Shows em drive-ins tentam conter crise durante pandemia
Com a proibição de aglomerações devido a pandemia, empresas do ramo de entretenimento buscam soluções criativas para crise no setor
Lollapalooza, João Rock, Virada Cultural, festa junina… O ano de 2020 tem sido, até agora, um ano perdido para a indústria de entretenimento. Com o adiamento de todos os eventos que envolvem aglomeração de pessoas e a incerteza até mesmo sobre o réveillon e o carnaval de 2021, o setor vive uma crise sem precedentes.
Segundo dados da Abrape (Associação Brasileira de Promotores de Eventos), mais de 3 milhões de profissionais da área podem ficar sem trabalho. A estimativa da entidade é que até outubro cada empresa associada tenha um prejuízo médio na ordem de R$ 3,1 milhões.
A primeira solução para o rombo foram as lives. Das superproduções sertanejas a formatos mais enxutos de artistas independentes, passando por festivais de música totalmente onlines, a causa foi abraçada por patrocinadores, e iniciativas solidárias reverteram fundos captados para profissionais do entretenimento que perderam seus trabalhos. E, por um algum tempo, deu certo.
Mas a verdade é que as pessoas se cansaram das lives. Com a extensão inesperada da quarentena e a consequente impossibilidade de realização de eventos, o jeito foi inovar. E a solução parecia estar num costume lá das décadas de 50 e 60: os drive-ins. No Allianz Parque, em São Paulo, todos os eventos musicais programados, para até 19 de julho, estão com ingressos esgotados. Sucesso de público.
No show do rapper Marcelo D2, aplausos foram substituídos por buzinas.
Como funciona
No Allianz Parque, em São Paulo, o Arena Sessions oferece uma programação variada no formato drive-in. De filmes a shows de artistas consagrados, o público tem a opção de curtir entretenimento na segurança de seu carro. O preço? Até R$550 por carro, que pode conter no máximo quatro ocupantes. Considerando a capacidade de 285 carros na arena, o público pode chegar a 1140 pessoas por show. Mas é seguro frequentar esse tipo de evento durante uma pandemia?
Segundo Marcio Flores, diretor de marketing e inovações do Allianz Parque, a arena respeita todos os protocolos de segurança dos governos do Estado e do município, além de tomar medidas adicionais. Todos os presentes devem ter a temperatura corporal aferida, com resultado abaixo de 37,5 graus. Os carros devem manter uma distância de segurança entre si e, para a utilização dos banheiros, o público deve enviar a solicitação para um número de WhatsApp, no qual um concierge virtual direciona a pessoa para um dos pontos de encontro localizados nas laterais do gramado. Tudo isso para minimizar o contato e as aglomerações entre os presentes. Novo normal?
Os aplausos foram substituídos por buzinas. Os isqueiros e luzinhas de celular em canções mais emocionantes, pelo farol. Até a fila do bar para pegar uma bebida foi substituída por um aplicativo de celular que permite que um funcionário do evento leve seu pedido diretamente à sua janela. Nesse esquema, se apresentaram artistas como Anavitória, Belo, Marcelo D2 e Jota Quest.
Show da banda mineira Jota Quest em formato de Drive-in no Allianz Parque.
Feedbacks positivos e bilheterias esgotadas
“Os resultados têm sido ótimos! Tivemos o apoio e patrocínio de marcas importantes no cenário brasileiro para viabilizar o projeto. Além disso, temos um retorno de imagem com repercussão de mídia significativa. E, por fim, a avaliação da diversidade de conteúdos que estamos trazendo tem gerado feedbacks muito positivos e bilheterias esgotadas.” afirma Marcio Flores.
Nas mídias sociais, todavia, os comentários são diversos. O cantor Nando Reis, por exemplo, recebeu críticas em suas redes por realizar um show no modelo drive-in durante o pico de infecções da pandemia do novo coronavírus. Em resposta, sua equipe se manifestou no Twitter afirmando que a realização do evento permitirá que pessoas que estão há mais de quatro meses paradas possam ser remuneradas pelo serviço prestado, e que em nenhum momento houve descaso do artista com a situação comovente pela qual passa o país.
Para a redução do impacto econômico no mercado, a Sympla, maior plataforma online de eventos da América Latina, trouxe o projeto “Sympla Streaming”. De acordo com Tereza Santos, diretora de serviços da empresa, o serviço é uma ferramenta de transmissão online que já possui mais de 2 mil eventos cadastrados, com crescimento diário desde seu lançamento. Com isso, o produtor pode vender ingressos pela plataforma e realizar seu evento remotamente.
Seja por meio dos drive-ins ou da realização de eventos online, como é o caso da CCXP, maior evento de cultura geek do Brasil que terá sua edição 2020 completamente virtual, a situação não é nada animadora para os profissionais do entretenimento. Só no mercado informal, há cerca de 5 milhões de prestadores de serviço atuando no setor, afirma o presidente da ABRAPE, Doreni Caramori. Ao que tudo indica, o “novo normal” não deve passar até a chegada de uma vacina contra o coronavírus.
Até lá, só podemos esperar. E, se for de seu interesse, aperte os cintos, estacione o carro e feche os vidros para ver seu artista preferido no drive-in mais próximo de você.