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'Shows só irão voltar em 2022', diz Fernando Altério, empresário de entretenimento

CEO da T4F fala ao 'Estadão' sobre o fechamento de uma das maiores casas de espetáculos do País, o UnimedHall, e anuncia novo adiamento do festival Lollapalooza

31 mar 2021 - 18h34
(atualizado às 21h22)
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A produtora T4F informou na tarde desta quarta, 31, por meio de suas redes sociais e de anúncios publicados em grandes jornais, como o Estadão, o fechamento da casa Unimed Hall, antigo Citibank Hall e, antes, Credicard Hall. Ela era uma das maiores e principais casas de shows da América Latina, inaugurada em 1999 com um show de João Gilberto. O empresário Fernando Altério, CEO e maior acionista da empresa de entretenimento que comanda o espaço, a T4F, escreveu uma carta dramática. "Quantas histórias vivemos no UnimedHall. Quantas memórias criamos juntos. Quantos sorrisos e lágrimas de emoção vimos de perto. Quantos sentimentos", colocou. "Fecham-se as cortinas de mais um palco no País, mas com a certeza de que marcamos época e passamos a fazer parte de muitas histórias - não só da música, mas da cidade, do país e da vida de cada pessoa que esteve ali".

Altério, em entrevista ao Estadão, falou do que o levou a decretar o fim de uma casa que, em 23 anos de existência, abrigou mais de 3,5 mil apresentações para um público estimado de 12 milhões de pessoas. "Quando veio o primeiro fechamento, em março de 2020, fizemos um corte importante, mas imaginamos que aquilo duraria uns seis meses. Com essa terceira onda, sabemos que só teremos o setor de shows normalizado em 2022. Não dava mais para segurar. Só de IPTU, sem falar em outros valores maiores, como o aluguel, pagamos R$ 100 mil por mês." Ele diz que, mesmo quando vierem os primeiros tempos de retomada, a desvalorização cambial que leva à alta do dólar mina as possíveis transações com os cerca de 20% a 30% das atrações internacionais da casa.

O festival Lollapalooza, que estava previsto para ser em setembro de 2021, não será mais neste ano. "Ainda estamos discutindo qual o melhor momento para o ano que vem, por isso não havíamos anunciado. Aliás, estamos convencidos de que vai ser impossível realizar qualquer evento em massa até o ano que vem. Não faremos nada mais em 2021 que tenha essas características." Sobre um possível acordo com os proprietários do espaço que abriga o UnimedHall, uma formato que interromperia o pagamento dos aluguéis até que os negócios voltassem ao normal, já que ninguém deve alugar a estrutura gigante na Avenida das Nações Unidas, Altério diz não acreditar que seja possível. "Se o espaço estiver ainda vago, é possível. Mas, não acredito. Ao mesmo em que existe essa crise, existe também um aquecimento do mercado imobiliário. Acredito que aquela área vá se tornar um grande complexo imobiliário."

A respeito de uma condução política voltada ao setor do entretenimento, Altério diz que faltou ao governo o mesmo cuidado dispensado a setores como o das empresas áreas. "Ao mesmo tempo em que perdemos 90% de receita, como mostra um balanço publicado nesta quarta (30), uma perda brutal, as aéreas tiveram uma baixa que, calculo, tenha sido entre 40% e 45%. E elas tiveram facilidades como linhas de crédito vantajosas junto ao BNDES. Não tivemos esse benefício."

O empresário acredita que o retorno das atividades do entretenimento de massa será "parcial e lento". "Só ao calcularmos o tempo mínimo de quatro semanas em que devemos ficar em cada uma das fases decretadas pelo governo estadual, e eu não sou contra elas, sabemos que essa volta vai demorar." Um dos cenários estudados para a pós-vacinação aponta que as casas não deverão ter seus ganhos recuperados com rapidez. Isso porque as pessoas já se perguntam se, mesmo com a vacina, haverá o "sentimento de segurança" para que as aglomerações sejam retomadas.

Mas há também uma outra corrente, da qual Altério faz parte, que acredita no oposto deste comportamento. O fato de estarem vivas e vacinadas, e com uma demanda reprimida de ao menos dois anos, deverá fazer com que as pessoas tenham um momento de procura explosiva. "A retomada será aquecida por causa dessa demanda." Ele aponta um outro fator técnico. Os artistas, sem viajar há mais de um ano para realizarem shows em outros países, estarão disponíveis em uma grande quantidade. "Muitos deles já assumiram que não irão voltar à estrada em 2021, só em 2022. Ou seja, esse oferta de nomes combinada com a demanda reprimida pode criar um momento de muito aquecimento no mercado em 2022." Até lá, Altério diz não ter tempo de chorar pelo que foi perdido. Ele adianta que a empresa tem agora o desafio de mudar o eixo de seu prumo. Vai preservar a realização presencial dos musicais da Broadway quando for possível, mas passará a investir mais em conteúdo digital. Uma nova plataforma de venda de tickets acabou de ser adquirida pela empresa. "Vamos sair mais fortes do que entramos nessa crise."

Estadão
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