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Nego Di posta fake news, ofende Janja e ataca Estado durante enchentes no RS

Ex-BBB é condenado pela Justiça a apagar postagens mentirosas sob pena de R$ 100 mil por dia e faz live dizendo que querem censurá-lo

11 mai 2024 - 03h05
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Foto: Instagram/Nego Di / Pipoca Moderna

O ex-BBB Nego Di, que foi eliminado com rejeição histórica no "BBB 21", sofreu uma variação intensa de avaliação nas redes sociais na última semana. Inicialmente saudado pelos esforços de ajuda humanitária durante a inundação da cidade de Porto Alegre, ele logo mudou seu foco de ação, publicou vídeos grotescos de pessoas mortas e passou a espalhar fake news para atrapalhar o trabalho do governo no apoio às vítimas das enchentes. Não contente, ainda usou uma palavra de baixo calão para ofender a primeira-dama Janja da Silva, que viajou a Porto Alegre levando doações. Com isso, seu nome foi parar nos tópicos mais comentados do X (antigo Twitter) na sexta-feira (10/5).

Justiça age contra fake news

Foi nesta data que a juíza Fernanda Ajnhorn, do plantão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, determinou em decisão liminar que a Meta, responsável por Facebook e Instagram, exclua publicações do influenciador que questionam, sem provas, a atuação do Estado em ações de socorro às vítimas da tragédia climática. A magistrada atendeu a um pedido apresentado pelo Ministério Público. Embora o nome do alvo da ação não tenha divulgado, o jornal gaúcho Zero Hora apurou que se trata de Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di.

Nego Di afirmou, sem provas, que o governador Eduardo Leite e a Brigada Militar estariam impedindo que barcos e jet skis privados realizassem salvamentos e resgates na região de Canoas. A alegação seria suposta ausência de habilitação dos condutores para esse tipo de veículo. Checagem realizada pela Agência Lupa apontou postagens desse tipo como conteúdo falso.

Antes disso, ele já tinha compartilhado imagens de cadáveres boiando, que seriam de inundações antigas. Uma imagem foi identificada como sendo de uma tragédia no Rio de Janeiro.

Não contente, o humorista profissional compartilhou um vídeo em que um homem afirma que as doações de mantimento estavam paradas no Rio Grande do Sul, enquanto o povo passava necessidades. Ele publicou um vídeo de um galpão onde os mantimentos estão sendo armazenados e exigiu explicações do governador Eduardo Leite.

As acusações, sobre jet skis, cadáveres e mantimentos, geraram grande repercussão, alimentando uma rede de perfis especializados em disseminar pânico e colocar em dúvida a atuação do poder público na crise gaúcha - a maioria desses perfis, por coincidência, é identificada politicamente com o bolsonarismo.

Desmentido por voluntário

O vídeo dos mantimentos foi rapidamente desmentido por um voluntário que trabalhava no depósito apontado como paralisado. O rapaz logo desmascarou Nego Di, mostrando que nada do que ele tinha divulgado era verdade. Além de mostrar prateleiras vazias, o rapaz gravou diversos outros voluntários trabalhando incansavelmente para organizar os mantimentos e expedi-los para os abrigos de refugiados do clima.

"O vídeo foi gravado aqui, de onde não estava sendo feito nada. Mas esse cara está mentindo! Quando foi gravado, os voluntários estavam lá trás separando as coisas… Aqui é feita a triagem, ou seja, é preciso separar as coisas. Reparem que já saiu quase tudo. Ali ao lado, que ele não mostrou, tá um mutirão. A galera está carregando as coisas", disse o denunciante da fake news, mostrando tudo.

O rapaz ainda explicou que a distribuição precisa ser feita de uma maneira ordeira para que as doações cheguem corretamente a seus destinos. "Não tem como doar sem distribuir dessa forma organizada… Já aqui, chegam os carros para carregar. Essa água vai para Eldorado, mas vai através de aeronave porque não tem como chegar lá de carro. Nessa parte é onde os caminhões entram para carregar com cestas básicas", contou.

Decisão judicial e defesa

A decisão judicial da sexta-feira afirma que Nego Di não pode mais fazer publicações deste tipo, sob pena de multa no valor de R$ 100 mil, além de ter que remover tudo o que já publicou.

Para a subprocuradora-geral de Justiça para Assuntos Jurídicos, Josiane Camejo, "a desinformação gera o caos e desestimula o engajamento da população no enfrentamento da crise". Esse ponto foi corroborado na decisão da magistrada. "A disseminação de informações inverídicas, sem embasamento na realidade sobre a atuação estatal, atrapalham o delicado trabalho de socorro, gerando incerteza e insegurança à população, com potencial de desestimular a ajuda da sociedade civil", afirmou a juíza Fernanda Ajnhorn.

Em defesa de Nego Di, o advogado Hernani Fortini explicou que "o intuito das postagens era pressionar o ente público a realizar as devidas correções. Felizmente, se verificou que as situações denunciadas foram corrigidas ou melhor orientados os servidores na linha de frente".

A defesa ainda diz que "será debatido nos autos a competência do Ministério Público para ingresso da referida demanda, bem como a inexistência de respaldo legal" para pedir a liminar contra as publicações.

Ofensa misógina contra Janja

No meio dessa disseminação de fake news, Nego Di ainda decidiu proferir xingamentos contra a primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva. Numa publicação no X, o ex-BBB disparou contra a esposa de Lula: "Essa aqui é puta de carteira assinada". A publicação rapidamente ganhou uma grande proporção nas redes sociais, gerando a indignação do público, e acabou deletada.

O ator José de Abreu foi um dos indignados. Numa postagem no X, o artista se mostrou interessado em processar o influenciador. "Nego Di chamando Janja de 'puta com carteira assinada'. Tenho print. Algum advogado pode tomar providências ou tem que partir dela?", perguntou.

Foi a segunda ofensa misógina de Nego Di contra uma mulher envolvida no esforço do governo federal para ajudar o Rio Grande do Sul. Na última terça-feira (7/5), o ex-BBB publicou um vídeo criticando a Ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, chamando-a de "idiota, burra, anta e merda".

Live contra o Estado

Alheio ao escândalo, Nego Di fez uma live no Instagram durante a madrugada de sábado (11/5) para dizer que está "no melhor momento da minha vida" em meio à tragédia, porque tem o povo ao seu lado.

Na postagem, ele garantiu que não faz fake news, nem ele nem todos os gaúchos, colocando-se na posição de porta-voz da população, e ainda acusou o governo de tentar censurá-lo. "O governo tá batendo na gente, tentando nos calar, porque estamos pedindo socorro", afirmou. Em seguida, mostrou sua equipe, puxando gritos em tom de insurreição civil que repetiam: "Quem é que tá salvando o povo? É o povo".

"É o povo, não é o governo que tá salvando. E eu não tô louco nem espalhando fake news", ele garantiu, exaltado.

O slogan "o povo pelo povo", que renega o papel do Estado na ajuda humanitária no Rio Grande do Sul, foi disseminado por seus seguidores durante a transmissão.

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