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Sepultura sobre novo disco: "foi como escrever nossa biografia"

22 jun 2011 - 17h11
(atualizado às 17h25)
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David Shalom
Direto de São Paulo

Em 25 anos, o Sepultura entregou aos seus fãs a abordagem mais agressiva possível dos temas mais diversos. Falou sobre satanismo, conflitos territoriais, segregação racial, injustiça social. Contudo, em seu novo álbum, Kairos, com lançamento mundial previsto para esta sexta-feira (24), a banda aborda pela primeira vez seus próprios demônios. "É como se a gente tivesse escrito nossa biografia do dia 1 até hoje", explicou o guitarrista Andreas Kisser ao Terra no último dia 6 de junho, quando a imprensa paulistana foi convidada para conferir a audição do novo trabalho do grupo em um pub localizado na região central da cidade. "Falamos da nossa relação com a família, com o palco, com a própria banda, os fãs, a imprensa, advogados, empresários, enfim, tudo aquilo que faz parte da nossa vida".

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A banda, fundada em 1984 em Belo Horizonte, achou que era chegada a hora de escancarar seus sentimentos em relação a tudo o que ronda a sua história, influência dos anos posteriores à saída do vocalista Max Cavalera e, mais tarde, de seu irmão, o baterista Igor, substituído por Jean Dolabella. "Nós pensamos que a melhor forma para responder às perguntas que vínhamos recebendo, sempre repetitivas, seria com nossa música", disse Derrick Green, há mais de uma década no posto de frontman do Sepultura, justificando ser entediante falar sobre as polêmicas iniciadas depois de ter se juntado à banda. "Queríamos mostrar isso dessa forma poderosa, que é o que fazemos melhor".

Em 15 faixas - dez canções e cinco sombrias introduções -,Kairos traz o mesmo Sepultura agressivo de sempre, caminhando entre o thrash, o heavy metal mais tradicional e o estilo de música mais alternativa, mas focado em letras que soam como um grito raivoso de desabafo contra todas as críticas da imprensa e de parte do público que têm pautado seus anos mais recentes.

Andreas falou sobre a escolha da temática demonstrando claro ressentimento com o status que o grupo foi ganhando desde a saída de Max, o de uma ex-banda em atividade. Para ele, as pessoas costumam ser injustas com o Sepultura, pois a troca de integrantes é a coisa mais comum de se ocorrer no meio musical. "Parece que somos a única banda que mudou de membro. A gente escuta muito, 'Cavalera isso, Cavalera aquilo', que não somos mais o Sepultura. Mas, cara, o Sepultura é o que é", disse, classificando o processo de composição como a melhor forma possível de terapia para o grupo. "Foi nossa oportunidade de expressar esses sentimentos. É melhor do que ficar vendo psicólogo para achar problema onde não tem".

Produção

O novo disco segue a mesma linha dos últimos dois trabalhos do quarteto, ambos integralmente conceituais - Dante XXI (2006), baseado na Divina Comédia do escritor italiano Dante Alighieri, e A-Lex, sobre o livro que originou o filme de Stanley Kubrick A Laranja Mecânica. A diferença foi o foco de inspiração. "A gente expressou a história dos dois através dos personagens e em Kairos fazemos a mesma coisa, só que agora os personagens somos nós".

A produção ficou a cargo do renomado Roy Z, responsável por discos de grandes nomes como Bruce Dickinson, Glen Hughes e Rob Halford - que, quando não está em turnês com o Judas Priest, cai na estrada com o produtor no posto de guitarrista. Para Kisser, essa experiência de shows foi decisiva para a escolha do norte-americano. "Além do know-how que ele tem como produtor, de entender tecnologicamente como funciona essa área, ele ainda conhece o melhor dos dois mundos. Não é um músico frustrado que foi para o estúdio e só trabalha com música dessa forma. A gente queria trazer os palcos para o estúdio e ele foi fundamental para isso".

O processo de divulgação para Kairos alçar o quarteto de volta ao topo tem sido semelhante ao que muitos grupos enfrentam no início da carreira. Em um mês e meio - entre abril e maio -, a banda realizou 41 shows na América do Norte, quase um por dia, e tem mais 37 apresentações confirmadas até agosto na Europa. "É o momento necessário de fazermos isso", explicou o baixista Paulo Jr. "Estamos sacrificando este momento para fazer essas turnês meio loucuras para que, no futuro, possamos ter mais controle da situação. É o momento para restabelecer algo que já restabelecemos várias vezes, mas que você precisa estar sempre provando (às pessoas)".

Techno-metal

Mas talvez a maior curiosidade que os fãs encontrarão no novo álbum não sejam os desabafos de suas letras. Ao menos os brasileiros. É que Kairos chega às lojas do País com um cover inusitado: Firestarter, do trio britânico de música eletrônica Prodigy. E Derrick Green tem na ponta da língua a resposta para quem questioná-lo sobre a escolha. "Danem-se", berrou às gargalhadas, "por que não o faríamos?".

O vocalista explicou que a escolha da canção foi pautada por uma lógica, a de tratar exatamente daquilo que é abordado em todo o álbum: não dar a mínima ao que as outras pessoas pensam. "Nós temos várias influências de estilos diferentes e essa música tem toda a energia que transcorre por Kairos. Outra das razões que optamos por fazer isso foi que o Prodigy não é uma banda de metal e é muito legal gravar algo com o qual as pessoas estão familiarizadas, mas não necessariamente no mesmo estilo de música".

Andreas Kisser, Paulo Jr, Derrick Green e Jean Dolabella nos Estúdios Trama, em SP
Andreas Kisser, Paulo Jr, Derrick Green e Jean Dolabella nos Estúdios Trama, em SP
Foto: Estevam Romera / Divulgação
Fonte: Terra
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