 em seu setlist, como Lonely, I Wanna Love You e Smack That.
A sensação de estranheza com seu show começou quando ele se confundiu e, ao interagir, perguntou como as pessoas de São Paulo estavam se sentindo. A plateia, em coro, corrigiu: “Rio!”. Em determinado momento, Akon chegou a deixar o palco e um DJ passou a embalar o público com músicas nacionais como Só Love, Casca de Bala e Só Fé.
A impressão, para quem assistia, era de que momento se arrastou até demais, gerando impaciência em quem queria continuar vendo o artista em cena.No entanto, ao reaparecer, Akon surgiu dentro de uma bola plástica. A ideia era “rolar” pelo público, mas deu errado quando a bolha furou em sua descida do palco. Tímido, ele pediu desculpas pelo imprevisto, mas o show parece não ter retomado ao êxtase inicial. Ele encerrou a apresentação de maneira improvisada, após ter excedido o tempo no palco.
Estrelas do pop fecharam a noite
Ainda na despedida de Akon do palco, o público já corria para alcançar o Sunset, onde Mariah Carey se apresentaria às 22h45.
Com o maior público visto na edição neste palco, a diva pop já começou sua apresentação em um vestido que representava a bandeira do Brasil e arrancou gritos animados da plateia ao puxar a música Obsessed. Nada parecia atrapalhar a dona de incontáveis hits dos anos 2000, a não ser por uma reclamação do público: o som baixo.Próximo ao palco Sunset, era possível ver um coro com o pedido: “Aumenta, aumenta!”.
O desejo do público não foi realizado e o áudio ficaria da mesma maneira até o fim da apresentação. No entanto, mesmo com o incômodo da plateia, Mariah dominou o palco, local que já conhece bem, com seus sucessos e sua voz potente. A cada falsete, o público se impressionava: “ela está cantando mesmo!”, em referência às críticas de que usaria playback nas apresentações.
Quando o show da diva pop acabou, muitas pessoas optaram por não esperar o headliner e foram embora. Às 00h, o canadense Shawn Mendes entrou no palco Mundo para se apresentar para um público um pouco menor do que esteve presente nos shows de Ne-Yo e Mariah Carey.
O artista pop parecia deslocado do um line-up nostálgico, mas conquistou o público ao dar um show de simpatia e talento no palco.Com as pulseiras que acendiam ao comando da produção, os fãs curtiram sucessos como Señorita, gravado com a ex-namorada Camila Cabello, e Stitches. Para criar uma conexão com o público, Mendes repetiu, por vários momentos, “te amo”. O “muito obrigado” clássico de gringos no Brasil também foi dito pelo astro teen algumas vezes.
Os pontos altos do show de Shawn Mendes ficaram para o momento em que cantou Señorita e quando fez uma releitura de Mas que nada, música nacional popularizada por Sérgio Mendes. Outro grande momento com o público foi quando tirou a camisa timidamente e aos risos, obedecendo o pedido da plateia, que reagiu muito bem. A impressão é de que até quem torceu o nariz para um headliner teen no dia da nostalgia tinha se rendido a simpatia do canadense.