Script = https://s1.trrsf.com/update-1742912109/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

One to One: John & Yoko é um dos filmes dos Beatles que você precisa ver

Documentário acompanhar os anos de 1971 a 1973, um dos períodos mais polarizados de um dos casais mais controversos da cultura pop

11 abr 2025 - 17h43
Compartilhar
Exibir comentários
None
None
Foto: John Lennon e Yoko Ono ( Divulgação/Magnolia Pictures) / Rolling Stone Brasil

Um candidato à presidência que apela para a insatisfação da população branca é quase assassinado. Uma mulher negra se candidata à presidência. Uma grande ameaça de deportação paira no ar. As pessoas vão às ruas protestar contra bombardeios e genocídios. Esses acontecimentos lembram muito os dias modernos. Mas, na verdade, fazem parte do mundo pós-Woodstock do início dos anos 1970 retratado em One to One: John & Yoko

Dirigido por Kevin MacDonald, o documentário se atreve a acompanhar um dos períodos mais polarizados de um dos casais mais controversos da cultura pop. É o tipo de filme que você achava que não queria, mas que acaba sendo um dos poucos produtos recentes dos Beatles que você realmente precisa.

Nos últimos anos, fomos inundados por esse tipo de conteúdo da banda, alguns deles memoráveis, outros dispensáveis. One to One não é tão revelador quanto Get Back (2021), a obra-prima de Peter Jackson sobre a gravação do álbum Let It Be, mas serve como uma espécie de sequência. Abrangendo os anos de 1971 a 1973, é uma montanha-russa cinematográfica sobre o período em que Lennon e Ono deixaram a Inglaterra para viver no centro de Nova York, trocando uma propriedade luxuosa por um apartamento no West Village.

A separação legal dos Beatles havia acabado de começar, e Lennon é ouvido dizendo em uma das muitas gravações telefônicas do filme: "Eu quero ser eu agora." Era na Nova York do início dos anos 1970 onde ele queria florescer. Começando com uma recriação do aconchegante e um tanto bagunçado apartamento de Lennon e Ono, que parece mais uma casa de colegas de faculdade desleixados do que a de um dos músicos mais famosos do mundo, One to One é uma janela para a caótica mistura entre fama no rock, política radical e arte de contracultura.

O casal havia experimentado essa confluência enquanto ainda estava na Inglaterra, raspando o cabelo em 1970 e doando as mechas para um leilão em benefício de uma casa para crianças com deficiência. Mas eles mergulharam de cabeça nessa vida durante seu tempo em Greenwich Village. Os frutos artísticos desse período — o álbum irregular e orgulhosamente agressivo Sometime in New York City — não eram muito saborosos. Mas o cenário que se desenrolou ao seu redor é mais divertido do que parte da música que fizeram naquela época.

Por meio de gravações de entrevistas e ligações telefônicas (feitas por Lennon preocupado em ser importunado pelo FBI, pelo departamento de imigração ou ambos), One to One nos dá uma visão única do mundo pós-Beatles de John e Yoko.

Eles podem estar vivendo em um apartamento comum com uma televisão colocada logo além do pé da cama para não precisarem se levantar para assisti-la, mas ainda são estrelas do rock, celebridades com caprichos e queixas próprias e mais do que um senso de obrigação.

Em uma ligação, Ono reclama para um amigo que Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr continuam a evitar dar qualquer reconhecimento a ela ("Isso é machismo!"). Outras chamadas são hilárias, como quando o manager briguento Allen Klein tenta convencer Lennon a não cantar uma nova música, "Attica" (sobre o famoso motim na prisão), em um evento beneficente para o ativista John Sinclair, em vez de um dos seus sucessos.

Em uma espécie de piada recorrente, Ono é ouvida chamando associados e exigindo que eles reúnam milhares de moscas vivas para uma exposição na galeria. Esses trabalhadores, incluindo May Pang, futura namorada de Lennon, são ouvidos correndo para encontrar os insetos a tempo da inauguração. (Alerta de spoiler: eles conseguem, e vemos os resultados.) Um filme inteiro dessas conversas gravadas seria uma incrível exposição de arte performática por si só.

Sim, também há música. One to One recebe seu título de um raro concerto que Lennon, Ono e sua banda de apoio Elephant's Memory tocaram em Nova York em 1972. O show foi um evento beneficente para Willowbrook, um lar para crianças e adultos com deficiência. A maior parte das filmagens ao vivo já havia aparecido antes no álbum póstumo Live in New York City e em vídeos caseiros nos anos 1980. Mas rever o último concerto completo de Lennon em na telona é outra experiência completamente diferente.

Yoko Ono e John Lennon protestam contra a Guerra do Vietnã
Yoko Ono e John Lennon protestam contra a Guerra do Vietnã
Foto: Frank Barrett/Keystone/Hulton Archive/Getty Images / Rolling Stone Brasil

Acompanhando o músico, o Elephant's Memory soa mais forte e coeso do que sua lenda sugere. Nos closes de Lennon ao piano cantando "Mother", cada linha da canção sobre sua mãe falecida parece atingi-lo mais forte do que a anterior. Essa canção e uma versão feroz de "Come Together" fazem você perceber qual tragédia foi o fato de John, ao contrário dos outros  do Fab Four, nunca ter feito uma turnê solo completa durante sua vida.

Mas One to One é tanto sobre seu momento na história quanto sobre John e Yoko. Imitando o bombardeio das notícias da TV que Lennon e Ono assistiam incessantemente, MacDonald alterna a linha do tempo da vida do casal com imagens das notícias (o tiroteio do governador do Alabama e segregacionista George Wallace durante uma parada eleitoral presidencial; a congressista democrata Shirley Chisholm fazendo história como a primeira mulher negra a buscar a indicação presidencial do seu partido) e comerciais superficiais, muitas vezes sexistas, para produtos de limpeza e carros.

O sonho do idealismo dos anos 1960 acabou: Como Ono diz a uma amiga em uma chamada: "O poder das flores não funcionou, mas e daí — estamos começando novamente." Mas é um reinício falho, com certeza. Ouvimos enquanto pedem para Lennon participar de todo tipo de concertos beneficentes, e ele e Ono começam a conviver com uma multidão rebelde que inclui David Peel e Jerry Rubin, co-fundador do Partido Internacional da Juventude, cujo amor pelo palco rivaliza com qualquer roqueiro em arenas.

Em 1972, Lennon e Rubin têm uma ideia para uma turnê na qual as vendas dos ingressos seriam destinadas ao pagamento da fiança de prisioneiros políticos injustamente encarcerados. A ideia é tanto generosa quanto meio maluca; ouvimos quando eles quase conseguem convencer Bob Dylan a participar (por meio de intermediários; não Dylan pessoalmente). Ono liga para o notório A.J. Weberman — visto revirando latas de lixo na frente do apartamento do músico — para pedir que ele dê um tempo e pare de deixar Dylan assustado. Ele concorda, mas no final Dylan desiste e toda a turnê desmorona.

Não muito depois desse fiasco, Lennon e Ono vão para o prédio Dakota em Manhattan. A mudança da parte suja do centro para uma parte mais estilosa agora parece duplamente simbólica. Mesmo eles parecem cansados dessa brincadeira revolucionária com retornos cada vez menores. E dado o esmagador resultado eleitoral favorável a Richard Nixon em 1972, quem pode culpá-los?

O filme tem um final feliz, por assim dizer: Lennon supera uma tentativa da equipe Nixon para deportá-lo, e o bebê Sean logo entra na vida do casal. Mas uma dica assustadora sobre o futuro chega quando Lennon está conversando com o baterista Jim Keltner sobre preocupações relacionadas àquela turnê abortada do dinheiro da fiança: "Você quer dizer pessoas tentando nos matar ou algo assim?" diz. "Não estou disposto a me deixar levar."

Todos nós sabemos o que veio logo depois disso; primeiro para o músico e agora para o país. Mas mesmo em seus momentos mais loucos ou paranoicos, John Lennon provavelmente nunca imaginou totalmente que os EUA de 1972 antecipariam o país mais de 50 anos depois.

Artigo publicado em 11 de abril de 2025 na Rolling Stone. Para ler o original em inglês, .

+++LEIA MAIS: Yoko Ono revisita relacionamento com John Lennon em novo documentário: 'Desejaram minha morte'

+++LEIA MAIS: Sean Ono Lennon defende o amor de John por Yoko no álbum Mind Games de 1973

+++LEIA MAIS: Yoko Ono 'nunca superou' relacionamento com John Lennon, diz filho

Rolling Stone Brasil Rolling Stone Brasil
Compartilhar
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se
Publicidade
Seu Terra












Publicidade